quinta-feira, 30 de agosto de 2012

CONTRA AS CIMEIRAS E ANTICIMEIRAS II




Tudo isso nada tem a ver com uma internacional revolucionária contra o capital, cujo ABC seria, pelo contrário, colocar em evidência o papel que jogam a direita e a esquerda do capital; demonstrar que atacar o Fundo Monetário Internacional sem atacar seus complementares da ATTAC contribui em últimas instância para fortalecer o inimigo do proletariado; que só tem sentido falar de internacional revolucionária a partir de uma prática organizada fora e contra as manifestações socialdemocratas. A internacional revolucionária de que necessita o proletariado para triunfar contra o capital não pode nunca ter a pretensão de atacar o capital enfrentando só uma fração dele, pois isso não faz mais do que fortalecê-lo a longo prazo.

Sim, é claro, que se trata de definir os objetivos da maneira mais precisa possível. Trata-se de afirmar a luta do proletariado contra o capital e o estado sem esquecer a socialdemocracia, que é a parte dele especialmente destinada para nos domesticar. Encontramos grupos proletários em Seattle, Praga, Buenos Aires... que levantam este tipo de palavra de ordem, mas a falta de autonomia política e organizativa do proletariado faz reaparecer, inclusive nos setores em ruptura, velhas palavras de ordem sindicalistas, que, por mais que cacarejem contra o capital, fazem o seu jogo. O slogan "mais intenso" na tal coluna blue, em Praga, segundo disse Wohlmuth, era: "Contra o capital, trabalho anarco-sindicalista!".

Mais ainda, o que nós proletários necessitamos é desenvolver um associacionismo de classe, afirmar hoje o centro do programa revolucionário, que nada tem a ver com sindicatos (chamem-se anarquistas ou não!), a luta pela revolução proletária internacional, a questão central da luta contra o poder do estado, a luta por sua destruição, pelo poder revolucionário do proletariado, a questão da insurreição proletária, da ditadura contra o mercado e a taxa de lucro. Falar de internacional revolucionária sem esses elementos básicos nos parece não só contraproducente, mas diretamente farsante, e sustentamos que isso só serve a reação. Que alguns façam isso conscientemente e outros queiram dessa maneira fazer avançar a revolução, lamentavelmente não muda as coisas!

Acerca da crítica das falsas rupturas: ruptura proletária contra o centrismo

Antes de continuar a crítica das falsas rupturas, que sempre é importante para nossa classe, devemos voltar a situar esta questão no contexto atual da correlação de forças entre as classes. Em todo esse espetáculo de cimeiras e manifestações coloridas, o proletariado é, como vimos, o principal convidado a aplaudir e marchar nos cortejos oficiais.

Como a impostura é demasiado grosseira, porque quem pretende se situar, com esses espetáculos, na cabeça dos protestos são as mesmas figuras, as mesmas estruturas e os mesmos programas socialdemocratas. E, ainda que consigam domesticar muitos (sempre há e haverá carneiros!), o proletariado ultrapassa e tende, na medida em que se torna autônomo, a se situar totalmente fora e contra essas missas cidadãs.

Mas essa ruptura não se opera da noite para o dia. Todas as afirmações da mesma são ainda parciais, e é essa parcialidade da ruptura de nossa classe que permite a diferentes frações da socialdemocracia reinterpretá-las, recanalizá-las e, sobretudo, impedir que a ruptura seja total. Obviamente, essas frações, que tomam pontos decisivos da crítica comunista e dizem defender a revolução, tentam por todos os meios continuar aferrados ou dependentes sob a palmatória socialdemocrata. Esse é o papel clássico das frações que os revolucionários definem como centristas, porque, apesar de retomarem pontos fundamentais do programa revolucionário, fream o salto de qualidade indispensável que consiste precisamente em se situar fora e contra toda organização capitalista.

Tanto ontem quanto hoje, contra o velho revisionismo e oportunismo da socialdemocracia, que sustentavam que o desenvolvimento do capitalismo seria cada vez mais favorável aos proletários e que, portanto, deveria-se banir a revolução e adotar a evolução (38), se desenvolve o centrismo. Retomando uma crítica proletária contra a socialdemocracia, que opõe ao reformismo aberto essa luta revolucionária contra o capital e o estado, o centrismo atua parecendo assumir as mesmas bandeiras, mas se opõe ao chamamento a constituir um partido à parte, fora e contra a socialdemocracia; um partido contraposto às eleições, ao parlamentarismo, o sindicalismo, o frentismo... e que leve às últimas conseqüências a guerra social contra o capital e o estado. Neste sentido, ainda que o centrismo retome aspectos centrais da crítica proletária, na medida em que não só não leva esta crítica a suas conseqüências necessárias, mas se opõe com todas as suas forças a isso, não deixa de ser parte da socialdemocracia e constitui assim o último baluarte do capital.

Por natureza, o centrismo é oscilante entre as bandeiras revolucionárias que levanta e a política de impedir a ruptura com a socialdemocracia histórica, daí que muitos considerem que se encontram suspensos entre as classes. Mas, na realidade, a política oscilante realizada em nome do proletariado não está, nem pode estar, no meio de nada, mas freia a constituição do proletariado em força e cumpre um função objetivamente contra-revolucionária; constitui de fato uma fração extrema da socialdemocracia.

Nos cenários atuais contra as cimeiras, a necessária ruptura proletária se choca com um conjunto de ideologias presentes em muitos grupos e organizações, que, apesar de falar de luta contra o capital e o estado, impedem a mesma. São essas barreiras centristas que queremos denunciar.

Anticapitalismo? Contra o estado?

Diante da raiva proletária contra as cimeiras e anticimeiras, frente ao caráter ridículo e timorato da crítica da ATTAC e outras estruturas socialdemocratas - que em tudo são cúmplices das outras -, milhares e milhares de proletários, durante essas manifestações (e não apenas aí), opuseram a esta crítica burguesa o ABC da crítica de nossa classe. Dezenas de grupos nos cinco continentes, centenas de folhetos, pedradas, molotovs, panfletos e artigos denunciam as críticas que os socialdemocratas fazem do Fundo Monetário e do Banco Mundial, e contrapõem a elas a luta contra o capital e o estado. Mas não basta dizer que se é anticapitalista para lutar contra o capitalismo, não basta se dizer anarquista ou comunista para lutar contra o estado. Quando se vai ao conteúdo mesmo dessa crítica, pode-se constatar, por um lado, muita confusão no que isso significa e, por outro, uma ideologização de um conjunto de pseudo-rupturas que de fato constitui uma posição centrista que impede a verdadeira ruptura proletária e sua prática insurrecionalista.

Assim, há toda uma moda "anticapitalista"; muitíssimos grupos e organizações se chamam de "anticapitalistas", mesmo que, em sua prática, muitas vezes constatamos que unicamente denunciam as multinacionais, os monopólios, o capital financeiro, o "imperialismo" (39), determinado país ou o Fundo Monetário Internacional e outras instituições similares; o que, na realidade, é um apoio apenas dissimulado da ideologia de humanização do capitalismo da socialdemocracia. O "anticapitalismo" deste tipo tampouco é novo, é também uma velha história socialdemocrata. Desde a época de Marx havia todo tipo de ideologias anticapitalistas, de socialismos, que aquele já denunciava como socialismo burguês e pequeno-burguês. Foi mais tarde que a socialdemocracia teorizou que "o capitalismo, agora, é monopolista e imperialista" (40) e pode justificar desta maneira o oportunismo e o reformismo, contribuindo à guerra imperialista em nome de um capitalismo mais democrático.

Hoje está cheio desses anticapitalistas burgueses, que invariavelmente defendem um estado burguês contra outro. Mais ainda, também aqui vemos frações inteiras da burguesia internacional que sempre apoiaram, com o conto do socialismo, a política capitalista e imperialista do bloco russo, quando não foram diretamente parte do próprio estado russo, e que agora estão tratando de se reciclar. Entre elas se encontram muitos setores esquerdistas que sempre falaram de anticapitalismo, para melhor defender, no confronto imperialista, uma fração contra outra. Por exemplo, na Guerra do Golfo, em suas contradições "com os ianques" , não apoiavam o proletariado, mas o partido baasista, a guarda republicana e Saddam Hussein.

Do nosso ponto de vista, é imprescindível denunciar essas posições como faz, muito corretamente, um folheto difundido no Canadá em abril de 2001, assinado "Libertários": "Mas muito mais insidiosa, porque se encontra próxima de nós, andando no nosso passo, é esta nova tendência para o extremo da cidadanização respeitável: se trata, é claro, de todo esse movimento que se proclama "anticapitalista", "anti-autoritário", "autogestionário" e Tutti quanti. Abaixo o novo anticapitalismo: o capital!"

A essa ala radical, que conhece muito de retórica anticapitalista e maneja bem as declarações de princípios, estaríamos tentados a responder: Continuem tagarelando, papagaios! (41). De fato, eles culpam o capital financeiro, as corporações, é o velho antiimperialismo que volta pela porta dos fundos. O socialismo pueril de ontem se transformou num anticapitalismo de qualidade, complementado por uma exigência de democracia total. Todas as separações capitalistas são magnificadas como identidades reais a salvaguardar e promover (sexo, idade, raça, nacionalidade, papéis sociais ou econômicos, minerais, vegetais e cosmos, a lista é infinita...). Esta ala turbulenta mescla bem timidamente o jargão de seus mais veneráveis mestres, mas só para acusá-los de traição. Além do mais, atua em geral como tropa de choque dos partidos e sindicatos, que por sua vez, se servem deles como espantalhos.

Parece-nos sumamente adequada a crítica que estes companheiros "libertários" realizam da ideologia da afinidade, tal como está na moda atualmente, que, ao invés de impulsionar o proletariado a se unir com base na homogeneidade de interesses, perspectiva e projeto social, fortalece todas as divisões e separações do capital, magnificando-as como identidades reais a salvaguardar: cultura, sexo, raça, idade, região... e até, às vezes, crenças, opiniões, religiões... Até a música da moda pode ser um critério de afinidade, mas o agrupamento com base nisso só pode separar os proletários em células desenvolvidas pela sociedade burguesa, quando do que se necessita é romper com todas essas células e desenvolver uma força homogênea contra o capital (42).

