quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Teses de orientação programática - 3.3

43. O proletariado é portador de uma sociedade sem classes e sem a violência inerente às sociedades de classes. Mas a sociedade na qual o proletariado emerge está baseada no terrorismo burguês, independentemente da forma mais ou menos aberta como a burguesia exerce a sua ditadura. O canibalismo da contra-revolução, o terror branco estatal ou "para-estatal", obriga o proletariado e o determina a responder com a violência revolucionária, com o terror vermelho. A organização dessa violência, que surge espontaneamente do solo mesmo desta sociedade terrorista, e a firmeza na sua aplicação são os elementos decisivos para impedir um derramamento de sangue generalizado, diminuindo as dores do parto da nova sociedade. Eis por que os comunistas além de não se oporem à violência, organizam-na de forma decidida e a dirigem. O pacifismo, isto é, o antiterrorismo em geral, assim como a distinção social-democrata entre violência da classe operária "em seu conjunto" e ação "individual", ou entre "violência" e "terrorismo", nunca foram nem podem nada mais do que uma cínica manifestação da ideologia contra-revolucionária. 43a. Embora a condenação geral do terrorismo e da violência proletária (necessariamente minoritária nas suas primeiras fases) seja a prática geral do reformismo e da contra-revolução, deduzir disto que a violência, que a ação armada seria, em si mesma, revolucionária é um absurdo ideológico, cujo objetivo principal é enquadrar e liquidar setores combativos do proletariado, fazendo-os servir a um projeto reformista burguês. Considerar que a luta armada conteria em si virtudes revolucionárias ou "perversões inumanas", que o terror seria bom ou mau em si, independentemente do programa da classe que o desenvolve, do projeto social que essa classe protagoniza e que inevitavelmente determinará a forma e o conteúdo real dessa violência, tem muito a ver com uma visão moral de qualquer tipo. Mas se opõe diametralmente à concepção materialista da história e constitui um obstáculo à prática revolucionária. É certo que a revolução social será necessariamente violenta, mas é totalmente falso que a violência conduza necessariamente à revolução. Reforma e revolução não se diferenciam pela utilização ou não de violência, mas pela prática social global a serviço da reforma do sistema ou contra ele. A burguesia também utiliza a luta armada em sua guerra. Frações de oposição, reformistas de todos os tipos, nacionalistas etc., sempre recorreram à violência e à luta armada na defesa de seus interesses para ocupar (ou participar na) a direção do Estado, para a mudança de sua forma, para impor variantes no tipo ou na forma da acumulação capitalista que lhes assegurem uma parte maior na apropriação de mais-valia etc. Por mais armadas que sejam, por mais que seus dirigentes falem de revolução, todas essas lutas não são uma afirmação da revolução contra a reforma, mas, pelo contrário, uma afirmação da reforma e da guerra capitalista contra o proletariado e a revolução. 43b. Ou seja, do ponto de vista do proletariado, é tão absurdo caracterizar socialmente uma luta pela utilização das armas como caracterizá-la pela difusão de panfletos ou pelo fato de que seus protagonistas façam reuniões ou editem jornais. Porém, a confusão existe entre os proletários e joga um papel importante cada vez que o proletariado reaparece no cenário histórico. A recusa proletária do reformismo e do pacifismo, recusa ainda não cristalizada numa verdadeira direção revolucionária, tende a assimilar tudo o que é armado e violento a revolucionário, o que evidentemente é explorado pelo reformismo (armado ou não). Enquanto o proletariado e sua vanguarda não centralizarem suas forças nem desenvolverem sua ação, sua perspectiva, sua resposta insurrecional à questão militar, esta confusão e esta exploração serão possíveis. Além do mais, dada a heterogeneidade das condições de exploração, de luta, de tomada de consciência..., a enorme defasagem orgânica e teórica, além da prática, do proletariado de sua própria história (resultante de décadas de contra-revolução vitoriosa), dada a ação do capital que busca atacar o proletariado e derrotá-lo pouco a pouco, é evidente que nas reemergências do proletariado são minorias heterogêneas, não-coordenadas e com grandes debilidades ideológicas que assumem, apesar de tudo, um conjunto de