quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SOMOS TODOS CRIMINOSOS PARA OS PATRÕES, SOMOS TODOS COMPANHEIROS PARA A REVOLUÇÃO



“A um desses dois supostos basistas deve corresponder o primeiro retrato-falado, feito na semana passada: altura 175 cm, moreno. Seria o mesmo rapazola visto com um componente dos CRAC bolonheses, organização considerada vizinha à área cinzenta próxima da subversão vermelha. Suspeita-se que o comando que assassinou Biagi teria encontrado em Bolonha uma célula das novas Brigadas Vermelhas atuando há muito tempo”.

Il Giornale, quinta-feira, 28 de março de 2002

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Ambos, Il Giornale e o Domani, de 28 de março 2002, nos informam que continuam as investigações sobre CRAC, indicado como formação “basista” das Brigadas Vermelhas – Partido Comunista Combatente (BV-PCC).

Sabemos como, nos últimos anos, o Estado e os órgãos repressivos utilizaram cada fato para golpear os grupos comunistas e revolucionários e canalizar democraticamente o explícito antagonismo social. Um exemplo foi dado pelo sindicato, abafando greves espontâneas contra a revogação do artigo 18 depois do caso Biagi. É natural que os patrões e o sindicato se defendam, buscando esvaziar as mobilizações que, se intensificadas, poderão levar os proletários à consciência de sua força coletiva como classe.

O Estado, os patrões e os reformistas utilizam todos os métodos para isolar, incriminar e encarcerar os companheiros empenhados no desenvolvimento da autonomia proletária. A concepção da sociedade como um corpo sadio, infectado por vírus malignos é a interpretação da realidade fornecida pelos lacaios do capital, para esconder a realidade. A atual sociedade está dilacerada por imensos conflitos internos. A crise se manifesta com a intensificação das guerras em nível mundial e uma precarização massiva da força de trabalho. Amplos segmentos do proletariado da metrópole capitalista vivem em condições sub-humanas. Os proletários imigrados e os precários sabem muito bem quais são “gostosos frutos” que pode dar o capitalismo. Os vários governos têm dedicado sua maior atenção à intensificação das punições, além de incrementar o encarceramento para os segmentos proletários.

Cresce, assim, a inquietação quanto ao futuro, mesmo por parte da burguesia, que não conseguindo controlar a crise, se vê também mergulhada numa situação social de extrema instabilidade.

Reafirmamos nossa posição no interior do movimento revolucionário e a necessidade, para os proletários, de agir coletivamente, enquanto classe que precisa, não de salvadores, mas de adquirir a consciência de sua própria força. O proletariado, a última e mais revolucionária de todas as classes exploradas, no interior da crise do capitalismo está desenvolvendo, no cotidiano, o movimento que abole o estado de coisas atual. “A espera do herói que incendeie e organize a luta é como a injeção de uma substância que os farmacêuticos sugestivamente denominaram heroína. Depois de um rápido e patológico acréscimo de energia, ocorre a prostração e o colapso. Não há necessidade de injeções para fazer uma revolução numa sociedade brutalmente grávida de dezoito meses e, no entanto, infecunda.

Rechacemos de vez toda e qualquer ilusão de êxito mediante o recurso ao líder genial. Façamos nossa a fórmula do comunismo e construiremos a sociedade que terá superado os heróis” (il Programma Comunista, 1953)

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Sabemos o quanto é difícil pôr no centro de um debate a questão da força e da prática da ação direta nos locais de trabalho e de moradia, no território em geral. Ao mesmo tempo, vemos como se fosse uma incapacidade de julgamento por parte das estruturas e dos coletivos revolucionários no enfrentamento de semelhante questão, que não se limite a criticar o governo, xingar os patrões tão maus e se lamentar de um sindicato corrupto... oferecendo como solução restritas fórmulas organizativas.