Expressões contraditórias da ruptura proletária

Mas esse "anticapitalismo", tipicamente burguês e esquerdista, coexiste ainda (mesmo que lutemos contra essa coexistência) com uma crítica profunda da socialdemocracia, que denuncia seu papel burguês, que está expressando, bem ou mal, a incipiente e difícil ruptura que o proletariado leva adiante contra a socialdemocracia em escala internacional. Esta ruptura é, evidentemente, dificultada, obstruída, por essa ideologia esquerdista da socialdemocracia, que também está em pleno processo de reciclagem de lixo e se tinge de "anticapitalismo" e "anti-estatismo".

Em alguns casos, as rupturas proletárias são claras e demarcatórias; em outros, encontram-se ainda impregnadas dessa ideologia esquerdista dos anos sessenta e setenta, por onde continua retornando pela porta dos fundos o marxismo-leninismo, o trotskismo, o castrismo, o guevarismo, o antiimperialismo burguês e a conciliação de todo esse coquetel sob a moda de libertário.

Para expressar essa contradição, escolhemos como exemplo o Manifesto dos jovens anticapitalistas contra o Fórum Social Mundial (ver quadro).



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Manifesto dos jovens anticapitalistas contra o Fórum Social Mundial

De Seattle, passando por Washington, Londres, Milão, Melbourne, Seul, Praga, até Nice, uma e outra vez dezenas de milhares de jovens anticapitalistas vêm denunciando, com a ação direta, os grandes monopólios e os organismos internacionais como o FMI, Banco Mundial, OMC, e União Européia. Essas instituições são as responsáveis pela exploração de milhões de trabalhadores, pela destruição do meio ambiente e por colocar milhares de pessoas nas mais baixas condições de pobreza. A denúncia desses jovens anticapitalistas é muito clara quando gritam pelas ruas do mundo que o "capitalismo mata, matemos o capitalismo" e "abaixo o FMI".

Agora, aqui, em Porto Alegre, no Fórum Social Mundial, as ONGs, as burocracias sindicais e as direções de partidos institucionalizados, trocam o conteúdo da luta dos jovens anticapitalistas pela reacionária política de "humanização do capital". Humanizar o capitalismo com os ministros franceses que perseguem imigrantes, que são parte do governo que, junto com a OTAN, bombardeou a Iugoslávia, matando milhares de pessoas e que reprimiu os anticapitalistas em Nice; humanizar o capitalismo junto com os banqueiros e multinacionais; humanizar o capitalismo junto com governos que, como o do PT, continuam pagando a dívida, reprimiram a greve dos professores, no Rio Grande do Sul, e a ocupação do MST [Movimento Sem Terra] a um prédio público federal em Porto Alegre; reprimem, diariamente, os camelôs e os sem-teto em ocupações urbanas portoalegrenses e continuam dando dinheiro às multinacionais.

Na verdade a estrela [se refere à estrela que é o símbolo do PT, Partido dos Trabalhadores, de Lula] que dirige essa prefeitura e governo, que se dizem democráticos e populares, interessados na eleição de 2002, resolveram servir de tubo de ensaio para uma nova forma de gestão do capitalismo sustentada numa socialdemocracia (43) que permite a exploração burguesa e agrada a classe média com encenações de democracia, como o Orçamento Participativo, que visa a impedir o protesto pela cooptação dos movimentos populares. Completam este quadro os demais partidos de "esquerda", que mesmo criticando essa política, capitulam em vez de um questionamento mais contundente.

Humanizar o capitalismo é utópico e reacionário. Por isso, jovens anticapitalistas do Acampamento da Juventude, nos sentimos parte do movimento anticapitalista e solidários com os jovens que, em Davos, denunciam o Fórum Econômico Mundial. E dizemos que: O Fórum Social Mundial é um engodo dos que querem desviar a luta anticapitalista para a política de colaboração de classe e eleições, continuando a aplicação da miséria do capitalismo. Por isso, nós realizamos nossas próprias oficinas encaminhando a construção de uma rede nacional anticapitalista sob o grito de: "Abaixo o Fórum Econômico Mundial, FMI, Banco Mundial e OMC", para os quais o Fórum Social Mundial não é uma alternativa, "Abaixo o Plano Colômbia!", "Viva a Intifada Palestina!", "Não ao pagamento da dívida externa!", "Não às privatizações!".

O capitalismo mata, matemos o capitalismo. Cabe à juventude, os trabalhadores e o povo pobre, anticapitalistas, fiéis ao espírito de Seattle, Nice, Praga e Davos, impedir que a intervenção anticapitalista seja distorcida e utilizada por seus inimigos. (44)

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Tal documento faz uma crítica proletária do Fórum Social Mundial organizado, como vimos, pela socialdemocracia em Porto Alegre. Por toda parte, deixa claríssimo que "outro mundo é possível... slogan dominante na anticimeira de Porto Alegre, só destruindo o capitalismo". Parece-nos muito importante que este ponto decisivo se concretize também na denúncia dos partidos e sindicatos da socialdemocracia, por sua prática social cotidiana repressiva e antiproletária, particularmente dos partidos socialdemocratas brasileiros, como o partido dos Trabalhadores desse Walesa brasileiro que é Lula. Deste manifesto, vale a pena destacar também a denúncia frontal que faz da ideologia, tão presente nas cimeiras e anticimeiras, de humanizar o capitalismo, assim como do fato de que o capitalismo é que mata e que, portanto, é preciso matar o capitalismo.

No entanto, tal manifesto, apesar de constituir uma contribuição à crítica deste mundo (é por isso que o publicamos!), talvez por ser o resultado de um grande número de grupos com programas políticos diferentes, é confuso e denota a falta de ruptura, em outros pontos. Através dos exemplos que damos a seguir, afirmamos a crítica que o proletariado faz e impulsionamos o aprofundamento da ruptura com a socialdemocracia e suas expressões centristas. Tentaremos fazer estas críticas chegarem aos diversos grupos que assinam o texto.

* Não se fala de proletariado contra o capitalismo, mas de "jovens anticapitalistas" (e até de "povo pobre"), o que é uma concessão à moda (e de povo, à socialdemocracia frente populista!).

* Vê o FMI e o Banco Mundial, a OMC e União Européia como responsáveis pela "exploração de milhões de trabalhadores", o que é uma típica concessão ao antiimperialismo e o antimonopolismo socialdemocrata dominante no FSM de Porto Alegre. Não são estas instituições "as responsáveis" pela exploração, como a socialdemocracia quer nos fazer crer, mas o próprio capitalismo, todas as empresas capitalistas, grandes, pequenas ou médias, as burguesias de cada país, sejam estes grandes, médios ou pequenos (45).

* É dito "Viva a Intifada Palestina " e não a luta do proletariado na Palestina contra o capital e o estado. Fala-se como se na Palestina não houvessem as mesmas contradições de classe de todos os lugares, o que, ligado ao ponto anterior, resulta problemático. Essa palavra de ordem na Palestina não é classista; pior ainda, é que ela exalta a burguesia da OLP e dos estados nacionais árabes (como a Líbia). No Brasil ou em qualquer parte do mundo não pode tampouco, e pela mesma razão, ser uma palavra de ordem proletária. Pelo contrário, a mesma favorece à burguesia, assim como seus aliados imperialistas e até a política torturadora de tal região, que também apoia a "Intifada palestina".

* São levantadas palavras de ordem típicas de lutas de frações interburguesas como: "Não ao pagamento da dívida externa" (46), que, como explicamos, é uma negociação entre frações do capital internacional. O não pagamento da dívida externa não alteraria em nada a taxa de exploração e, portanto, não melhoraria o futuro do proletariado. Só beneficiaria à burguesia nacional. São os governos de direita e de esquerda, mais uma vez, que pretendem que nossa miséria se deve ao "nosso estado" e "nossa burguesia" estarem endividados; são eles e toda concepção socialdemocrata que sempre pretendem nos convencer de que a dívida não é dos burgueses, mas do "povo deste ou daquele país".

"Não as privatizações", como se o fato de o capital mudar de mãos aumentasse ou diminuísse a miséria de nossa classe! É a socialdemocracia que sempre sustentou que a estatização do capital melhora a situação da classe operária! Como se nos países onde o capital é juridicamente mais estatal houvesse menos miséria, como sustentam as frações leninistas, trotskistas e stalinistas da socialdemocracia!

É evidente que em todos estes pontos que criticamos encontramos como denominador comum o fato de que a crítica revolucionária do capital está ainda impregnada de uma crítica "antiimperialista", terceiromundista, ou seja, de uma crítica burguesa. Em todos eles encontramos reivindicações da socialdemocracia, apesar da pseudo-radicalização:

* a socialdemocracia fala de povo; aqui, de povo pobre;

* a socialdemocracia concentra toda responsabilidade no livre-cambismo e nas políticas do FMI, do Banco Mundial...; aqui se diz que o capitalismo mata, mas estas instituições são consideradas responsáveis pela exploração;

* a socialdemocracia sempre apoiou as libertações nacionais e, portanto, a guerra imperialista; aqui se apóia a "intifada Palestina" e não o proletariado em luta contra o capitalismo na Palestina (contra o estado de Israel, contra o da OLP, contra o capital e o estado enquanto tais);

* a socialdemocracia, como a direita, sempre apresentou a dívida dos burgueses como um problema de países, para buscar a solidariedade dos proletários com os burgueses de cada país; aqui é aceita a questão da dívida como um problema de todos e não só dos burgueses, e se reivindica o "não pagamento da dívida", o que só serve para mobilizar o proletariado em apoio a essa ação de não pagamento que sustentam algumas frações das burguesias nacionais e internacionais que se beneficiam diretamente com isso, mas com o que o proletariado não tem nada a ganhar;

* enfim, continua opondo as privatizações às estatizações e defendendo estas últimas, defendendo o estado capitalista frente ao capital privado; é a clássica posição socialdemocrata, tão cara aos marxistas leninistas, de defesa da estatização jurídica dos meios de produção (47).