ações violentas, pautando o desenvolvimento e a extensão da luta proletária. Face aos aparatos do Estado, os grupos reformistas armados (manipulados ou não), explorando a falta de organização, de direção e as debilidades ideológicas presentes no seio dessas minorias, buscam, e em muitos casos conseguem, separar essas minorias do proletariado e impor uma guerra de aparato contra aparato. Ideologias típicas do militarismo, como o mito da "ação exemplar", o culto da "violência em si", a "invulnerabilidade dos conspiradores em oposição à vulnerabilidade das massas", constituem uma ponte para separar essas minorias do proletariado, de seus interesses e sua luta. Isto leva ao enquadramento dessas minorias na guerra capitalista, mediante concepções que são evidentemente a renúncia total e completa do programa insurrecional do proletariado, tais como: guerra popular prolongada, foquismo etc. 43c. A liquidação das minorias proletárias, a utilização e o desvio da energia que surge da decomposição catastrófica do capitalismo em benefício da manutenção do capitalismo e de suas guerras locais, que transformam o proletariado em bucha de canhão do reformismo de todos os tipos ou em espectador passivo, opinião pública de uma guerra de aparato contra aparato, torna-se por sua vez possível para a contra-revolução histórica pela inexistência de uma direção revolucionária centralizada, baseada na experiência e no programa comunista, que concentre e centralize as forças reemergentes contra todo o capital. Com o desenvolvimento da crise, o capital, apesar de seu interesse tático em derrotar o proletariado pouco a pouco, é forçado a homogeneizar sua política (a política da crise do capital é uma só: aumentar a taxa de exploração e reprimir a resistência em todo o mundo), gerando condições evidentes de homogeneização internacional das respostas proletárias. Esta é uma condição necessária, mas não suficiente, para triunfar. Para isso, é necessário centralizar essa força, dotar-se de uma direção cuja práxis combine adequadamente as armas da crítica com a crítica das armas e que enfrente o pacifismo em todos os terrenos e o reformismo em todas as suas expressões. Esta direção irá se forjando portanto não só contra o pacifismo, o antiterrorismo em geral, mas também contra o reformismo em todas as suas expressões e particularmente o reformismo armado, visto que, como alternativa mais "radical", está dirigido precisamente para recuperar e liquidar os proletários mais radicais que romperam com os partidos e forças que tradicionalmente os controlam. 44. O movimento comunista real, como ser consciente, como Partido, demarcou-se, em sua longa luta histórica, de todas as forças e ideologias da contra-revolução afirmando, de forma cada vez mais clara, a unidade indissociável entre ditadura do proletariado e abolição do trabalho assalariado. A destruição das relações capitalistas de produção é necessariamente a obra despótica (despotismo das necessidades humanas contra a lei do valor) da força organizada e centralizada do proletariado para exercer sua dominação de classe: o Estado do proletariado mundial. Este Estado não é nem popular, nem livre, pois não reúne as diversas classes nem camadas do povo, mas exclusivamente o proletariado organizado em Partido e não se constrói no interesse da liberdade, mas pela necessidade de reprimir pelo terror revolucionário toda a força da reação. Portanto, as correntes que, em nome do anti-autoritarismo em geral negam todo Estado ou pretendem fazer do Estado de transição um Estado "livre", "popular", "democrático", no qual participariam forças não proletárias, não só contribuem para semear a confusão entre os proletários, mas servem objetivamente à contra-revolução. 45. Mas o Estado do proletariado não tem nada a ver com o Estado atual (burguês), com um governo "operário". O objetivo da revolução proletária não é tomar o poder político do Estado e pô-lo a seu serviço, pois o Estado burguês, seja qual for sua direção, continuará reproduzindo o capital. Toda pretensão de utilizar o Estado burguês para servir ao proletariado é uma utopia reacionária, é um dos melhores métodos da contra-revolução para desviar os efeitos devastadores de uma insurreição proletária contra o Estado burguês e contra a tirania do capital. A revolução proletária tem por objetivo, pelo contrário, a destruição total do Estado burguês e de seu poder econômico-social. O Estado burguês não se extingue, nem se extinguirá jamais, é necessário suprimi-lo pela violência, juntamente com a ditadura mercantil e democrática da qual emerge e que reproduz. O único Estado que se extinguirá será, pelo contrário, o do proletariado (semi-Estado), que em seu desenvolvimento, consolidação, extensão, irá se extinguindo no próprio processo de liquidação do capital. 