quinta-feira, 18 de outubro de 2012

UMA REDE: "ECHANGES ET MOUVEMENT"

ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS Uma rede, assim como um grupo ou uma coletividade, é algo que possui vida própria e, ao mesmo tempo, um desenvolvimento vinculado à transformação da sociedade como um todo. Algumas pessoas saíram de Echanges; outras decidiram ingressar, por razões diferentes das que haviam motivado seus primeiros participantes. Em 1980, alguns de nós tentaram expor mais claramente as posições comuns de Echanges, até então compartilhadas por todos. As teses produzidas são um tema para a discussão permanente e não podem ser consideradas como a plataforma de Echanges, mas como qualquer coisa que pode ser melhorada mediante o confronto, tão aberto e freqüente quanto seja possível. Portanto, o texto a seguir não é o resultante daquela discussão, mas a última versão aprovada. 1 - Na sociedade capitalista, a verdadeira contradição não está no plano das idéias (revolucionárias, reformistas, conservadoras, reacionárias, etc...), mas no plano dos interesses de classe. De fato, nenhuma vontade ou desejo pode ultrapassar a produção mercantil ou abolir o salário. A vontade ou o desejo somente pode emergir como resultado da luta de classes e como decorrência da situação da classe operária no interior das relações de produção capitalistas. 2 - Segundo uma opinião muito difundida, "a consciência de classe" e a "unidade" são pressupostos necessários para expressar um comportamento revolucionário ou "uma ação da classe operária". Essa visão entende mal ou negligencia a influência recíproca entre consciência e ação. Se os trabalhadores não agem como uma "classe revolucionária", não é porque, antes disso, têm de se tornar "conscientes" do que querem. Assim, também, a "unidade" não deve ser vista como pré-condição para a luta, mas se desenvolve no interior da própria luta e é o seu resultado. Os trabalhadores são a "classe revolucionária" porque sua posição, no interior da produção capitalista, torna inevitável que a simples defesa de seus interesses contribua para minar as bases da ordem existente. A luta de classes transforma a mentalidade das pessoas envolvidas. Lutas desse tipo, nas fábricas ou em outros lugares, são potencialmente revolucionárias. 3 - O desenvolvimento da luta de classes, em todas as suas diversas e mutáveis formas, é muito mais importante do que o desenvolvimento do autoproclamado "movimento revolucionário", qualquer que seja o significado dessa expressão. 4 - A ruptura com todas as formas de exploração (e também com toda prática e pensamento político: reformismo, etc.) não é uma questão concernente à discussão teórica entre concepções diferentes, mas um problema que diz respeito à luta de classes e à prática dos trabalhadores; prática que resulta de suas cotidianas condições de exploração. 5 - Os sindicatos são instituições cuja função na sociedade capitalista é regular o mercado de trabalho. Para estar em condições de desempenhar sua função, devem equilibrar, de um lado, os interesses dos trabalhadores (tentando manter seu consentimento, mesmo passivo) e, doutro lado, os interesses dos capitalistas (procurando ser útil, para obter a confiança do aparato dirigente) . Porém, a tendência histórica do capitalismo moderno é no sentido da completa integração dos sindicatos. Adaptando seu objetivo inicial a essas condições, os sindicatos são, cada vez mais literalmente, um mecanismo que tenta disciplinar os trabalhadores. Os apelos dos que recusam a sindicalização, ou daqueles que apóiam os sindicatos, assim como as intenções otimistas de reformá-los não têm sentido. O que importa é compreender o papel específico e concreto do desenvolvimento dos sindicatos na luta de classes; é perceber que o mesmo grupo de trabalhadores que, num dado momento, segue o sindicato, lutará contra ele, na prática, quando seus interesses de classe o impulsionarem a destruir o atual estado de coisas. Em geral, podemos afirmar que nos países altamente desenvolvidos, a evolução pós-bélica da luta de classes reduziu enormemente as margens de mediação entre as classes e criou uma situação na qual os trabalhadores se encontram permanentemente contrapostos aos sindicatos. O desenvolvimento da atual luta de classes tornou obsoleto qualquer projeto sindicalista. 6 - Por razões semelhantes, é inútil defender ou atacar o parlamento. O destino da instituição parlamentar depende exclusivamente da luta de classes no interior do sistema capitalista. Sejam quais forem as razões dos que se dizem "revolucionários" para não participar dos trabalhos parlamentares e não votar nas eleições, os trabalhadores terão outros motivos. Se, no dia das eleições, os trabalhadores não comparecem para votar, não é por terem sido convencidos pelas propostas revolucionárias. Quando se abstém, é porque o parlamento, as forças políticas em geral já não lhes dizem nada, porque compreenderam que nenhum partido político expressa seus interesses e que não faz diferença se um partido ou outro assume o governo. Por outro lado, os trabalhadores que votam e compartilham as ilusões eleitorais não se recusarão a participar das greves selvagens e ocupações de locais de trabalho, se perceberem que esses meios de luta são necessários. Em ambos os casos, observa-se o mesmo comportamento prático, apesar das diferentes atitudes quanto às eleições. Assim como, na questão parlamentar, não precisam de uma teoria revolucionária para agir, os trabalhadores atacam a ordem social burguesa sem necessariamente estar conscientes de que o fazem. 7 - Atualmente, o "movimento revolucionário" (e os "grupos revolucionários" que o compõem) está fraco e atomizado. Sua debilidade resulta do fato de que os trabalhadores atuam autonomamente, visando a seus próprios fins. Cada dia fica mais claro que as razões e os métodos de sua ação não podem ser ensinados por nenhum grupo ou movimento constituído com esse objetivo, seja ele interno ou externo à classe operária. A luta de classes se desenvolve independentemente dos "grupos revolucionários" e do "movimento revolucionário". O grau e a importância da propalada "intervenção dos grupos revolucionários nas lutas" não é determinante nem influencia decisivamente o grau e a importância da luta proletária. Se podemos participar individualmente de uma luta é porque somos parte da coletividade envolvida nela, ou porque atuamos num organismo criado durante a luta e especificamente para essa ocasião. Consideramos que, fora dessas situações, a troca de informações, o debate e a busca de perspectivas teóricas são instrumentos essenciais de nossa atividade que poderão ser úteis em outras circunstâncias. 8 - Em termos gerais, revolução é usualmente definida como destruição do capitalismo. Se quisermos caracterizar mais exatamente o que entendemos por revolução, podemos afirmar que para nós significa o declínio e a supressão de todas as formas práticas de "representação" e repressão dos interesses dos trabalhadores, bem como da expressão ideológica de tais organizações coercitivas, resultantes da simultânea generalização da praxis autônoma dos trabalhadores. Echanges et Mouvement Biblioteca virtual revolucionária

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