É certo que alguns destes pontos, como os dois últimos, foram abandonados por amplos setores da socialdemocracia por oportunismo. Mas isso não outorga aos mesmos nenhum caráter proletário, nem sua defesa faz avançar um só centímetro (senão ao contrário) a luta contra o capital e o estado.

Destruição da mercadoria?

É lógico que os revolucionários retomem hoje a crítica que o proletariado sempre fez da mercadoria; que as lutas do proletariado hoje tendam a assumir, de forma cada vez mais clara, o objetivo de destruir a sociedade mercantil.

Mas, muitas vezes, essa tendência é compreendida e propagandeada de forma totalmente imediatista, pretendendo-se destruir o mundo mercantil e o império da mercadoria com base em ações como as efetuadas em Seattle.

Assim, o Chamado por um Black Block na Cimeira das Américas do 20 a 22 de abril de 2001 dizia: "Um espectro ronda a América, o espectro do casseur (48) anarquista. Sua máscara negra bem conhecida, feita necessária pelo desenvolvimento vertiginoso da vigilância eletrônica, é hoje reconhecida como o símbolo do terrorismo social, que nos parece, mais do que nunca, um imperativo humano e um dever moral. Os casseurs e causseuses de Seattle, esperamos, abrirão a via da destruição do império mercantil. Atacando o próprio coração da fortaleza norte-americana, que ninguém imaginava tão frágil, o objeto de culto moderno capitalista, quebrando as vitrines que refletem nosso estatuto de consumidores e consumidoras fiéis; aqueles e aquelas que assumem a revolta (49) deram o único conteúdo libertador possível à luta contra a mundialização dos mercados. De golpe, uma luta que parecia se encerrar definitivamente no precipício do compromisso servil, que nos apresentam há sessenta anos os mesmos sindicatos colaboradores e as mesmas burocracias da subcontratação estatal comunitária; de cara, tal luta se faz perigosa... Ao atacar diretamente os objetos postos na vitrine, os casseurs e casseuses de Seattle não fizeram mais do que saciar seus desejos de possessão desses produtos, demasiado amiúde inacessíveis, que a publicidade nos faz desejar como o máximo da felicidade. Eles e elas atacaram sobretudo o objetivo principal para o qual tende todo sistema de opressão atual; elas e eles atacaram a principal realização de nossa sociedade: a mercadoria."

O proletariado, em todas essas ações, expressa de forma elementar sua crítica à sociedade burguesa e, de passagem, também contra todos os programas que propõem um capitalismo mais humano, e é correto afirmar que a mesma expressa incipientemente a contraposição proletária ao mundo da propriedade privada e da mercadoria. Mas imaginar que assim se destrói a mercadoria ou que esta é a via para fazê-lo é fechar totalmente os olhos para a perspectiva revolucionária; é confundir uma ação totalmente limitada e de protesto elementar com a revolução.

A apropriação e/ou destruição das mercadorias particulares é um ato elementar de toda revolta proletária. Como ataque à propriedade privada e como ato de protesto, sempre foi parte de toda revolta, mas não é um ato de destruição da mercadoria. A mercadoria não pode ser destruída atacando fisicamente a coisa, mas é preciso destruir seu outro polo, o valor; não se pode aboli-la atacando sua imediatez como objeto, para aboli-la é imprescindível destruir a forma social da qual é essencial. Entre essa forma elementar de mostrar repulsa pelo capitalismo e a destruição do capitalismo falta nem mais nem menos que o fundamental: a própria revolução social, a insurreição proletária, a ditadura revolucionária do proletariado, a destruição despótica do mercado, da "igualdade, liberdade e fraternidade" que lhe são inerentes, a demolição da propriedade privada, da democracia, da lei do valor e, com isso, e de forma absolutamente imprescindível, a organização da produção social em função das necessidades humanas (50).

Poderá ser dito que se fala simbolicamente, que se quer reivindicar uma direção, que isso é o que se quer transmitir quanto à destruição da mercadoria (51). Entretanto, não é assim, o cego otimismo e imediatismo é evidente e contraproducente quando se afirma: "Nós anarquistas (não todos os casseurs e as casseuses!) em revolta, ou simplesmente cidadãos responsáveis, quebraremos tudo no nosso caminho. E pela manhã varreremos os vidros quebrados e as mercadorias que transformamos em projéteis, fazendo-as, dessa maneira, ao menos uma vez, úteis, serão as ruínas da opressão que serão varridas".

Imaginar que se pode varrer as ruínas da opressão sem uma revolução social, que se pode destruir o capitalismo sem revolução, sem ditadura revolucionária, é tão utópico, por mais pedras que se atirem, por mais mercadorias e vitrines que se destruam, como imaginar um capitalismo mais humano, como dizem os da ATTAC e/ou os burgueses do fórum de Porto Alegre. É a mesma ilusão imbecil de pretender destruir a polícia metendo porrada em algumas centenas ou dezenas de representantes da ordem. Não, e mil vezes não, o capitalismo, em seu funcionamento normal, sempre destruiu e destrói (em geral, para impedir a desvalorização desse tipo de mercadoria em particular) permanentemente mercadorias, sem que isso afete em nada a mercadoria: liquidação e queima de estoques, destruição durante guerras... Muito pelo contrário, a destruição particular de uma mercadoria afirma sempre o mundo da mercadoria e da valorização.

Enfim, sustentar que o proletariado finalmente descobriu, à base do que se chama "ação direta", durante essas cimeiras e anticimeiras, a via atual do internacionalismo proletário ou que temos entrado, com base nessas ações, como já dizem alguns grupos, num enfrentamento direto entre a internacional capitalista e a internacional revolucionária, é não só desconhecer totalmente o funcionamento do capitalismo, mas do próprio programa da revolução, da estratégia revolucionária, e conduz inevitavelmente a fazer confusão, desempenhando um papel centrista (ao impedir a ruptura necessária) no movimento proletário.

Simplesmente, para reafirmar como esse tipo de ideologia ativista leva a "esquecer" aspectos fundamentais do programa revolucionário, citemos mais uma vez esse chamado pelo Black Block, que pretende lutar contra o capital, o estado e o patriarcado, e que, no entanto, diz num texto intitulado Abaixo os reformistas: "A ordem social deveria se fazer pela solidariedade de interesses e a livre associação, e não pela opressão de idéias e pessoas. O estado, inclusive se está composto por pessoas "eleitas", está também formado por funcionários. Deve-se compreender que esses funcionários não existem por necessidade, mas como resultado da ausência de democracia em nosso sistema".

Ou seja, que nem sequer critica a democracia, mas atribui os males do estado à ausência de democracia, como faz qualquer tipo de reformista. Dirão que esta posição socialdemocrata não é compartilhada por muitos dos militantes organizados nesse movimento chamado Black Block, e estamos certos de que é assim, o lamentável é que sobre questões tão decisivas e centrais do programa socialdemocrata, como a famosa denúncia da ausência de democracia, possa haver posições tão contrapostas. É uma conseqüência inevitável da ideologia libertária, do livre pensamento. Para nós, pelo contrário, a crítica à socialdemocracia é a chave da crítica do estado burguês. Não é reivindicando mais democracia que se destrói o estado, mas, pelo contrário, abolindo prática e autoritariamente a famosa democracia, por mais pura que ela seja (52).

Comunização?

Outra ideologia, supostamente nova, é a que hoje se denomina "comunização". Diz-se, por exemplo, no mesmo volante que citamos anteriormente por sua válida crítica ao pseudo-anticapitalismo e assinado por "libertários": "Para tender à produção de novas relações sociais, os ataques contra o capitalismo devem conter já uma comunização da luta e das relações que se derivam dela. Não há nenhum projeto positivo, nenhuma afirmação proletária possível no interior do capital".

É evidente que estamos de acordo em que na luta contra o capital devemos desenvolver relações novas e que não pode haver nenhuma afirmação proletária possível no interior do capital. O problema é essa "palavrinha", que em alguns meios pseudo-revolucionários virou moda: "comunização"; como se o comunismo fosse se fazendo pouco a pouco, como se o comunismo pudesse se desenvolver sem destruir o capitalismo antes, como se o comunismo pudesse surgir sem demolir o capitalismo de cima a baixo, como se o mercado capitalista pudesse desaparecer sem o exercício de um despotismo humano contra o mesmo. No fundo, esta teoria tampouco é nova. Desde o início e, particularmente nas primeiras décadas do século XX, também setores da socialdemocracia desenvolveram a mesma teoria, só que a chamavam de "socialização"; a sociedade se "socializaria" pouco a pouco.

É claro que os defensores da teoria da "comunização" considerarão ofensivo este paralelismo e protestarão dizendo que se trata de algo muito diferente. No entanto, na prática, nos dois casos, está se introduzindo uma concepção gradualista e negando abertamente o próprio salto qualitativo da insurreição revolucionária, da ditadura contra a taxa de lucro e o valor, sem o qual falar de socialização ou comunização é desenvolver a confusão e servir à reação.

Por outro lado, a ideologia da "comunização" atual surge de um grupo que nunca rompeu com a socialdemocracia, com o leninismo, nem com o eurocentrismo: Theorie Communiste. Típico grupo eurocentrista, para o qual tudo o que se passa na Europa é feito pelo "proletariado", e tudo o que acontece longe, é feito pelas massas populares (chegando ao extremo de qualificar a revolta proletária no Iraque, em 1991, de "sublevação popular"!), sustenta abertamente que o que houve na Rússia, na época de Lenin, foi a ditadura do proletariado, quando, para os revolucionários internacionalistas, é claro que tal ditadura foi contra o proletariado e, mais concretamente, a velha ditadura capitalista, como temos demostrado nos diferentes trabalhos efetuados por nosso grupo a respeito (53). Com tais bases (que associam o programa proletário ao programa ao desenvolvimento do capitalismo defendido por Lenin) e a teorização segundo a qual a questão da transição revolucionária estaria historicamente superada, porque o programa do proletariado teria sido realizado pelo capital (54), consideram que o proletariado poderia negar a si mesmo e realizar o comunismo, (e isto é abertamente revisionista!) sem se fortalecer como classe e impor sua ditadura. Por mais linda e atrativa que possa parecer esta teorização, não fica nada clara a questão essencial da própria revolução, da insurreição e da ação revolucionária e ditatorial de destruição da sociedade burguesa. Como o proletariado pode se negar, a não ser se constituindo em força? Não, não dentro do capitalismo, como pretende a socialdemocracia, mas organizando-se fora e contra ele. Organizando-se fora de suas estruturas, parlamentares, sindicais, contra os cortejos e manifestações de carneirinhos, constituindo-se em força contraposta a tudo isso. Só se constituindo em força internacional, em partido revolucionário de destruição do mundo burguês, o proletariado pode, nesse mesmo processo, se autonegar e destruir o capital e o estado. Fazer crer que o mundo pode se "comunizar", se não é pela potência organizada do proletariado em partido, é colaborar com todo espectro político esquerdista burguês, que se empenha em negar justamente o mais importante: a ruptura violenta e total da ordem capitalista por meio da revolução; o salto de qualidade, a conspiração revolucionária e a insurreição, a organização internacional do proletariado em partido comunista, sua obra destrutiva de toda a sociedade burguesa. Sem isso, falar de comunismo é utópico e reacionário.