46. A revolução proletária não consiste, pois, em ocupar a direção do Estado para depois realizar uma série de "reformas sociais". Mas, pelo contrário, do seu ponto de partida até seu objetivo final é uma revolução social, que parte da necessidade social de destruir totalmente o poder total (militar, econômico, ideológico, político...) da burguesia e tem como objetivo a sociedade comunista; que parte da separação do homem real, de seu ser coletivo (Gemeinwesen) e tem como objetivo a constituição da verdadeira Gemeinwesen do homem: o ser humano. É evidente que esta revolução social, na medida em que exige a derrubada do poder existente e necessita de sua destruição e dissolução, compreende a luta política. Mas, quando começa sua atividade organizadora, na qual surgem o objetivo e o conteúdo que lhe são próprios, o comunismo recusa o envoltório da política. Por esta razão, a revolução proletária não é redutível a uma questão econômica de gestão da produção, de controle operário etc., e necessita de destruir violentamente todas as instituições e aparatos da contra-revolução que asseguram a ditadura do valor contra as necessidades humanas, para poder realizar a atividade organizadora da sociedade para o comunismo. 47. Tanto o desvio politicista (segundo o qual o proletariado deveria ocupar o Estado capitalista para reformar a sociedade)quanto o desvio economicista (segundo o qual o problema se reduz a ocupar, controlar e gerir a produção e a distribuição), quase sempre combinados na mesma teoria, constituem ideologias contra-revolucionárias e funcionam como últimas barreiras de contenção capitalista em momentos cruciais. Ideologias que o proletariado deverá enfrentar, suprimir e enterrar. 48. Portanto, o proletariado, na fase insurrecional (e mesmo antes), terá de ocupar os meios de produção (fábricas, centros de comunicação, minas, campos...), adaptando-os às suas necessidades (o que de fato distorce os mecanismos de valorização do capital e já se situa na linha de reorientação total da produção e da distribuição com outras bases). Toda essa atividade terá como objetivo central o triunfo, internacionalmente generalizado, da insurreição, combatendo firmemente qualquer ilusão de gerir a sociedade sem destruir a contra-revolução organizada. Para isso, a centralização, a organização do proletariado em partido é indispensável. Só o Partido comunista, executando firmemente seu programa histórico, pode desenvolver a ação centralizada e centralizadora que impedirá a dispersão localista, a ilusão gestionária, o federalismo democrático e a troca entre unidades de produção independentes (fonte de trabalho privado oposto ao social e, portanto, de reorganização mercantil)...; que, dotando os proletários de uma direção única, assegure a máxima concentração de forças para o esmagamento social, econômico e político, da contra-revolução. 49. A insurreição armada é um salto qualitativo, mas não é irreversível nem suficiente para destruir o Estado burguês. É necessário liquidar todas as suas bases que a sustentam. Mas isto não é possível somente no interior de um país ou grupo de países. Portanto, onde e quando a insurreição triunfar, o proletariado utilizará seu poder sobre esta parte da sociedade capitalista mundial para expropriar e suprimir o capital em todos os terrenos (político-militar, propagandístico, econômico etc.), atuando no sentido de orientar a produção e a distribuição de acordo com suas necessidades e interesses (isto é, as necessidades e interesses da humanidade), o que implica destruir a sociedade mercantil e o trabalho assalariado. Todas essas medidas se subordinarão ao objetivo central de estender a revolução ao mundo inteiro, recusando a ilusão de construir um "Estado operário" (ou vários) numa economia mundial produtora de mercadorias ou, pior ainda, o socialismo num só país ou grupo de países. Para isso, é indispensável que a centralização e a direção eficaz do movimento comunista seja única e mundial, combatendo firmemente cada interesse regionalista ou nacionalista (sempre burguês) e subordinando cada parte à totalidade do movimento. É somente com a centralização orgânica e compacta que o proletariado mundial, constituído em Partido, nas batalhas insurrecionais, se fortalecerá, programática, numérica, organizativa e militarmente, enfrentará e vencerá toda tentativa de restauração. 