quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sobre o MIL-GAC

Introdução - Sobre o MIL-GAC 1000 ou 10000 - «Grupo Autônomo de Combate / setembro 1973» INTRODUÇÃO Nils Ynoones Narrar a história do Movimento Ibérico de Libertação - Grupos Autônomos de Combate (MIL-GAC) é muito mais do que fazer uma crônica detalhada de suas ações de expropriação e da prisão, processo e assassinato de Salvador Puig Antich. É mostrar por que e como esse grupo se formou, que proposta defendia e a alternativa revolucionária que oferecia. Assim, constatamos que o MIL não era um grupo anarquista nem terrorista de luta armada, mas um grupo cuja proposta - totalmente original, no cenário espanhol da época, com raízes teóricas nas correntes revolucionárias de matriz antileninista e que se apresentava não como outro grupo político da extrema-esquerda, mas como grupo de apoio ao movimento operário - era nitidamente distinta do que pretendiam os antifranquistas. Portanto, falar do MIL-GAC, sobretudo, exige falar de seu itinerário político: só assim se pode descobrir o que havia por trás desses revolucionários que, durante o franquismo eram considerados “gangsters”, e depois foram transformados em “loucos utópicos” ou lutadores antifranquistas. O MIL surge como tema desde a feroz repressão que se abateu, em setembro de 1973, sobre o grupo. Hoje, existe um número considerável de publicações que abordaram essa questão. Infelizmente, a maioria de maneira duplamente falsificadora: seja por se ocupar não do MIL, mas de um de seus militantes, Puig Antich; ou porque focalizam sobretudo os aspectos mais mórbidos, dando tratamento sensacionalista ao tema. O resultado é que se sabe muito sobre as doze últimas horas de Salvador Puig Antich, algo sobre as expropriações do MIL, e quase nada sobre a auto-organização proletária e os grupos de apoio. É preciso distinguir o MIL, não no contexto da Espanha do tardofranquismo, mas no processo de clarificação teórica, política e organizativa do proletariado de Barcelona. Suas origens estão intimamente ligadas com a emergência, em Barcelona, no fim dos anos 60, de um movimento operário que rompe com as organizações da esquerda e inicia uma configuração da autonomia operária, no interior de uma tendência - surgida nas Comissões Operárias - chamada Plataformas de CC.OO. [1] Resumindo, pode-se considerar 1970 como o ano decisivo no itinerário que levará à constituição do MIL, que se forma “oficialmente” em janeiro de 1971, com o impulso de Oriol Solé Sugranyes. Este revolucionário, ex-militante do PSUC [2] e depois do PCE (i) [3], rompe com o stalinismo e evolui para a autonomia operária, ao entrar em contato com as Plataformas. Exilado em Toulouse, Oriol Solé consegue unir dois núcleos em torno do objetivo de criar grupos de ação que apóiem as lutas da classe operária: em Toulouse, jovens provenientes dos meios libertários e dispostos a passar à ação (entre eles, Jean-Marc Rouillan); em Barcelona, jovens oriundos de um grupo marxista heterodoxo, Ação Comunista. Este segundo núcleo é formado por um dos irmãos de Oriol, Solé Sugranyes, além de Ignasi e Santi Soler Amigó, que tentam sair do marasmo grupuscular daquele momento e vêem o início de um novo movimento operário nas Plataformas de CC.OO., e seu debate visando à formação da “organização de classe”, uma organização unitária para superar o enquadramento tradicional de partidos e sindicatos. Para influir nesse debate, elaboram o primeiro texto do que se poderia chamar “pré-MIL”, intitulado El movimiento obrero en Barcelona. O novo grupo não pretende ser a vanguarda da revolução nem o germe de um partido; é consciente de sua “exterioridade” em relação à classe, não quer dirigi-la, mas ser um “apoio”, porque entende que é a própria classe que se auto-organiza. Esta é uma nova concepção, na Espanha: abandona o modelo leninista de toda a esquerda marxista e se enlaça diretamente com as variantes marxistas revolucionárias, que, nos anos 20, se opuseram à III Internacional e se aglutinaram no comunismo de conselhos. A este se acrescentam as influências do bordiguismo e do situacionismo. É inegável que as inspirações teóricas do MIL se encontram aqui, e não no anarquismo. No devir teórico do grupo, o personagem chave é Santi Soler. Outro fator importante e ignorado na história dessa experiência foi a orientação teórica que, com relação ao MIL, exerceu o grupo informal que se reunia na livraria Le Vieille Taupe, em Paris. Esta livraria, além de ter sido a fonte mais importante dos textos teóricos que influenciaram o MIL, tinha entre seus animadores Pierre Guillaume e Jean Barrot, com quem discutiam as questões teóricas. Sobretudo Barrot, que manterá uma feliz interação com Santi Soler e influenciará nas