Se o que molesta os companheiros "libertários" que escreveram esse volante é a terminologia clássica dos revolucionários de luta pelo partido revolucionário, pela ditadura revolucionária do proletariado ou por um semi-estado proletário..., que empreguem a terminologia que queiram, mas que não renunciem ao essencial: a luta insurrecional, a destruição pela violência do capitalismo. Muitos revolucionários, de Bakunin a Flores Magón, utilizaram terminologias diferentes, como ditadura dos irmãos internacionais, ditadura da anarquia, ditadura dos conselhos operários e até "partido liberal", mas não renunciaram ao principal, e por isso foram consequentemente revolucionários: a necessidade da concentração da violência revolucionária, a necessidade da luta armada revolucionária, a necessidade de liquidar pela violência, de classe contra classe, o capitalismo.

Pelo contrário, o que ocorre nesse meio não é uma questão de palavras; com essa fábula de comunização sem ditadura revolucionária do proletariado estão realmente renunciando à revolução social (55).

Ação direta?

Historicamente, frente a socialdemocracia - força burguesa de contenção e canalização da luta proletária que baseia sua estratégia na representação e a mediação nos sindicatos, parlamentos, eleições, apoio a delegados e líderes políticos... -, o proletariado contrapôs sempre a ação direta. A ação sem intermediários, nem delegados, a ação direta protagonizada por todos, na greve, na manifestação, na ocupação da rua, na violência revolucionária, na insurreição, na ditadura revolucionária. Essa ação é, claro, direta, porque para protagonizá-la não é preciso mediações, delegações e, neste sentido, é a contraposição histórica da ação democrática, da vida cidadã.

Hoje, em Davos, Seattle, Praga... alguns grupos de militantes enchem a boca de ação direta e a assimilam simplesmente à ação violenta na rua, como se fossem sinônimos.

Entretanto, uma vez mais, embora a violência seja uma característica necessária da ação direta, ela não é suficiente para que se possa falar corretamente de ação direta. Quando o proletariado historicamente contrapõe sua ação direta ao parlamentarismo, ao sindicalismo, ao eleitoralismo... da socialdemocracia, ele protagoniza uma ação que não tem nenhum tipo de mediação, delegação, eleição de representantes, e que ao mesmo tempo é generalizável e reproduzível em todos os lugares e por todos os proletários.

Ou seja, a chave da ação violenta na rua, para ser direta, no sentido histórico da palavra, é que não se baseie em delegações e seja potencialmente realizável pelos proletários onde quer que estejam. A chave da ação direta que contrapomos à socialdemocracia é precisamente que qualquer grupo proletário pode protagonizá-la onde quer que esteja, contrapondo-se, por essa prática, à delegação, à mediação, que é um elemento chave da democracia e, portanto, de toda dominação política burguesa.

Em troca, a ação direta que se reivindica em Seattle, Praga, Davos... não é precisamente essa, mas a que mistifica a própria violência como sinônimo de ação direta, ainda que, na prática, para realizá-la, seja necessário enviar delegados para esse centro onde se desenvolveria a ação direta por excelência.

Atenção, o que afirmamos não é que a ação que se leva adiante nesses eventos não seja parte da ação direta do proletariado. É óbvio que é. O que criticamos é que muitas das organizações presentes não impulsionam a ação cotidiana de luta aqui e agora e em todos os lugares (o capital está por toda parte), mas magnificam seu próprio ativismo e sua própria "ação direta" que levam a esses palcos como a mais válida de todas. A mistificação de Davos, Seattle, Praga..., como centros decisivos do capital, junto ao fato de que se atribui a esses enfrentamentos características semi-insurrecionais, que, como vimos, não têm, faz com que tais grupos considerem que a "ação direta" por excelência é ir lutar contra capitalismo ali, nos mesmos lugares e seguindo o mesmo calendário dos congressos burgueses, como se isso fosse a essência da ação direta contra o capitalismo mundial; como se todas as outras fossem locais e menos importantes. Esquecem que, além dos proletários desses lugares que saem à rua para enfrentar esse tipo de cimeira, o que obviamente estimulamos, quem pode ir a conferências para desenvolver a "ação direta" na rua não pode ser mais que um punhado de militantes, de delegados do proletariado de diferentes países, e que, portanto, continua mantendo uma mediação. Por mais que esses delegados atirem pedras e molotovs, isso não mudará o fato de que se trata de uma mediação, na qual pretendem que a maioria do proletariado se sinta representada, como diz o sindicalista citado anteriormente "para que os pobres do mundo vejam..." que na Europa há sindicalistas... que o representam!

Evidentemente, é importante que o proletariado de cada país onde se realizam essas festas capitalistas vá à rua e ataque com toda sua raiva esses eventos, e também que outros grupos de proletários de outros países colaborem na organização de tais ações nesse país e, mais ainda, que as organizem (e/ou coordenem e centralizem a organização) também em outros lugares. Não é isso que criticamos, a coordenação e a organização além das fronteiras é fundamental na formação e fortalecimento da comunidade de luta que destruirá o capital.

O que afirmamos é que a maioria dos proletários de outros países não pode, nem tem nenhum interesse em ir a tais eventos, e que, portanto, esta não pode ser a perspectiva, contrariamente ao que publicam todos os tipos de grupos centristas, que já medem os próximos triunfos em função dos milhares de ativistas ou das centenas de ônibus que irão à próxima cimeira.

Os que vão a tais eventos não podem ser mais do que uma pequena minoria que tem condições muito especiais para isso: condições de trabalho excepcionais, tanto em tempo livre quanto em remuneração, para os deslocamentos. Em alguns casos, grupos de centenas de proletários e militantes revolucionários fazem um enorme esforço para enviar algumas dezenas de militantes a tais eventos, mas é evidente que em geral só os aparatos sindicais e os partidos políticos preparados para funcionar por delegação e que são fundamentais na dominação democrática podem se permitir tais deslocamentos permanentemente. Logo, não há o que estranhar se, nas ruas das cidades onde tais eventos ocorrem, predominam, além dos policiais e serviços secretos de muitos países, os delegados políticos e sindicais.

Não, mil vezes não, a ação direta proletária é a de todos os dias contra os patrões, contra a burguesia que está diante de nós, contra os partidos e os sindicatos que querem nos enquadrar. Sim, é preciso generalizá-la, sim, é preciso fazê-la mundial, sim, é necessário coordená-la, sim, é preciso fomentar o intercâmbio militante entre países, sim, é preciso lutar juntos por toda parte contra o capital mundial, mas imaginar que quanto mais forem ao mesmo lugar será melhor, é um absurdo. O proletariado mundial não se concentrará numa única cidade porque não se trata de destruir a mercadoria em determinada cidade ou país, mas no planeta inteiro e, para isso, não se trata de enfrentar a polícia de um país, mas de destruir o poder burguês por toda parte.

É nefasto e contraproducente para o movimento crer que os proletários do mundo irão de forma cada vez mais massiva se expressar contra essas conferências até liquidar o capitalismo. Mais do que se iludir estupidamente, isso é deturpar o próprio conceito de ação direta. O proletariado combativo não irá a essas manifestações burguesas por mais que o convidem, no máximo irão alguns grupos que o representam e os delegados sindicalistas que pretendem representa-lo. Inclusive, o interesse dos grupos revolucionários que vão não é fazer a apologia da "ação direta" que esses representantes desenvolvem, mas, pelo contrário, centralizar a ação direta do proletariado que devemos impulsionar em todos os lugares.

Interesse proletário e ideologia centrista

Resumamos alguns aspectos da contradição entre o interesse proletário e a ideologia centrista. O interesse proletário é a unificação programática e a descentralização operativa, a unidade de direção e perspectiva revolucionária e - simultânea e contraditoriamente - a ação em todos os lugares contra o mesmo inimigo.

Mas a ideologia dominante, inclusive entre os grupos em ruptura com a socialdemocracia, parece incentivar precisamente o contrário: que concentremos todas as forças em tal parte do globo, em tal dia e tal hora (e o pior, seguindo os ditames das cimeiras e anticimeiras), mas que politicamente cada um faça o que quiser, que cada grupo se constitua segundo suas afinidades, que cada qual se unifique segundo suas idéias (e, evidentemente, nada de centralização).

O interesse do proletariado é um só e mundial, e só pode se impor unindo-se contra todas as divisões produzidas pela sociedade do capital, cuja lei é a luta de todos contra todos. Mulheres, velhos, crianças, desempregados, árabes, negros, mineiros, operários agrícolas, "estudantes", jovens, asiáticos, latino-americanos, europeus, africanos, amarelos, "sem terra", habitantes das favelas, cortiços, subúrbios e periferias, alunos..., independente do que crêem, pensem ou lhes tenham feito crer e pensar, todos têm o mesmo interesse em abolir a sociedade burguesa.