50. A revolução proletária, seja em seus objetivos ou em suas fases intermediárias, não tem nada em comum com as "revoluções" políticas burguesas. Salvo, claro está, no uso das armas e na derrubada do poder existente. ۰ As "revoluções" burguesas tendem a mudar os governantes ou a forma do Estado nacional. A revolução proletária, pelo contrário, destrói o Estado nacional e liquida toda nação ou pátria. ۰ As "revoluções" burguesas se fazem em nome do bem-estar do povo e reproduzem a escravidão assalariada da maior parte da sociedade; utilizam um discurso social para ocultar seus fins políticos; utilizam um discurso universal para afirmar os interesses particulares de uma minoria. A revolução proletária, ao contrário, por mais regional que seja sua origem, por menor que seja a fração proletária que primeiro se lança à luta, por mais pobre e limitada à política que seja o seu discurso, tem um conteúdo social universal. ۰ As "revoluções" burguesas se baseiam na democracia, nos direitos do cidadão etc.; partem da necessidade, de cada uma de suas frações, de não continuarem separadas do ser coletivo do capital, o Estado; aspiram a controlá-lo ou compartilhar em seu seio democrático o poder político. A revolução proletária parte de uma realidade política inteiramente diversa, pois o ser coletivo do qual o trabalhador se separa é um ser coletivo de realidade diferente, de alcance diferente da comunidade política. Este ser coletivo, a comunidade da qual é separado pelo trabalho é a própria vida, a vida física e intelectual, a atividade humana, o gozo humano, o ser humano e, portanto, não aspira compartilhar democraticamente o poder, mas surge da necessidade imperiosa de liquidar esse poder, essa democracia, que o separa de sua humanidade de sua Gemeinwesen. "O ser humano é a verdadeira Gemeinwesen do homem". 51. É indispensável sublinhar a importância decisiva do Partido Comunista. Sem constituir-se em Partido, o proletariado não existe como classe, como força histórica. Hoje, reivindicar o Partido significa ao mesmo tempo retomar a concepção invariante do mesmo e se demarcar de todos os democratas, reiterando que esta questão central do Programa não é um problema à parte, que classe e partido não são dois seres históricos diferentes, que se definiriam separadamente para depois entrar em relação. Classe e partido são diferentes expressões de um mesmo ser histórico: o comunismo. As determinações essenciais do Partido não podem, pois, ser compreendidas a partir de realidades contingentes ou de necessidades pontuais, sem assumir concepções imediatistas (leninistas ou antileninistas) que invariavelmente pretendem definir, por um lado, a classe (como se fosse possível defini-la sem sua constituição em Partido) e, por outro, o partido (em geral, em termos de dever ser a-histórico), para depois tentar conciliar os dois conceitos, ou seja, ligar o que ideologicamente separaram. As polarizações no interior desta concepção democrático imediatista ocorrem depois, na busca de definições das "relações" entre a classe e o partido. Portanto, as determinações fundamentais e históricas do Partido nada têm em comum com a existência de qualquer grupelho autodenominado "partido" ou que pretenda portar a "consciência", nem com o acréscimo econômico-sociológico de proletários. Ao contrário, o Partido é para nós o comunismo constituído em força centralizada internacionalmente. Além de ser condição indispensável à instauração do comunismo e sua prefiguração viva. 52. O Partido Comunista é a organização da classe revolucionária portadora do comunismo, e suas determinações essenciais são as que fazem do proletariado uma classe: organicidade, centralização, direção histórica única. Sem a afirmação do Partido, mesmo que não seja mais do que de modo embrionário, não há proletariado ("a classe operária é revolucionária ou não é nada"). Mas todo esse processo de organização em Partido não é possível sem o longo e indispensável esforço militante de afirmação programática, de prática conseqüente e de preparação, levada adiante pelos comunistas. É certo que o Partido (como as revoluções) não é inventado, nem criado, pelos