questões teóricas, tendo um papel na autodissolução do grupo em 1973. A intervenção do MIL para “apoiar” as lutas do movimento operário se fará em dois projetos paralelos. O primeiro são as ações – teorizadas como “agitação armada”, em contraposição à “luta armada” – e que têm um triplo sentido: 1) lutar contra a repressão [4]; 2) autofinanciar-se e, se possível, financiar as lutas da classe; e, finalmente, 3) mostrar ao movimento operário que a violência que se pode exercer contra o estado burguês é maior do que a que a percebida pelos trabalhadores. A decisão de utilizar a violência não é uma decisão mais ou menos iluminada do grupo, surge de um debate sobre a violência ocorrido no movimento operário autônomo e que levará à constituição de grupos de autodefesa operária. O segundo projeto é a difusão de literatura revolucionária anticapitalista – basicamente marxista – no projeto chamado “biblioteca socialista” e que resultará nalgumas publicações, em 1973, da significativamente chamada “Edições Maio 37” [5], reivindicando a insurreição proletária que fecha o ciclo revolucionário de 1917 a 1937. O MIL sabia que os projetos tinham que estar unidos ao movimento operário autônomo e que para isso era necessário estabelecer fortes laços com as Plataformas. Realizou-se então um estudo para fundamentar a crítica ao leninismo e difundir o marxismo heterodoxo. Intitulado Revolución hasta el fin, foi o texto teórico mais importante do MIL, escrito basicamente para esclarecer posições e ajudar no debate político com os membros das Plataformas. Mas a tentativa de discussão com a direção das Plataformas fracassou e esses dirigentes operários criaram os grupos operários autônomos (GOA). Não obstante, uma parte das bases das Plataformas continuou essa relação e finalmente ocorreu uma participação real dos trabalhadores no projeto de biblioteca, fazendo circular milhares de cópias desses folhetos. Ao mesmo tempo, o MIL ajudava na infra-estrutura e na impressão de materiais desses grupos operários, como no caso do Boletín de los obreros de Bultaco [6], ou doando equipamentos de impressão. Na metade de 1972, o MIL decide passar à ação, assumindo suas posições como MIL-GAC (Movimento Ibérico de Libertação-Grupos Autônomos de Combate) [7]. Embora Oriol Solé estivesse preso na França, o grupo cresce (com o ingresso de Puig Antich, entre outros) e as ações armadas – basicamente, ataques a bancos e também “recuperações de material” (para impressão, documentação etc.) – se intensificam, possibilitando o reforço da infra-estrutura, além de contatos com outros grupos em diversos lugares e o começo das publicações, com a expropriação de uma impressora em Toulouse, operação efetuada em várias etapas. Mas as contradições e tensões que se acumularam ao longo desse período de intensa ação armada explodiram numa crise entre os integrantes dos dois projetos – basicamente em torno de Rouillan, por um lado, e de Santi, por outro – durante a primavera de 1973, resultando na expulsão do grupo de Ignasi Sole. Todavia, a importância de Puig Antich aumentou por ter ele conseguido, momentaneamente, salvar a unidade do grupo. Apesar disso, a crise se arrastou até o verão, quando foi decidido realizar um congresso, fazendo-o coincidir com a libertação de Oriol Solé, e, de comum acordo, dissolver o MIL para facilitar as atuações separadas de agitação armada e publicação. Esta decisão não era, de fato, nenhum questionamento da política do MIL até então, mas a separação dos dois projetos que, para funcionarem melhor, deixavam de ser unificados no MIL. Porém, um mês depois, a repressão se abateu sobre o grupo, aprisionando quase todos e impedindo o encaminhamento das decisões do congresso. O que diferencia o MIL-GAC das formações políticas da esquerda e o converte em algo original é seu projeto. Outros grupos - do nacionalismo ao anarquismo, passando pelo stalinismo e eventuais trotskistas - tinham praticado ações armadas, fosse para organizar uma insurreição ou para começar a guerrilha, fazer sabotagem contra o regime ou somente expropriações. O fenômeno não era exclusivo da Espanha e nem daquele momento histórico: os anarquistas espanhóis nos anos 20, os bolcheviques no início do século XX... Enfim, quase todos os movimentos revolucionários recorreram à violência armada em algum momento, para sobreviver ou por necessidades táticas. É o projeto do MIL que surge como algo realmente novo na Espanha. No aspecto organizativo, nunca existira nada à esquerda do trotskismo, da qual se ramificava o Fomento Obrero Revolucionario dirigido por Munis. Na teoria, além de uns poucos artigos, o único livro de Pannekoek publicado até aquele momento era um folheto editado pelo POUM, em 1937. De Otto Ruhle conheciam-se apenas