quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Biblioteca Virtual Revolucionária

O Capital transforma tudo em mercadoria, isto é, algo objetivamente mensurável e substituível por uma abstração quantitativa - o dinheiro. Nem mesmo o ser humano conseguiu escapar. Ser prático e objetivo, autocriador, o homem foi alienado de sua essência sob o domínio do Capital. O atual estado de coisas (nos EUA e na Nova Zelândia, no Chile e na Inglaterra, em Portugal e no Japão, na África do Sul, em Cuba e no Brasil – resumindo, no mundo inteiro) caracteriza-se por terem sido formalmente abolidas a escravidão e a servidão. Todos os homens são livres e iguais, enquanto vendedores e compradores de mercadorias. Conseqüentemente, aqueles que não têm mercadorias para vender (que outrora seriam escravos ou servos e que agora são os proletários, a quase totalidade da população) são forçados a escolher: a morte ou a venda do que ainda lhes pertence, os braços, as mãos, os pés, o sentimento, o raciocínio, os gestos... sua essência humana, sua atividade vital, sua existência criativa, sua força-de-trabalho em troca de um salário. Desse modo, o ser humano é constrangido a aceitar a mais desigual das trocas: a da vida pela sobrevivência, sendo forçado pela necessidade a fazer de suas aptidões um objeto de consumo e vendê-las no mercado de trabalho. Tendo conseguido vender sua força-de-trabalho, a realização do proletário se torna sua desrealização, a afirmação do proletário se torna a negação de si como homem, pois o trabalhador não age como ser humano, mas como força-de-trabalho, como mercadoria, subordinado à vontade do capitalista, em troca de um salário. O capital reduz toda atividade humana a trabalho e toda realização do ser humano a mercadoria. Tudo que os trabalhadores fazem existir por meio de suas atividades (alimentos, ruas, cadeiras, poemas, meios de produção, computadores, casas...) é radicalmente separado deles e se torna propriedade privada do que ou de quem comprou sua força-de-trabalho. Com isso, a atividade dos homens se coagula numa esfera separada, que se volta contra os próprios homens que a produziram, sua alienação é total. Nessas condições, quanto mais os homens transformam a realidade (todos os aspectos do mundo), tanto mais essa realidade se torna estranha e hostil para eles, tanto mais eles se sentem estranhos em seus próprios atos e hostis para si mesmos, enquanto reproduzem ampliadamente sua própria condição de vendedores da mercadoria força-de-trabalho, desvalorizando-se ao produzir mais-valia. Essa crescente reificação da atividade passada (trabalho morto), que suga a atividade viva do trabalhador é o Capital, cujos proprietários - os capitalistas - podem ser indivíduos (como nos EUA, Brasil etc.) ou Estados (em Cuba, China, Coréia do Norte etc.). A recorrente crise econômica que impregna a "globalização" demonstra que o atual desenvolvimento das forças produtivas não mais permite que o valor, em escala mundial, seja produzido e mensurado pelo trabalho vivo, que, com a aplicação da robótica e da micro-eletrônica, tende a ser anulado no processo produtivo. Portanto, o dinheiro começa a perder seu fundamento, fica "sem pé nem cabeça" e a crise se agrava ininterruptamente. Doravante, a sobrevivência do Capital é sua autofagia, sua autodestruição - ele já não pode dar um passo sem tropeçar nas próprias pernas. Desse modo, a luta pela abolição revolucionária do trabalho, hoje uma necessidade óbvia, não pode mais ser acusada de utópica, uma vez que o capitalismo mal sobrevive à lembrança espectral dos "tempos prósperos". No atual estado de coisas, toda reforma é simples maquiagem da crise do Capital. É o próprio capitalismo que torna sua condição de possibilidade, o trabalho assalariado, impossível. Portanto, a revolução social é a única perspectiva, além de humana, realista e necessária. Trata-se, nada mais nada menos, de o ser humano se auto-instituir como única medida de todas as coisas, abolindo o dinheiro, o trabalho e o Estado. Trata-se, pois, de efetivar a comunidade humana mundial, na qual as forças produtivas disponíveis serão direcionadas para realizar concretamente os seres humanos em suas atividades, como tais: poesia, gozo, arte, inseparáveis entre si e da vida como um todo. A economia e a política serão extintas, juntamente com as demais esferas separadas, alienadas e especializadas, com a destruição do Estado e a supressão do Capital. A essência humana será a comunidade dos indivíduos livremente associados, na cotidiana atividade de transformação das circunstâncias e de si mesmos, atividade que enfim lhes permitirá tornarem-se seres humanos, com e para os outros. Esta biblioteca tem como proposta difundir os textos das diversas linhas de pensamento que abordam essas questões, sob a perspectiva da superação revolucionária do atual estado de coisas.

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