quarta-feira, 17 de outubro de 2012

APRESENTAÇÃO DE PRECARI NATI

Nosso coletivo nasceu há 4 anos, tendo passado por várias modificações. Inicialmente, era formado por muitos estudantes e os trabalhadores eram minoritários. Depois, os estudantes foram saindo aos poucos, por diversas razões. Examinando politicamente a questão, concluímos que os estudantes, talvez por não serem uma classe, tendem a conceber o aumento da riqueza social – abstraindo a precariedade, o desemprego, o desperdício de recursos produtivos... – como resultado de um acréscimo da irracionalidade do capital: militarismo, racismo, desperdício, num mundo ainda dominado pela fome. Portanto, não entendem a negação do capitalismo como o fazia Marx (isto é: como produto dos limites que o capital estabelece para si mesmo), mas como abstrata contraposição entre racionalidade e irracionalidade, entre as necessidades humanas e os lucros do capital. Além disso, os estudantes assimilam o comunismo como uma opção ética ou um engajamento intelectual, repetindo insistentemente a ladainha do aburguesamento da classe operária, crítica totalmente estranha à elaboração marxiana que rapidamente abandonam quando o proletariado intervem como força social autônoma. É verdade que, durante a maior parte do tempo, o proletariado não age enquanto classe, limitando-se reagir ao movimento do capital, como elemento conflitual mas compatível com a acumulação capitalista. Porém, quando o proletariado age como elemento antagônico e consequentemente anticapitalista, exercendo sua crítica prática do capital, torna-se possível uma observação científica independente. Também é verdade que a dinâmica do capital, ao obstruir sua valorização, aguça a crise e serve de estímulo à radicalização da luta. Precari Nati é um grupo de trabalhadores que instituiu, como referência auto- organizativa, uma rede, cuja função é conectar os grupos e indivíduos que atuam em seus locais de trabalho, experimentando formas de intervenção que ultrapassam a forma sindical (seja ela alternativa ou oficial). Se, num primeiro momento, o coletivo agiu por intermédio de um centro social legalizado, logo abandonou essa prática, ao constatar a inconsistência de tal projeto. Faltava ainda a compreensão do espaço em que se desenvolvem a exploração e o antagonismo de classes, onde se podem estender e unificar as lutas, fomentando as experiências de contrapoder efetivo no enfrentamento com os patrões. Considerando a alta rotatividade da mão-de-obra, a mobilidade do proletariado e a acelerada circulação das experiências de luta entre as diversas categorias, o coletivo estruturou-se sob a forma de rede territorial, para estimular a auto- organização dos trabalhadores e sua intervenção em cada empresa. Com o tempo, adquirimos a inserção e o conhecimento da realidade laboral, mediante pesquisas efetuadas junto a diversas categorias profissionais (construção-civil, alimentação, metalmecânica, telecomunicações...) e, através de encontros intercategoriais, fomos divulgando e aperfeiçoando nosso boletim. Nossa faixa etária (em torno dos 25 anos) e nossa condição (trabalhadores precários) facilitaram a identificação de um campo de atuação comum. Todavia, nos pensamos e afirmamos como rede autônoma de trabalhadores (precários ou não). Assim, mesmo envolvidos na militância específica dos nossos locais de trabalho, nossa perspectiva é a da independência de classe: nas diversas situações de exploração do trabalho (contratos, flexibilidade, acidentes, crises...), sabemos que o hiperativismo não resolve a questão das relações entre as classes sociais. Enfatizamos a importância de analisar a situação econômica e a composição de classe do proletariado, além de fazer emergir, potenciando-as, manifestações antagonistas espontâneas. O que caracteriza nosso método (analítico, de pesquisa e de ação) é que não seguimos nenhuma "escola" do velho movimento operário. Mas isso não nos impede de estabelecer conexões entre resultados de diferentes análises, atuais e precedentes. Em síntese, os modelos analíticos utilizados são três: - o "anarco-conselhismo", que resgata e assimila a experiência sindicalista revolucionária, em especial a dos IWW, juntamente com a do comunismo dos conselhos operários, em especial a elaboração de Paul Mattick e da G.I.K holandesa, de maneira crítica e não apologética. - o obreirista italiano (Quaderni Rossi), priorizando algumas de suas categorias analíticas (composição estrutural de classe, fábrica e território, etc.) às conclusões, ou melhor, aos preconceitos "políticos" desta escola. - a experiência proletária, na elaboração dos companheiros de Socialisme ou Barbarie e Informations et Correspondence Ouvriére, na França; Solidarity, na Inglaterra; Correspondence, nos EUA, relativa à definição de pesquisa operária e de autoformação proletária na luta; finalmente, ainda que em menor dimensão, na Itália, essa elaboração será levada adiante por Danilo Montaldi. Nada temos em comum com o leninismo, doutrina segundo a qual a consciência de classe deve ser inculcada na mente dos operários pela vanguarda política. Afirmamos que os operários elaboram sua própria consciência, juntamente com sua organização e os instrumentos necessários para a luta de classe. A função das minorias revolucionárias do proletariado é fornecer esses instrumentos: jornais, volantes, panfletos, locais, contra-informação, além de viver e impulsionar a extensão das lutas, radicalizando o antagonismo entre trabalhadores e patrões, atualizando a potência do desejo comunista. Os proletários não devem adotar as palavras-de-ordem de nenhum grupo - seja qual for, inclusive o nosso. Devem aprender a pensar e decidir por si mesmos, atualizando em sua praxis uma das mais fecundas conclusões de um certo K.M.: "O que importa não é o que o proletariado pensa de si mesmo, mas o que ele é e o que terá de fazer, de acordo com o seu ser." Em suma, para nós continua sendo de vital importância a consigna da primeira Internacional: "A emancipação dos trabalhadores é tarefa dos próprios trabalhadores." Rede Operária PRECARI NATI (email: ti14264@iperbole.bologna.it), Bolonha. Tradução livre (resumida e adaptada) feita pelo coletivo de tradutores do Grupo Autonomia Biblioteca virtual revolucionária

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