os escritos sobre pedagogia e a crise; o mais acessível de Gorter fora editado no México, em 1971; Karl Korsch e Paul Mattick tiveram suas primeiras edições entre 1973 e 1975. Neste panorama, um grupo descobre que as vias do comunismo não se limitam à III Internacional e reivindica algumas orientações revolucionárias do comunismo de conselhos: fundamentalmente, o repúdio ao partido leninista e aos sindicatos; o antagonismo ao capital, privado ou de estado; a revolução social mediante a auto-organização proletária nos conselhos. Mas havia algumas singularidades que diferenciavam o MIL do comunismo de conselhos. Uma delas foi a influência de Jean Barrot e demais participantes de La Vieille Taupe. As discussões com o núcleo parisiense aceleraram a ruptura com velhas ortodoxias e o resgate de experiências históricas do movimento operário revolucionário. Também houve divergências, sobre a luta armada e a questão organizativa: o MIL rejeitou o papel que o núcleo de Paris atribuía ao partido revolucionário e proclamou - ultrapassando a “Organização de Classe” proposta pelo movimento autônomo de Barcelona, organizado nas Plataformas de CC.OO. - que “a tarefa da organização é a organização de tarefas”. Isto é: contra as organizações centralizadas e a favor dos grupos de afinidade. Há uma coerência na história do MIL: da crítica aos “grupelhos”, feita em 1969, em El movimiento obrero em Barcelona, até a recusa da organização estruturada, em 1973. Esta coerência é o que torna compreensível a sua autodissolução. Outra singularidade se refere ao uso revolucionário da violência. Este será o componente mais dissociado da prática tradicional dos conselhistas. Nenhum grupo identificado com o conselhismo se envolveu em ações armadas. Eventualmente, algum indivíduo relacionado com esses grupos, como Marinus van der Lubbe, utilizou a violência. Teorizando, o MIL-GAC busca um equilíbrio entre a recusa da “luta armada” (tal como a praticavam, então, a RAF e as BR - por exemplo) e a “agitação armada”, que divulga as ações realizadas por diferentes “grupos de apoio” (entre eles, o MIL-GAC) às lutas da classe operária, e que serve, além disso, para mostrar que as lutas, passando de defensivas a ofensivas, podiam se transformar em insurreição revolucionária. Mas as expropriações sem critério puseram em xeque esta concepção: o que era uma fonte de recursos para as atividades (principalmente a editorial), tornou-se uma fonte de sobrevivência, gerando sua própria justificação teórica num setor do grupo que dizia ser necessário “unir teoria e prática”. Neste momento, algumas pessoas, do grupo e dos núcleos relacionados, manifestam sua contrariedade e iniciam uma tentativa de reorientação que, fracassada, conduzirá à autodissolução. O que mais pesou nessa decisão foi o conflito entre o projeto que se tinha iniciado em 1969, fundamentado na recusa do modelo grupuscular, e o que na realidade era o MIL-GAC em 1973: um grupo de revolucionários profissionais e especializados. No MIL sempre existiram as duas linhas já mencionadas, que se distinguem menos pela teoria do que por suas concepções diferentes da ação revolucionária e de como se organizar para levá-la a cabo. Durante um tempo, foi possível a convivência, mas esta se rompeu quando o fator armado se tornou proeminente na vida do grupo. A compreensão do setor encarregado das publicações, da existência e prolongamento desse conflito, e o interesse do setor armado, de dispor com autonomia total em todas as suas atuações, convergiram para a autodissolução, que foi aceita sem maiores dramas. A origem da autodissolução não estava nas diferenças pessoais, que existiam, nem numa suposta dicotomia marxismo/anarquismo. Estava na questão organizativa, porque com ou sem autodissolução, a prática de cada setor continuaria sendo fundamentalmente a mesma: a palavra e o ato, quase excludentes mas sob siglas comuns e sem nenhum vínculo orgânico. Os membros do MIL não questionavam seus conceitos ou sua prática anterior, mas como se organizar para realizá-los [8]. Toda autodissolução equivale a um fracasso. No caso do MIL-GAC, o fracasso é duplo: não apenas o grupo não pôde superar suas contradições e desapareceu, como a via aberta no ano de 1969, com a recusa do vanguardismo e o descobrimento do comunismo de conselhos, não teve continuidade. A repressão, que começou em setembro de 1973, destruiu toda possibilidade de continuação de uma praxis conselhista diferenciada em relação ao leninismo e ao anarquismo. Um ano e meio depois, muitas dessas pessoas - não só do MIL-GAC, mas também dos GOA e dos restos das Plataformas – colaborarão no processo que levará à refundação da CNT, ou seja, de outra opção política. Em 1979, a maioria será expulsa dessa