revolucionários, ele é o produto necessário e espontâneo da sociedade do capital. Mas esta necessidade histórica não se concretiza de um dia para o outro, como existência plena e inteira do Partido Mundial. O Partido surge espontaneamente, na medida em que desenvolve, com base na comunidade de interesses e perspectiva, uma real comunidade de luta proletária. Mas este fato inevitável só se concretiza quando, nessa comunidade vai se afirmando simultaneamente o comunismo como programa e como direção, prefigurando assim o órgão internacional de direção revolucionária. Ou seja, quando aquela determinação histórica se concretiza especificamente numa ação consciente, voluntária e organizada; quando, afirmando todo o programa histórico do proletariado, uma minoria ("os comunistas" a que se refere o Manifesto do Partido Comunista) sólida e compactamente estruturada de quadros revolucionários assume a indispensável tarefa de direção, não só quanto aos objetivos do movimento (enquanto plano de vida para a espécie humana) mas também quanto aos meios estratégicos e táticos para o seu triunfo. As revoluções e o Partido não se criam. Contudo, a função dos revolucionários é dirigir as revoluções e o Partido. Essa minoria de comunistas, que é ao mesmo tempo produto necessário e espontâneo(no sentido histórico e não imediato de ambas as palavras)da organização do proletariado numa força centralizada, é o eixo em torno do qual se realiza a direção da práxis que lhe permite deixar de ser um simples objeto daquela espontaneidade para ser sujeito consciente da revolução por vir. 53. Portanto, os comunistas não formam um Partido à parte, oposto às outras organizações de proletários, nem tampouco à organização do proletariado. Não têm interesses específicos que os separem do conjunto do proletariado. Não proclamam princípios especiais com o fim de moldar o movimento proletário. Por um lado, os comunistas só se diferenciam dos demais proletários da comunidade de luta da qual são parte porque destacam e fazem valer, nas diferentes lutas, os interesses comuns a todo o proletariado, independentemente da nacionalidade ("a história da Internacional foi uma luta contínua do Conselho Geral contra... as seções nacionais"). Por outro lado, nas diferentes fases pelas quais passa a luta entre o proletariado e a burguesia, representam sempre os interesses do movimento comunista em seu conjunto. Praticamente, os comunistas são, pois, o setor mais resoluto da comunidade de luta proletária de todos os países, aquele que sempre impulsiona os demais. Teoricamente, têm, sobre o resto do proletariado, a vantagem de uma clara visão da marcha e dos resultados gerais do movimento proletário. Sua organização específica não tem, pois, nada a ver com a constituição de um partido à parte. Mas,pelo contrário,afirma praticamente a tendência geral do proletariado a se constituir em Partido e se dotar de um órgão central. É evidente que esta concepção do Partido e da ação dos comunistas se contrapõe radical e totalmente às ideologias democráticas, entre as quais merecem ser destacadas: ۰ a teoria dos comunistas como detentores e portadores da consciência. ۰ a teoria anti-substitucionista, segundo a qual os comunistas não devem assumir tarefas práticas no movimento (organização e direção da ação). ۰ enfim, as teorias que preconizam a dissolução dessa organização específica nas assembléias ou conselhos operários. 54. Em nosso tempo e no futuro, uma época de crescente crise econômica, social e política do capital em escala internacional; uma época de árdua reemergência proletária em escala internacional e, portanto, de tendência à organização mundial do proletariado, mesmo com enormes dificuldades, dada a contra-revolução ininterrupta há décadas e fissurada por grandes explosões sociais que se repetirão mais e mais; uma época na qual os grupos organizados consciente e voluntariamente com base na afirmação do comunismo são ínfima minoria e na qual se repetem os cacoetes das fases sectárias que precedem toda afirmação real do proletariado; uma época em que a comunidade em desenvolvimento da luta proletária em escala mundial contra o capital só é consciente de seus objetivos pela ação de alguns núcleos de militantes comunistas dispersos pelo mundo, a organização e a centralização dessa comunidade é e será decisiva, como atividade da vanguarda da classe em escala internacional, para que essa comunidade de luta seja