Mas a ideologia dominante usa qualquer coisa para impor as divisões de raça, sexo, cultura, religião, etnia... e inclusive entre os grupos em ruptura ainda predomina a ideologia da liberdade e da afinidade, que, em vez de desenvolver a unidade proletária, repercute em nome da especificidade, a liberdade de cada um e de cada local, todas as separações da sociedade burguesa e conclama a constituir tantos agrupamentos quantas divisões o capital impôs, não só de cultura, raça, religião... mas de gostos e costumes, como os aficionados de tal música, os homossexuais, os protetores de animais, os colecionadores de latas de Coca-Cola...

O interesse da revolução comunista é repor na ordem do dia a crítica do capital até os seus fundamentos, a destruição do trabalho assalariado, da mercadoria, do estado... e, para isso, por como sempre no centro a questão do poder, da necessidade da insurreição proletária, da destruição do estado.

Mas a ideologia que predomina é que cada um imagine as mudanças que quiser e faça sua crítica ao capitalismo, que cada grupo elabore seus planos e se agrupe por afinidades..., como se fosse possível destruir o capitalismo sem a destruição do poder armado da burguesia, como se houvesse mil e uma maneiras de destruir a formação social burguesa, como se todos estes séculos de enfrentamentos de classe não tivessem delimitado na prática o que é revolucionário e o que é contra-revolucionário.

O interesse da revolução comunista é a ação proletária em todos os lugares contra o capital mundial, a ação direta contra a burguesia e o estado que se tem adiante (56), a generalização desse enfrentamento contra o capital e o estado mundial.

A ideologia que predomina, inclusive em muitos dos grupos proletários em ruptura com a socialdemocracia que centram sua atividade nessas cimeiras e anticimeiras, é fazer o maior esforço no envio de ativistas a essas manifestações.

O interesse proletário é a ruptura total e irreversível com a socialdemocracia e todo seu programa: ruptura com a democracia, com o imperialismo, com o terceiro-mundismo.

A ideologia dominante, em nome da liberdade, estimula uma unidade sem princípios, sem programa, sem rupturas claras, que algumas vezes recai nas redes da socialdemocracia que incentiva o apoio crítico da democracia.

O interesse proletário é a organização como força, como potência internacional, coordenando e centralizando programaticamente as ações de todos os lugares.

Quanto mais descentralizada for a ação e mais centralizada a direção, mais potência de luta terá o proletariado (57).

A ideologia ativista defende, pelo contrário, a descentralização política e a centralização operativa; nenhuma unidade de direção e todos no mesmo palco.

Mas o movimento do proletariado é um só

Entretanto, o movimento do proletariado mundial, nosso movimento, é um só, tenham ou não consciência disso os protagonistas em cada caso; saibam ou não que lutam pelo mesmo objetivo os que entraram em Quito pelejando, como os que quebraram vidraças em Seattle, ou os que agora estão enfrentando o estado burguês na Argélia, e poderíamos acrescer, provocativamente, os sem terra do Brasil, os desertores e derrotistas revolucionários do mundo inteiro e os "anticapitalistas" e "antiestatistas" que constituem pequenos grupos para combater nas barricadas o capitalismo.

Mas nenhum desses movimentos, que explodem separadamente, é consciente de até que ponto é o mesmo movimento de abolição das condições existentes. O proletariado ainda não se reapropriou como classe nem de sua experiência, nem de sua força. Em outros artigos explicamos as razões dessa generalizada inconsciência de classe que hoje caracteriza o proletariado; em muitos deles esclarecemos as razões históricas disso: o triunfo da contra-revolução no século XX e o conseqüente encobrimento de toda a história da luta revolucionária.

Neste artigo, optamos por nos concentrar nas barreiras atuais que impedem o proletariado, em suas diferentes expressões internacionais, de se sentir uma só classe revolucionária, para terminar com o tema do "que fazer", do "aqui e agora". Para isso voltemos aos exemplos de Equador e Seattle, como paradigmas da atual separação existente entre movimentos, que parecem totalmente diversos.

Apesar da separação existente e da inconsciência de que se trata de um mesmo movimento, é evidente que num e noutro caso o proletariado luta contra os mesmos inimigos e, em certa medida, os mesmos limites ideológicos. Em ambos os casos, o confronto com o capitalismo, a separação que se dá no terreno, tendendo a se organizar fora e contra sua fração socialdemocrata, não é teorizada nem assumida praticamente de forma permanente, por isso, a mesma, quando o movimento deixa a rua, volta sempre, ainda que de muitas maneiras diferentes, a impedir o avanço das lutas.

Porém, a ruptura com a socialdemocracia e a consciência do movimento do proletariado mundial como um só movimento é o mesmo problema. É só fazendo essa ruptura permanente e organizada, levando até as últimas conseqüências a crítica aqui desenvolvida, que o proletariado de todos os lugares irá reconhecendo a si mesmo. E, reciprocamente, só se reconhecendo como um mesmo movimento, organizando-se como tal em escala internacional, o proletariado poderá assumir a ruptura com a socialdemocracia de forma permanente. Só assim, cada ação direta do proletariado em qualquer parte se reconhecerá nas outras como a afirmação do mesmo ser orgânico e poderá se dotar de uma verdadeira direção internacional; só assim fará sentido falar de combate histórico entre a internacional do capital e a internacional revolucionária.

O que fazer?

O objetivo da análise da correlação de forças não é, para nós, a contemplação do mundo "tal como é"; pelo contrário, esta análise é para os revolucionários a base da ação subjetiva. Não se trata de descrever o mundo, mas de transformá-lo.

De Equador a Seattle, estamos todos no mesmo barco, todos na mesma sociedade capitalista e lutando como podemos contra ela. Trata-se de uma comunidade de luta que se afirma e se demarca.

Nós estamos profundamente implicados em ambos os tipos de movimento, através do mundo, lutando para que cada expressão de luta do proletariado assuma a contraposição a todo o capital e, conseqüentemente, a consciência de pertencer ao mesmo movimento mundial de abolição do capital e do estado. É evidente que, quando dizemos nós, não nos referimos somente ao nosso pequeno grupo formal, mas às minorias revolucionárias organizadas que, contracorrente, lutam pela constituição do proletariado em classe e, portanto, em partido em escala mundial, e que, contra a moda e os eternos inventores do "neo", que dizem que isso está superado, não têm medo em afirmá-lo.

O desenvolvido aqui é ao mesmo tempo centralização do debate que cresce no seio dessas minorias revolucionárias e parte da ação delas, que, mal ou bem coordenadas entre si, lutam, da Albânia à Bolívia, da Rússia ao Irã..., contra a corrente para afirmar essa força única do proletariado mundial. A denúncia da socialdemocracia que realizamos neste texto e que gritamos em qualquer assembléia ou barricada é parte dessa mesma comunidade de luta. A crítica sem contemplações do ativismo e do centrismo efetuada por nossos companheiros nas cinco partes do mundo, também.

Mas isso não nos impede de afirmar consignas na gestação da direção que o proletariado necessita. O que fazer então para impulsionar a reunificação do proletariado, conjuntamente à sua ruptura com a socialdemocracia? De onde pode vir um salto de qualidade nesse sentido?

Em princípio, pode vir de todas as partes. A generalização geográfica de um movimento como o que se desenvolveu no Iraque há alguns anos, Albânia ou Equador pode ser decisiva nesse salto de qualidade. Se eles não se estenderam mais, foi pela incapacidade do proletariado em outros lugares de se identificar com ele e tomar o mesmo caminho. No entanto, num período que se caracteriza pela inexistência de associações permanentes de proletários em escala mundial, só a coordenação e a centralização das minorias comunistas nas regiões em luta aberta com as de outras partes do mundo poderá dar continuidade a esse movimento e tender a unificar a sua direção.

Isto é, inclusive nesse caso, a ação voluntária e consciente das minorias revolucionárias será decisiva. Concentremo-nos então no que é que estas precisam fazer.

E, mais concretamente, devemos impulsionar essas idas massivas às cimeiras e anticimeiras "para enfrentar o capital e o estado" ou, pelo contrário, devemos nos organizar de outra maneira e impulsionar outra perspectiva?

Ainda que reconheçamos esse movimento proletário de ruptura contra as cimeiras e anticimeiras como nosso movimento, defendemos no interior do mesmo, por todo o exposto aqui, a palavra de ordem de se organizar fora e contra as cimeiras e anticimeiras, e desenvolver nossa força de outra maneira, em outras datas e, tanto organizativa como politicamente, com total autonomia com relação à direita e à esquerda do sistema.

Mas nos dirão: como então internacionalizar o movimento? Como unificar a luta, a não ser concentrando nossas forças num lugar, num dia determinado?

Apesar de todas as críticas efetuadas, consideramos fundamentais essas tentativas de organização de minorias para a ação direta, que pelo momento dependem dessas cimeiras e anticimeiras; mas dentro da mesma defendemos a perspectiva de decidir os momentos, as datas nas quais por toda parte os proletários saem à rua para enfrentar o capital, o que irá afirmando a consciência de pertencer à mesma classe, que tem exatamente os mesmos inimigos em toda parte, como foi o primeiro de maio! Como continuamos lutando para que volte a sê-lo! A respeito, deve-se assinalar que diferentes grupos e organizações que vão rompendo com o ativismo estéril e contraproducente que viemos criticando e que se opõem a "ir todos a tal cidade em tal data", já propõem se organizar de outra maneira e sem depender dos calendários das cimeiras.

Mas entenda-se bem que isto deve se efetuar numa ruptura total com todo espetáculo ativista que se montou nos palcos das cimeiras e anticimeiras. Não deve se tratar nunca, como pretendem os sindicalistas, de "mostrar aos pobres e moribundos proletários do mundo", mediante a televisão, que "aqui na Europa, há gente valente". Não se deve partir dessa separação entre os "moribundos", por um lado, e "os que sabem", por outro; de consagrar o dualismo entre "os que não podem fazer nada" e os "ativistas" que lutam em determinado evento, como a mentalidade do espetáculo desenvolve.

Pelo contrário, em cada ação desse tipo defendemos que ela deve tender a se organizar em todos os lugares, que se pode levar adiante em todos os pontos do planeta, mesmo onde nunca se reunirão as cimeiras e onde a socialdemocracia jamais organizará anticimeiras. A ação direta se contrapõe totalmente à lógica do espetáculo. O espetáculo mostra os atores e paralisa os espectadores, que, quando muito, aplaudem, e leva a um enfrentamento espetacular entre especialistas da repressão e especialistas da mudança social.