Inevitavelmente, nestes dias a atenção está voltada para a ação das BV-PCC. Para julgar as BV-PCC, não se deve considerar a ação isolada, mas enquadrar cada ação numa linha política, compreender-lhe os desenvolvimentos e relacioná-la à sua produção teórica e política, à sua história.

O assassinato de Biagi reitera uma estratégia de luta que as BV-PCC muitas vezes destacaram como central neste período, o dito ataque ao coração do Estado. Imediatamente, salta aos olhos que ocorre uma supervalorização do elemento subjetivo nos mecanismos de gestão do capital e do Estado. O Estado não tem um coração, e se articula multiformemente.

Essa abordagem política gira inteiramente em torno do primado da vanguarda política sobre a classe, exterior ao nível real de enfrentamento de classes. Na elaboração teórica das BV-PCC, há uma forte dimensão terceiro-mundista. Enfatizando os movimentos antiimperialistas de matriz burguesa (nacionalistas, movimentos religiosos antiocidentais) situam-se fora de uma análise que veja, na luta de classes, o motor da transformação social. Ao mesmo tempo, a avaliação política que as BV-PCC fazem do movimento proletário na luta pelo comunismo concebe a revolução como um processo por etapas, entre as quais a aliança com a burguesia progressista e antiimperialista, pontos que historicamente a autonomia proletária ultrapassou com a prática de suas lutas. Assim, também, a definição da URSS como socialista, definição que rejeitamos completamente quando afirmamos que a URSS era um regime de capitalismo de Estado, resultante de uma das piores contra-revoluções jamais conhecidas pelo proletariado internacional.

O que parece uma tentativa malograda de elevar-se ao plano de enfrentamento, independentemente das relações de força entre as classes, nós o vemos como uma avaliação da crise econômica que serve de pretexto para não encarar o problema da autonomia real que o proletariado deve desenvolver, e da fragmentação das lutas neste momento provocadas pela estratificação no interior da classe operária.

Porém, recusamo-nos a nos unir ao coro dos que, por oportunismo e infâmia, disputam entre si para ser “os mais distantes”, “os mais democráticos”, “os melhores antagonistas das BV-PCC”.

Nós, do CRAC, temos uma teoria e prática de luta, na fábrica e na sociedade, que se qualificam por si mesmas. Não temos, portanto, que recorrer a argumentos ridículos e estúpidos (as BV-PCC são manobradas pelos fascistas, pelos serviços secretos...), hostis à revolução.

E porque nossa posição quanto ao uso da força e sobre as formas de luta é diversa da posição das BV-PCC, para que não seja mal entendida e anexada ao “frentismo democrático”, queremos brevemente definir o que é, para nós, a autonomia proletária.

Para o CRAC, a autonomia proletária é um processo histórico através do qual o proletariado se torna consciente da própria condição e dos meios adequados para supera-la:

recusa da submissão às leis da economia que o capital apresenta como naturais. Na prática, recusa do produtivismo e da ideologia da hierarquia do trabalho.
organização da violência proletária como ilegalidade e antiinstitucionalidade, capaz de se contrapor à violência estatal na defesa da classe. Isto entendido não como construção do braço armado proletário, mas como autogestão da luta pelo próprio proletariado.
crítica e superação das concepções hierárquicas e autoritárias no terreno social e individual (moralismo, repressão, família etc), que funcionam submetendo os proletários à ideologia da classe dominante. Tudo isso, construindo momentos de organização que, negando a divisão entre funções dirigentes e executantes, comecem a unificar as atividades manual e intelectual, hoje na luta, amanhã em todo o complexo da vida social.
Solidariedade a todos os companheiros e proletários encarcerados nas prisões do Estado, nas fábricas, nas escolas, nas casas...

É este mundo que precisamos destruir.

Pela paixão comunista

28, março de 2002

CENTRO de PESQUISA para a AÇÃO COMUNISTA (página: http://www.autprol.org)

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