consciente de sua força, de seus objetivos e perspectivas. Esta tendência à organização mundial do proletariado, sua afirmação programática e sua centralização orgânica colidem e colidirão cada vez mais violentamente contra todas as forças e ideologias da contra-revolução que descrevemos, parcial mas essencialmente, nestas Teses, e, particularmente, contra os portadores de consciência à classe operária, contra os construtores de partidos e de internacionais que consideram que as "condições objetivas" estão maduras e que só é necessário "consciência e vontade" para criar "O Partido", "A Internacional" etc., e que na prática atuam em contraposição flagrante com a comunidade de ação do proletariado revolucionário emergente. 55. Com efeito, apesar de ainda vivermos numa fase de reconstituição embrionária do proletariado (fase sectária, por excelência), apesar das insuficiências, das debilidades, das experiências parciais, do desconhecimento da obra das frações comunistas etc. e mesmo estando numa fase embrionária, volta-se a sentir hoje em todo o mundo a necessidade de centralização internacional, a necessidade de constituir uma única direção internacionalista e comunista. Frente a isto, desenvolve-se, mais uma vez, um conjunto de ideologias que já agora constituem o principal obstáculo àquela tendência. Merecem destaque, em primeiro lugar, todas aquelas que consideram a "internacional" por vir como um agregado de partidos nacionais já constituídos. No mesmo plano se encontra o conjunto dos criadores de internacionais, que em geral têm muito pouco a ver com a real comunidade de vida e luta do proletariado internacional e que, em intermináveis debates, imaginam um conjunto de princípios formais aos quais pretendem moldar o movimento, chegando a elaborar as normas ideológicas (declaração de princípios) que, segundo eles, deveriam garantir contra os desvios. Nunca uma organização, produto da classe operária e instrumento da revolução social, se organizou com tal base. Esse é o esquema clássico das organizações ideológicas do capital, das igrejas aos partidos políticos burgueses. Em particular, estes construtores de internacionais continuam a linha histórica da segunda internacional e de seu centro formal. A organização internacional do proletariado será o produto histórico (e não imediato) da organização e centralização da comunidade de luta contra o capital que se desenvolve praticamente. E, como tal se situará, mais uma vez, fora e contra todos aqueles que pretendem moldar o movimento proclamando do alto de uma tribuna um conjunto de princípios ideológicos. A efetiva prefiguração do Partido internacional de amanhã existe hoje na ação real do conjunto ainda não centralizado de minorias proletárias que, em sua luta real, em suas rupturas sucessivas, voltam a se situar na linha histórica do Programa invariante e do Partido. 56. Nosso pequeno grupo é uma expressão dessa comunidade de luta do proletariado, dessa tendência à reapropriação programática de toda experiência secular acumulada pelo proletariado mundial. Concretamente, resulta da centralização do conjunto de negações e rupturas, de uma experiência de luta e do balanço das derrotas, realizado por diferentes companheiros, em diversas latitudes, com base na teoria comunista e na experiência acumulada por gerações de revolucionários em todo o mundo. É um esforço coletivo, organizado, consciente e atuante, de centralização internacional do proletariado. Como tal, o Grupo Comunista Internacionalista, atua de forma consciente e voluntária, baseado no programa comunista invariante, do qual as teses aqui expostas são uma expressão, para dirigir o processo de constituição do Partido Comunista Mundial e a Revolução Comunista. Esta tarefa, gigantesca e invariante, que consiste em assumir consciente e voluntariamente as determinações materiais que impulsionam o desenvolvimento da comunidade de luta proletária e são as premissas indispensáveis para o Partido e a Revolução de amanhã, será a obra coletiva de milhares de quadros revolucionários e já é assumida por grupos e militantes revolucionários em diversas partes do mundo. Dadas as condições de que emerge, a comunidade de ação revolucionária, após décadas de contra-revolução, hoje resulta mais evidente do que nunca, é uma comunidade prática de necessidades e interesses proletários afirmados na luta contra o capital e cristalizados na ação de minorias de vanguarda, muito antes