A ação direta da vanguarda proletária é, pelo contrário, a que impulsiona a sua reprodução por toda parte. O salto de qualidade neste sentido é a ruptura com esse conceito de solidariedade que expressa no fundo um conceito fundamentalmente caritativo, e que nasce da educação judaico-cristã: atua-se pelos pobres e os moribundos de longe. Pelo contrário, nós revolucionários dizemos abertamente que nada fazemos pelos "pobres do mundo", porque nós mesmos somos em todos os lugares explorados e oprimidos pelo mesmo sistema social; porque temos por toda parte os mesmos interesses e os mesmos inimigos; porque somos a mesma carne e mesma luta histórica dos explorados de sempre contra todos os sistemas de exploração e opressão. A revolução social não é uma necessidade de um ou outro grupo de ativistas, mas do proletariado mundial.

Tampouco temos que mostrar algo, e muito menos na televisão ou na Internet (mesmo que utilizemos algum meio de comunicação) , mas, pelo contrário, praticamos em toda parte o tipo de ação direta que é perfeitamente reproduzível pelo proletariado em todos os lugares.

Um avanço decisivo, que impulsionamos, é que os militantes e revolucionários do mundo, que hoje se definem por sua luta contra o capital e o estado, que sabem da importância histórica que tem a ruptura com a socialdemocracia (a organização em força, fora dela e contra ela), que em vez de juntar forças para ir às cimeiras e anticimeiras, nos concentremos no tempo mas não no espaço. Por considerá-lo muito mais forte e eficaz do que enviar "todos" a determinada cidade, por considerá-lo de acordo com a ação direta e porque estimula sua reprodução em todos os lugares, defendemos a coordenação para atuar tal dia e tal hora em todos os países contra os mesmos objetivos. Já existe embrionariamente em diferentes lugares uma tendência revolucionária que estimula isso. Na Espanha, por exemplo, nessas jornadas que chamam "jornadas de luta social ou jornadas anticapitalistas" já se expressa, de forma minoritária, uma tendência a definir outros objetivos, fixar outras datas, desenvolver outras formas de luta que não sejam a luta contra as cimeiras, nem o espetáculo ativista.

Mas o salto de qualidade necessário consiste em que essa potência de luta que se objetiva exclusivamente como manifestações contra as cimeiras e anticimeiras se assuma como parte do mesmo movimento do proletariado no Equador, Albânia, Indonésia... e que, quando amanhã acontecer outra explosão dessas, saibamos concentrar nossas forças para afirmar a solidariedade com a mesma. Mas não a solidariedade do espetáculo, não a demonstração de que aqui se fazem coisas pelos "moribundos" proletários do mundo acolá. Mas, pelo contrário, fortalecermo-nos em todos os lugares, generalizando o movimento proletário que ocorre num país; saindo à rua e enfrentando a burguesia e o estado que temos diante de nós para afirmar praticamente que somos o mesmo movimento de abolição da sociedade burguesa, que temos exatamente os mesmos objetivos pelos quais o proletariado está lutando nesse país, que nesse momento está em plena efervescência contra o sistema social burguês.

Com efeito, a maior desgraça dessas explosões proletárias em diferentes partes do mundo, como repetimos em cada ocasião, em todas as nossas publicações, nos diferentes países e idiomas, é precisamente seu isolamento, que a burguesia continua atacando caso a caso, país por país, o proletariado e que, quando essas respostas proletárias se desenvolvem, os proletários de outros países nem percebem a luta que aqueles desenvolvem. E insistimos que foi a burguesia mundial contra o proletariado de cada país. Com efeito, a debilidade da ação proletária, por exemplo, nos países europeus e nos Estados Unidos, permitiu que a OTAN pudesse intervir alegremente, sem um derrotismo revolucionário conseqüente em seus países de origem, para desarmar e reprimir o proletariado insurrecto na Albânia. E o pior é que toda essa força proletária que se expressa contra as cimeiras e anticimeiras, pela ideologia ativista dominante, nem sequer é consciente de que nossa força é também aquela, e que aqui e agora se pode impedir que o proletariado fique só enquanto a burguesia recebe apoio incondicional de seus pares.

Se há algo fundamental em toda essa luta contra os eventos das cimeiras e anticimeiras, é que muitos proletários se organizam querendo enfrentar o capitalismo mundial, que se consegue concentrar forças, que se consegue combater ao mesmo tempo o mesmo inimigo, que já há minorias que, em nome da revolução, vão à rua para afirmar o internacionalismo proletário e que se volta a discutir o como e o que fazer. O importante é também que as questões centrais da luta proletária, da destruição do capitalismo e do estado, do como, quando e a estratégia, voltam a ser terreno da polêmica.

Mas ainda não somos capazes de dirigir bem essa força que conseguimos concentrar, ainda não somos capazes de impedir que o suborno e a porrada liquidem o movimento em determinado país no maior e mais triste isolamento.

Utilizemos essa força capaz de manifestar, irromper, atacar a burguesia e o estado em cada país, fazendo-o coincidir com o movimento explosivo de algum outro país para impedir que se isole; levantemos nessas lutas a bandeira revolucionária de unificação da luta contra o capital; mundializemos a realidade e a consciência de nosso movimento; desenvolvamos a força única do proletariado internacional.

Assumamos então essa tendência histórica do proletariado a se reconstituir e se reconhecer como classe, a afirmar seu programa revolucionário, a se constituir em força, em partido mundial de destruição do capitalismo.

Notas:

