quinta-feira, 30 de agosto de 2012

COMUNITARISMO SEPARATISTA OU COMUNISMO ANARQUISTA?




Texto publicado em KAOS #4. 11/1998 (boletim aperiódico e experimental do Grupo Autonomia).

Organizações supostamente revolucionárias, de diversas linhagens e tendências, freqüentemente empregam o termo "comunista" para denominar realidades sociais muito diferentes e até incompatíveis entre si. Tais diferenças de opinião têm servido habitualmente para deflagrar polêmicas tão ferozes quanto inúteis, nas quais se engalfinham os seguidores de todas as seitas políticas, justificando-se reciprocamente na feroz perseguição de seus respectivos dissidentes. De um modo geral, a teoria da práxis revolucionária utiliza o vocábulo "comunismo" para designar o processo histórico-universal, o movimento no sentido da auto-instituição revolucionária de um agrupamento humano complexo, fundado em profundas e eficazes, posto que orgânicas, relações sociais entre seus membros, que compartilham um existência radicalmente comunal, em escala planetária

Contudo, hoje e sempre, nada impede que indivíduos se agrupem em pequenas comunidades, separadas e/ou isoladas da sociedade global, pma vez que tenham reunido as condições mínimas para sobreviver e se reproduzir coletivamente. Assim( por exemplo, o finado movimento hippie acumulou inúmeras experiências mais ou menos duráveis de vida comunitária que, no sentido lato e com alguma benevolência, talvez fosse possível chamar de comunistas. Ou, mais exatamenpe, "comunistas primitivas", por rejeitarem completamente as técnicas e recursos existentes na sociedade capitalista circundante. Na prática, porém, a questão é: quanto mais a comunidade repudia os meios e instrumentos disponíveis, tanto maior será a quantidade de trabalho exigida para a mera sobrevivência, limitada e empobrecida, de seus membros.

Cabe ressaltar que essa comunidade – incluída, queiram ou não os seus membros, no espaço de soberania de uma sociedade mais vasta, urbana e mercantil, ou seja: capitalista – estará sempre confrontada a uma vizinhança hostil, formada pelos indivíduos (eleitores, cidadãos, contribuintes e consumidores) que optaram pela ilusória segurança da sociedade englobante, além da costumeira intromissão da polícia, dos assistentes sociais e outros zelosos funcionários do onipresente aparato estatal. Se considerarmos as inúmeras dificuldades objetivas – para não falar das subjetivas, entre as quais a mais difícil de superar seja a mentalidade egocêntrica e impregnada de valores burgueses da maioria das pessoas, incluídas as que se julgam revolucionárias e optaram voluntariamente pela experimentação comunitária – é extremamente improvável que a comunidade dure mais do que o tempo necessário a para sua instalação.

Há quem tente argumentar, tomando por base hipóteses etnológicas segundo as quais, historicamente, as primeiras comunidades eram nômades, que o problema estaria no sedentarismo, na territorialização da comunidade. Mas tudo indica que essa distinção (nômade x sedentário) é irrelevante para o tema em questão. O que determina a natureza ou o caráter de uma comunidade são as relações estabelecidas (mais ou menos livre e conscientemente) entre as pessoas que a compõem. Atualmente, o capital exerce a dominação total, ou seja: todas as sociedades são capitalistas. O capitalismo se mantém e se reproduz ampliadamente mantendo e reproduzindo, por sua vez, ampliadamente a divisão e a fragmentação, ou seja, a alienação da humanidade. Divisão em classes sociais, sexos, raças, etnias, nações, etc., e até mesmo no interior da estrutura psíquica dos indivíduos, esquizofrenizando-os. Portanto, almejar séria e concretamente uma sociedade comunista implica o compromisso efetivo com a revolução social total (cultural, antipolítica e antieconômica, destruição criadora necessariamente violenta e armada).

O comunismo que queremos e pelo qual lutamos exige a completa destruição do capitalismo e de todas as formas de alienação: classes sociais, propriedade privada, a produção de mercadorias, o dinheiro, etc. Repudiamos a pseudo-solução autogestionária – que além de escamotear teoricamente a indispensável revolução proletária, visando a inviabilizá-la na prática, defende a administração das empresas pelos trabalhadores –, pois esta nada mais é do que a gestão operária da exploração capitalista.


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