de ser uma comunidade de consciência (inclusive no que respeita a estas minorias). A organização, a centralização dessa comunidade, que irá se afirmando mediante a coordenação da ação contra o capital (que se desenvolve hoje de forma desorganizada), se contrapõe então necessariamente a todo tipo de critério de demarcação ideológica, é e será uma demarcação eminentemente prática, de luta. No próprio seio dessa comunidade em desenvolvimento e em afirmação, em cada grupo de militantes que atuem para dirigir esse processo (e, evidentemente, também em nosso Grupo) são e serão inevitáveis as diferenças teóricas, as discrepâncias – inclusive importantes – mas a única forma de resolvê-las será no próprio interior dessa comunidade, único espaço político em que tem sentido a discussão: entre companheiros. 57. Situar-se,hoje,na linha histórica do Partido significa atuar,da forma mais conseqüente possível e sempre que nossas escassas forças o permitam: como os proletários mais decididos, os que impulsionam o resto do proletariado;na real comunidade de luta contra o capital, tentando fazê-la consciente de sua existência, de sua força, de sua perspectiva, organizá-la e dirigi-la; com a mesma firmeza, ser taxativo e enfrentar o inimigo, em todas as suas variantes, incluindo o oportunismo e o centrismo, mas ser companheiro e solidário com todos os proletários que lutam contra o capital,em todas as partes do mundo; continuar infatigavelmente a atuação histórica, iniciada pelas frações comunistas, de balanço das experiências e derrotas do passado, e de formação dos quadros revolucionários; assumir o fato de que nosso grupo,como qualquer outro grupo de revolucionários, é uma expressão, uma estrutura, necessária e indispensável para a constituição do Partido, mas não é o Partido mesmo, que no desenvolvimento do partido em termos de arco histórico, nosso grupo, como outros, é somente um episódio efêmero na vida do Partido e nas tentativas para constituir um órgão de direção internacional. Da mesma maneira que a Liga dos Comunistas e inclusive a Internacional, não foram mais do que episódios (indispensáveis) na vida do Partido, nossa ação e nossa vontade estão dirigidas explícita e conscientemente a superar a forma atual e ainda grupuscular que constitui, entretanto, uma mediação indispensável para tal superação. Falar de partido histórico, sem ser conseqüente e assumir uma atividade prática, necessariamente grupuscular, é idealista e reacionário. Mas ter clareza de que o grupo não é um fim, mas uma mediação a superar, é fundamental e demarcatório. 58. Com base nestas teses, chamamos todos os militantes e grupos revolucionários a centralizar seus esforços com os nossos, na luta pela ditadura do proletariado para abolição o trabalho assalariado. Na comunidade de luta de que somos parte, não se trata de somar pontos ideológicos de diferença e de coincidência; mas de coordenar efetivamente a prática comum que já realizamos e que se potenciará por tal coordenação. Não se trata de resolver as insuficiências e debilidades que nós temos, cada um por sua conta, cada um em seu lugar, o que é diretamente impossível; mas, pelo contrário, de estruturar e centralizar a prática comum que nos unifica e que constitui o quadro adequado para a discussão militante e para resolver os enormes problemas que temos diante de nós. Companheiros, é na prática revolucionária conseqüente, na resposta em todos os níveis e em todos os planos aos ataques do capital que se formará a direção revolucionária que necessitamos. Até hoje, todas as "revoluções" se fizeram em nome da ciência e da razão. A isto corresponde o fato de que seus ideólogos sempre listaram os princípios com os quais queriam moldar o movimento. A revolução que temos frente a nós não tem nada a ver com tudo isso, surge da necessidade mais profunda do homem real concreto, do proletariado afirmando seu interesse numa vida verdadeiramente humana e,como tal,é e será uma ruptura profunda com toda ideologia, com a ciência, com a razão, com a própria idéia de progresso. Companheiros, assumamos o que realmente somos e pelo que surgimos, assumamos a prática conseqüente e revolucionária do comunismo, do Partido Comunista. Traduzido pelo grupo Autonomia. Primeira reedição, corrigida e ampliada. bvr_autonomia@yahoo.com.br cp 38018 - CEP 22451-970 Rio de Janeiro - Brasil Biblioteca virtual revolucionária

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