Neste texto, denominamos "cimeiras" as reuniões de diferentes organismos internacionais do capital mundial que suscitam os protestos proletários. Denominamos "anticimeiras" todos os protestos oficiais organizados pela esquerda burguesa, por seus partidos e sindicatos oficiais, consistam eles em manifestações de rua, em cimeiras paralelas, assim como reuniões ou fóruns alternativos.
Ver: La catástrofe capitalista, em Comunismo nº 32.
Ver a respeito: Avante os que lutam contra o capital e o Estado!, em Comunismo nº 4 (português).
Ver nosso artigo: Características gerais das lutas da época actual, em Comunismo nº 4 (português).
Tampouco se deve crer que dizer que são novas as velhas coisas seja novidade. Neste sentido, a pretensão burguesa de produzir tantas idéias quanto mercadorias percorre, pelo menos, todo século XX: idéias modernas, economistas neoclássicos, neoclassicismo, nova onda, new age...
É difícil imaginar os truques e as piruetas ideológicas que esses marxistas leninistas devem ter usado para explicar como a passagem do "capitalismo ao socialismo" requer uma revolução violenta e como a passagem inversa não a requereu.
O de esquerdista, como o de esquerda, não tem na realidade uma base objetiva, mas é algo totalmente ideológico e muda em função das regiões. Assim, por exemplo, na América Latina, a defesa fanática do stalinismo e do castrismo passa ainda por uma política de esquerda, enquanto que nos países do leste europeu, é assimilado ao fascismo e, em geral, à extrema direita.
Postulados do terrorismo de estado burguês, que se fazem universais a partir de então.
Uma explicação mais detalhada das contradições gerais entre as frações capitalistas pode-se encontrar em Comunismo nº 46, tanto na apresentação geral da revista, quanto no artigo La guerra en los Balcanes y la agudización de la lucha entre los estados burgueses, nesse mesmo número.
Claro que, como veremos, ela também se complica aqui, porque o proletariado ultrapassa todas essas tentativas de enquadramento socialdemocrata e desenvolve sua ruptura também em Seattle, Washington, Praga...
Não queremos, nem pretendemos aqui criticar os companheiros revolucionários que chamam a si mesmos de libertários ou anarquistas. Temos explicado suficientemente nossa posição a respeito, que não depende de nenhuma denominação ou ideologia, e, nas próximas publicações, explicaremos mais globalmente a relação entre comunismo e anarquismo. Do que se trata aqui é de combater a ideologia dominante, que se baseia, na realidade, no famoso livre pensamento burguês, a divisa "cada qual ou cada grupo que faça o que quiser", no indivíduo e na famosa "liberdade de crítica" que teve uma enorme influência nos eventos de Seattle, Davos, Porto Alegre..., e que acompanha sempre a ideologia ativista e imediatista, constituindo em todos os casos um freio à necessária organização do proletariado em força política unificada, capaz de se dotar de uma direção única para a ação e preparação insurrecional.
A título de exemplo, o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, de que falaremos depois, foi organizado por todas estas organizações, quase todas internacionais, e contou com o apoio nacional do Partido dos Trabalhadores, do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores desse mesmo país, e a representação oficialista do Movimento Sem Terra, também do Brasil.
O imperialismo é um fenômeno muito anterior à data em que a socialdemocracia o fez célebre. O capitalismo sempre foi imperialista e a luta imperialista entre as classes dominantes para se apropriar das forças de produção precede inclusive o capitalismo como modo de produção. Se a socialdemocracia e o marxismo-leninismo em particular (incluídas, é claro, todas as formas de stalinismo, trotskismo, maoísmo e castrismo) fizeram do imperialismo um fenômeno novo, foi para justificar todas as mudanças oportunistas em sua política em nome precisamente de que as coisas teriam mudado. Assim, a renúncia da luta contra o capitalismo e sua substituição pela luta contra o imperialismo (confundido em geral com determinado país) constituiu a norma geral.
Síntese textual do programa efetuada no número dedicado ao Fórum Social Mundial, sob o título do mesmo, Es posible otro mundo, por Hika (P.K. 871, 48080 España ou hikadon@teleline.es).
Mais adiante, o leitor entenderá porque dizemos "tratando de impor sua ação direta" e não assumindo sua ação direta.
Já dissemos que crer que o futuro do capital mundial é decidido principalmente nesse tipo de conferência é uma mitificação, o que evidentemente não implica que os burgueses não devam se centralizar formalmente para realizar acordos, tentar delinear planos e impor políticas econômicas mais uniformes, como as que caracterizam o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Por sua parte, a burguesia de cada país utiliza cada vez mais tais alinhamentos e as negociações e exigências com essas instituições para justificar toda política de aperto de cintos. Daí a "natural" raiva proletária contra tudo isso, e que em cada país também se enfrente cada missão desses organismos ou cada pacote de medidas que queiram implementar.
O que está entre aspas não são exageros nossos, mas fruto das paixões virtuais dos próprios protagonistas de Porto Alegre e o extraímos de forma textual de diferentes informes de participantes desse Fórum, em particular do número dedicado, pela revista Hika, ao Fórum Social Mundial já citado na nota 14.
Alguns companheiros que leram este texto antes de levá-lo à imprensa diziam que não podíamos criticar Hebe Bonafini, lutadora proletária de anos, em especial agora que leva uma dificílima luta contra a corrente e contra a recuperação democrática de uma fração das Madres. Digamos simplesmente que o objetivo não é esse, mas denunciar o espetáculo burguês contra-revolucionário que se faz, e lamentamos muito que alguém tão admirável por sua luta como Hebe Bonafini tenha se prestado a isso. Nosso interesse é, como dissemos em todo o texto, chamar militantes como ela a não se fazer cúmplices da socialdemocracia e do espetáculo da contestação, a se situar fora e contra eles. Deixemos muito claro que para a pseudocontestação socialdemocrata vem muito a calhar que haja militantes históricos revolucionários como Hebe Bonafini para mostrar a cara radical do Fórum de Porto Alegre e a "antiglobalização", dirigida pela ATTAC e o resto. O frentepopulismo sempre utilizou militantes proletários para afirmar seus interesses: em 1936, na Espanha, a Frente Popular, que logo liquidou a revolução social, se afirmou também graças a militantes como Durruti, que contra a posição histórica dos revolucionários chamou a votar pela Frente Popular.
O extrato pertence a um folheto assinado pelo Movimento Anticapitalista Revolucionário (Ap. de Correos 265, 08080, Barcelona, Espanha) que expressa bem e sem papas na língua a contraposição real entre burguesia e proletariado. Entretanto, não podemos deixar de assinalar que isso de "juventude proletária" (em vez de falar de proletariado) é uma concessão à moda. Nesse documento, se recomenda para "uma informação verdadeira do ocorrido em Nice..., a leitura do Boletín de Contrainformación de Barcelona, ano III, nº 144".
Quando ocorreu a cimeira de Washington, foi publicado que se gastaram 32 milhões de dólares em segurança! Não temos nem idéia do que inclui tal cifra e muito menos do que, tendo sido publicado, não se inclui na mesma "por razões de segurança".
Veja em nosso número anterior: La eco-guerra ya se encuentra en el mercado!, Comunismo nº 46, página 53.
Claro que dentro dessa política geral pode haver matizes, como o regime de Sadam Hussein, no Iraque, ou o de Chávez, na Venezuela, mas, repetimos, não são comparáveis a um fenômeno generalizado e muito mais duradouro como foi o stalinismo.
Porque a catástrofe capitalista continua e continuará se intensificando, e voltar a roda da história para trás é uma utopia reacionária. Só destruindo o capital a humanidade pode construir outro mundo, que evidentemente não terá nada em comum com o capitalismo de décadas passadas.
Ver sobre o movimento proletário no Equador em Avante os que lutam contra o capital e o estado!, em Comunismo nº 4 (português). A comparação que fazemos pode ser válida se em vez desse país se toma qualquer outra grande revolta proletária, como a da Venezuela, Albânia, Iraque...
Nosso interesse não é a separação desses movimentos, mas insistir no conteúdo único do movimento do proletariado e na necessidade de sua centralização revolucionária. Entretanto, no momento, a separação e a distinção existem; o desconhecimento, inclusive entre os próprios protagonistas (de um e outro exemplo), de que se trata de um único movimento é tão grande que consideramos pertinente insistir nas diferenças e até levar as tendências que existem num ou noutro caso à sua expressão extrema (apresentando as diferenças de forma muito mais pura do que como se dão na realidade), para que seja possível expô-las. Com efeito, essa análise das diferenças mais extremas permite, ao mesmo tempo, o desenvolvimento da crítica companheira diferente no interior de cada uma de suas expressões, e simultaneamente mostrar que estamos diante de um mesmo movimento. A caricatura seguinte permite compreender a metodologia: se disséssemos que o movimento no Equador parte da miséria econômica e o de Seattle, da consciência política, ficaria evidente que tal separação é uma caricatura, mas esta pode nos ajudar a vislumbrar as ações diferentes num e noutro caso, ao mesmo tempo em que ajuda a compreender, ou, melhor dizendo, a assumir que se trata de um mesmo movimento, como se insiste no final deste artigo, do movimento social pela abolição do capital. Se não fizéssemos assim e só insistíssemos em que tudo é um só movimento, que tudo é o mesmo, o que é verdade em última instância, seria quase impossível realizar uma explicação baseada na comparação como a que desenvolvemos aqui.
A socialdemocracia, o marxismo-leninismo, o anarco-sindicalismo falam de passagem do econômico ao político ou de transformação das lutas imediatas em lutas históricas, como se as mesmas fossem de natureza diferente, e, em geral, atribuem tal mudança à contribuição da consciência ou da ação política do partido. Para nós, que recusamos tal separação (ver as Tesis de orientación programáticas, GCI, números 15, 31, 32 e 33), trata-se da generalização das reivindicações imediatas. Isto é possível porque as próprias contradições de classe contêm sua generalização, pois toda luta contra as condições concretas de exploração, contra as medidas burguesas de austeridade (aumento da taxa de mais-valia), ainda que a mesma se desenvolve num só lado, contêm a luta contra a sociedade de exploração. A ação política dos elementos de vanguarda não é o determinante deste salto, pelo contrário, é o desenvolvimento dos interesses do proletariado, que não pode obter a vitória em nenhuma luta particular, que não pode obter satisfação em nenhuma reivindicação particular e que tende, inclusive contra a intervenção dos ativistas políticos, a se generalizar em luta contra o capital e o estado. Em geral, como dissemos na tese número 15 (ver idem), o salto qualitativo se concretiza na superação das organizações que expressam reivindicações parciais (organizações de trabalhadores, associações classistas, comitês de fábrica...) e a passagem a organizações territoriais onde se encontrem todos os proletários, mulheres e homens, empregados e desempregados, velhos e crianças... como os conselhos operários, os comitês de abastecimento, as assembléias de uma ou várias cidades.
Já em meados do século XIX, Marx criticava a pretensão de que um movimento seria mais global pelo fato de ser mais político e se basear na vontade política revolucionária, e mostrava que, pelo contrário, a rebelião proletária, mesmo que acontecesse num só distrito, contêm a totalidade. Ver, a propósito, a discussão com Ruge: Notas críticas al artículo 'El Rey de Prusia y la reforma social. Por un prusiano'.
Conscientes ou não, os proletários que assumem e reivindicam a ação violenta minoritária estão rompendo com a democracia, mesmo que ela se chame "democracia operária"; estão assumindo o fato de que a ação revolucionária não tem nada em comum com as consultas democráticas ou os congressos, que o proletariado só pode se constituir em força, coordenando e centralizando as diferentes expressões que assumem, sem nenhuma consulta prévia, as diferentes tarefas revolucionárias. É através desse processo, dessa afirmação da comunidade de interesses e de luta, que o proletariado vai se reconstituindo como classe, e portanto se organizando em partido, oposto a todos os partidos existentes.
Uma crítica dessa ideologia tal como se apresenta hoje pode ser encontrada no texto Abandona o ativismo, publicado em inglês, em Reflections on June 18. Contribution on the politics behind the events that ocurred in the city of London on June 18, 1999. Edit. Collective, outubro de 1999. Existe versão em castelhano. O texto tem várias contribuições interessantes, no entanto devemos assinalar que seus autores têm uma concepção ideológica e intelectualista na medida em que não analisam o ativismo como parte da prática social do proletariado internacional, de suas forças, suas debilidades (e portanto da correlação de forças em relação ao capital), como um produto objetivo do movimento, mas exclusivamente como o produto subjetivo dos "ativistas", e mais ainda na medida em que realizam essa crítica sem apresentar nenhuma contraproposta revolucionária, sem reivindicar a atividade revolucionária específica que caracterizou sempre as frações mais decididas do proletariado, sem reivindicar a necessidade da organização revolucionária internacionalista.
Nós não retomamos nunca a palavra "princípios" para definir nosso movimento histórico, porque o mesmo não parte de princípios. Recorde-se que a primeira formulação do que depois seria o Manifesto do Partido Comunista, de 1847, efetuada por Engels, levava o título de Princípios do comunismo, e que os próprios Marx e Engels consideraram inadequada esta formulação.
Ver Falso recurso al activismo, en Invariance, número 3.
Claro que se poderá dizer que a classe explorada sempre atua determinada pela classe que domina, que o capital é o sujeito desta sociedade e que o proletariado só pode aparecer como negação. Se bem que isto é verdade, no caso analisado não estamos diante de uma reação espontânea e generalizada do proletariado frente a um ataque burguês, onde, embora este último determine a ação também pelo ataque, não sabe nunca como reagirá, quando decidirá sua ação, nem que tipo de ação desenvolverá. Pelo contrário, no caso das cimeiras, este último também está totalmente determinado e inclusive se conhece publicamente de antemão.
Extratos de panfletos de companheiros, conversações e cartas recebidas.
"Radicalizar", no sentido imediato e errôneo que utiliza a maioria desses grupos, na realidade pseudo-radicais, significa dar um caráter violento ao cortejo socialdemocrata, ultrapassar com a "ação direta" (ver, mais adiante, a crítica desta utilização do termo "ação direta") a missa da ATTAC, mas que no fundo se opõem à única política que interessa ao proletariado, que é a de se situar fora e contra essa manifestação contra-revolucionária. Para nós, radicalizar quer dizer, pelo contrário, ir à raiz, lutar para destruir as próprias raízes da sociedade burguesa, ou seja, para destruir seus fundamentos, a mercadoria, o valor, o trabalho assalariado..., "pequenas questões" programáticas das quais esses grupos nem falam.
Este é um dos grandes problemas do proletariado. A socialdemocracia não deve ser criticada por ter desvios, mas por ser parte do capital; não deve ser denunciada como pacifista, deve ser enfrentada pela violência revolucionária porque seu pacifismo não é mais do que um elemento ideológico para aplicar melhor sua violência contra-revolucionária (recordar que a socialdemocracia sempre usou a violência... contra a revolução).
A "ação direta", com tanta mediação, também se transforma numa caricatura!
Eis aqui a grande preocupação da burguesia, em especial, a partidária da libertação nacional, expressa por um jornalista francês: "[...] Os jovens em Cabila não crêem em nada, só crêem na violência, não lhes interessa em absoluto o independentismo, as organizações independentistas fazem o possível, mas não conseguem controlá-los".
Bernstein queria suprimir o "hegelianismo" em Marx, porque lhe incomodava tudo isso de transformação da quantidade em qualidade, da transformação da evolução da contradição em revolução..., e seu "blanquismo", porque o horrorizava ainda mais a questão de que aquela revolução proletária implicava necessariamente a conspiração revolucionária e a insurreição. Hoje também é moda no movimento esta tendência a evitar a ruptura, o salto de qualidade, a revolução, a insurreição.
O "antiimperialismo" é, na realidade, sempre a defesa do capitalismo imperialista. Ser antiimperialista sem ser anticapitalista não só é um absurdo, porque todo capitalismo é necessariamente imperialista, porque todo estado (é imperialista, pois), ao mesmo tempo que assegura a exploração e opressão de "seu" proletariado, representa no campo da luta imperialista uma fração burguesa contra outra, mas de fato é pró-capitalista. Isso se traduz na oposição exclusiva a determinada fração, determinada instituição (OTAN, FMI, BM, como antes o Pacto de Varsóvia) ou determinado país, o que de fato é capitalista e, por acréscimo, totalmente imperialista.
A essência do capitalismo é invariante. Todas as oposições entre fases de capitalismo competitivo e monopolista, de livre concorrência e imperialista, só serviram como cobertura ideológica do oportunismo, para sua defesa do "bom lado" do capitalismo: "democracia", industrialização, e, na realidade, a tal ou qual bloco na guerra imperialista.
É difícil traduzir do francês esta expressão: cause toujours, mon lapin.
A organização do proletariado em força histórica requer uma estruturação totalmente antagônica a essas divisões burguesas. Tanto mais rica será uma organização proletária, quanto mais saiba juntar em suas células proletários de culturas, sexos, origens, idades, raças, práticas anteriores... diferentes e superar as barreiras e os compartimentos que o capital nos impõe, para a reformação da comunidade humana mundial.
O que terão visto de novo!!!
Assinam este folheto as seguintes organizações: Juventude em Luta Revolucionaria, Jornal Espaço Socialista, Comitê Marxista Revolucionário, Anarko-Punks, Movimento Che Vive (RJ), Coletivo pela Universidade Popular (Porto Alegre), Secretaria Estadual de Casas de Estudantes de Goiás, Grupo Cultural Semente de Esperança, Ação Global por Justiça Local, Resistência Popular - RJ/PA, Núcleo Zumbi Zapatista - Abc Paulista, Estratégia Revolucionária, Socialismo Libertário -Brasilia, Federación Anarquista Uruguaya, Ação Revolucionária Marxista (RJ), Frente de Luta Popular, Juventude Avançar na Luta, Liga Bolchevique Internacionalista, Agrupación En Clave ROJA, Espaço Popular. Endereço para contato: gnilock@hotmail.com.
Considerar que estas instituições são as que exploram é evidentemente uma revisão, uma falsificação do próprio conceito de exploração como explicamos noutra parte deste mesmo artigo
Ver nosso artigo La cuestión de la deuda: basta de versos, em Comunismo nº 19, e Deuda externa: las fantasías sin salida, em Comunismo nº 21, e nos Cuadernos para pensar y actuar, revista editada na Argentina
O que se chama erroneamente de capitalismo de estado, como se o capitalismo mudasse de natureza pela estatização jurídica, que não coincide necessariamente com a real concentração, centralização e estatização econômica do capital, tal como expusemos em reiteradas ocasiões.

Decidimos não traduzir este termo e deixá-lo em francês, porque qualquer uma das traduções propostas tem um significado social ainda mais pejorativo que em francês. A palavra casseur, casseuse, vem de casser, ou seja, "quebrar", e significa literalmente "quebradores" e "quebradoras". A imprensa burguesa utiliza outros como destruidores, vândalos, arruaceiros, delinqüentes, kaleborrokas (termo usado no País Basco)...

No original francês de que traduzimos se diz: les emmeutières et emmeutiers, literalmente "as revoltadas e os revoltados". Além de nossa recusa da moda do politicamente correto da esquerda em geral, de pôr cada sujeito em feminino e masculino ou com a @, pretendendo assim mostrar que os autores se opõem assim (!) ao patriarcalismo da sociedade capitalista, devemos assinalar que, não pondo esses sujeitos em função dos sexos, não quisemos nunca distorcer o conteúdo, quando decidimos traduzir por: "as e os que assumem a revolta". Também seria possível traduzir como "amotinadas" e "amotinados", mas isto faz referência a um tipo de revolta particular, um motim, que nos parece também inadequado.

Em diferentes insurreições proletárias, como na Alemanha, em 1919, ou na Espanha, nos anos trinta, os revolucionários, quando impunham a violência de classe numa cidade, queimavam, por exemplo, o dinheiro, em seu combate para destruir o dinheiro e o capital. Mas é claro que estamos num caso totalmente diferente; tratava- se de um ato simbólico em pleno desenvolvimento insurrecional da revolução.

Sem obviamente entrar aqui em todas as confusões que estes "anarquistas" aceitam da ideologia dominante. Um único exemplo basta: dizer "contra a mundialização dos mercados" implica um leque muito grande de concessões à ideologia do novo da socialdemocracia.

Seria impossível citar aqui todos os nossos trabalhos de crítica à democracia que põem em evidência que a mesma é a chave da dominação capitalista. Só mencionaremos dois: em Comunismo nº 1 (português): Contra a democracia: contra o mito dos direitos e das liberdades democráticas, e em Comunismo nº 32 (espanhol): Memoria obrera: La mitificación democrática.

Ver nossa série de trabalhos sobre o período de 1917 a 1923, e, em particular: Comunismo nº 15 e 16 (espanhol): Rusia, contrarrevolución y desarrollo del capitalismo, em especial os artigos La concepción socialdemócrata de transición al socialismo e Contra el mito de la transformación socialista. La política económica y social de los bolcheviques y la continuidad capitalista; e em Comunismo nº 17 e 18, em especial o artigo La política internacional de los bolcheviques y las contradicciones en la Internacional Comunista.

Citemos uma pérola de tal concepção que não requer nenhum tipo de comentário: "De todas as formas, o programa de proletariado teria sido realizado pelo capital! A república democrática universal existia: era a ONU (Organização das Nações Unidas) mais o FMI (Fundo Monetário Internacional). O desenvolvimento das forças produtivas também: as cadências infernais mais a alimentação".

Não consideramos pertinente nem importante entrar em outras elocubrações de Theorie Communiste, porque é um grupo de iniciados que redefiniu tudo e uma discussão a respeito implicaria longuíssimos esclarecimentos terminológicos. Digamos simplesmente que os aspectos mais sobressalentes deste grupo, como a teoria da superação do programatismo, a superação histórica da transição, a teoria da autonegação do proletariado sem sua afirmação como classe, se baseiam em utilizar como sinônimo de "programa", o programa da esquerda da socialdemocracia; como concepção da transição, a leninista, como afirmação do proletariado, a afirmação do poder dos bolcheviques na Rússia... Se, pelo contrário, definimos aqueles termos em função da crítica comunista contra os bolcheviques (crítica reiniciada durante a Terceira Internacional pelo que se chamou Esquerda Comunista Alemã, italiana..., e em geral internacional), toda essa construção baseada nos conceitos socialdemocratas não apresenta absolutamente nenhum interesse.
Luta de sempre, que durante a guerra, se concretiza no derrotismo revolucionário. Ver Invarianza de la posición de los revolucionarios frente a la guerra. Significado de la consigna de siempre de «derrotismo revolucionario», em Comunismo nº 44.

Centralização da direção, direção centralizada não quer dizer nunca (mesmo que a antiautoritária ideologia dominante grite ao céu!) chefetes, burocracia ou regime de quartel, como temos invariavelmente no capitalismo e no estado capitalista, e até nos grupos marxistas-leninistas ou nos libertários. Muito pelo contrário, por mais descentralizada que seja a ação, que o proletariado revolucionário saiba para onde deve se dirigir o movimento; que cada parte do movimento saiba onde concentrar suas forças e como golpear, inclusive simultaneamente o inimigo; que cada parte ou fração local do proletariado mundial atue como parte de um mesmo corpo. Isso é o que os revolucionários denominam "centralismo orgânico", em contraposição ao centralismo democrático do capitalismo.
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Acerca do mito da globalização

"Bretton Woods era um sistema global, assim, o que realmente ocorreu foi a mudança de um sistema global (hierarquicamente organizado e em sua maior parte controlado politicamente pelos Estados Unidos) para outro sistema global mais descentralizado e coordenado mediante o mercado, fazendo com que as condições financeiras do capitalismo sejam muito mais voláteis e instáveis. A retórica que acompanhou essa mudança implicou profundamente a promoção do termo "globalização" como uma virtude. Nos meus momentos mais cínicos encontro-me pensando que foi a imprensa financeira que levou todos (eu, inclusive) a crer na "globalização" como em algo novo, quando não era mais do que um truque promocional para fazer melhor um reajuste no sistema financeiro internacional".

Globalisation in question, David Harvey, 1995.

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"Uma parte da burguesia deseja remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa. A esta categoria pertencem os economistas, os filantropos, os humanistas, os que pretendem melhorar o destino das classes trabalhadoras, os organizadores de beneficência, os protetores dos animais, os fundadores das sociedades de temperança, os reformadores domésticos de toda laia. E até se chegou a elaborar este socialismo burguês em sistemas completos."

Manifesto do Partido Comunista, 1947








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