organização anarco-sindicalista. Porém, alguns membros do setor armado que puderam escapar continuaram a atividade armada em diferentes grupos, participando finalmente na constituição de Action Directe: Jean Marc Rouillan continua em prisão perpétua, desde fevereiro de 1987, em cárceres franceses por atividades relacionadas com esse grupo[9]. Sem dúvida, o fator mais importante do fracasso do MIL-GAC foi a impossibilidade de desenvolver seu projeto revolucionário. Seus contatos com o movimento operário são muito débeis no momento de crescimento. O vínculo definitivo os militantes das Plataformas, para um trabalho conjunto estável, só é conseguido em 1972. Ou seja, quando começa o declínio: o grande magma autônomo de 1969-1970 está, em 1972-1973, muito reduzido. Ademais, o MIL-GAC carecia de um aparato editorial até pouco antes de seu desaparecimento, e os folhetos das Ediciones Mayo 37 sairão à luz quando a maioria dos componentes do MIL-GAC já está no cárcere e o resto no exílio (além de um morto), impedindo, portanto, a avaliação dessa difusão. Sua proposta ficou, pois, isolada numa esquerda onde os modelos imperantes, em razão da clandestinidade, eram os que tinham se mantido desde a guerra. De um lado, o modelo dominante, formalmente marxista-leninista; de outro, opondo-se a ele, um movimento anarco-sindicalista que ressurgia. Sem poder atuar através das publicações, a proposta de auto-organização operária feita pelo MIL ficava totalmente ignorada, quando não manipulada. Para a esquerda “marxista”, apelidar o MIL de “anarquista” era impedir que se conhecesse um projeto revolucionário que superava a forma-partido e enfatizava a iniciativa proletária. Para o anarquismo, após ignorar totalmente essa experiência enquanto estava viva, ficava a oportunidade de recuperar seus frutos políticos, já que a brutal repressão franquista lhes oferecia a possibilidade de obter um, ou dois novos mártires: Salvador Puig Antich e Oriol Solé Sugranyes [10]. Inventava-se, assim, o grupo “anarquista” chamado MIL e se esquecia a posição inequivocamente comunista dos membros do ex-MIL, elaborada em outubro de 1973, no Cárcere Modelo de Barcelona, que finalizava com a proclamação: “Nem mártires, nem juízes, nem cárceres, nem salários! Viva o comunismo!” Notas: [1] As primeiras Comissiones Obreras (CC.OO.) nascem durante as greves dos mineiros asturianos de 1962, estendendo-se durante a década de 60 a todo o movimento operário da Espanha. Depois de diversas lutas fracionárias, o PCE conseguirá pô-las sob seu controle no fim dos anos 60, convertendo-se em seu sindicato. [2] O partido comunista oficial da Catalunha, “irmanado” com o PCE. [3] Partido Comunista da Espanha (internacional): cisão estalinista do PSUC. [4] Os últimos anos do franquismo, ao contrário do que afirmam certos discursos históricos e políticos, foram anos de uma especial e dura repressão política e social, com mortos não só em confrontos armados ou em fuzilamentos ou enforcamentos – como Puig Antich e os fuzilados do FRAP e do ETA de 1975 -, mas também no curso de greves e manifestações, como os operários mortos nas greves da SEAT e da Térmica del Besòs, em Barcelona, os de El Ferrol, Granada etc; nesses anos será comum transladar os conflitos laborais para a jurisdição militar, sendo julgados em conselhos de guerra. [5] Foram editados folhetos de Balazs, Barrot, Baynac, Berneri, Canne-Meijer, Ciliga, Internacional Situacionista, Pannekoek, Révolution internationale… [6] Bultaco era uma das fábricas de motocicletas mais importantes da Espanha. [7] O nome “Movimiento Ibérico de Liberación” surgiu da cifra 1000 (“mil”), com a qual foi assinado o primeiro folheto do grupo e que não tinha nenhum significado específico. Talvez, a vontade de ser muitos. A sigla “GAC” dava conteúdo político ao nome da organização, ao designar os parâmetros: autonomia e ação. [8] A análise crítica do MIL, realizada em 1974 por Barrot, que lucidamente foi o primeiro a assinalar que a autodissolução “era mais uma medida organizacional do que uma mudança de prática” (Violence et solidarité révolutionnaires : les procès des communistes de Barcelone. Paris : Éd. de l’Oubli, 1974; há uma edição em castelhano feita pelas próprias ediciones mayo 37: Violencia y solidaridad revolucionarias). [9] Isolado durante anos, nas duríssimas condições das prisões de segurança máxima, Rouillan continuou lutando por seus direitos e fez várias greves de fome. Na de dezembro de 2000 a janeiro de 2001, conseguiu sair do cárcere de segurança máxima em Lannmezan para o de Arles. Suas experiências na prisão foram alvo de reflexão em Je hais les matins (Paris : Denoël, 2001), em que também se refere à sua experiência no MIL. [10] Salvador Puig Antich, ferido num tiroteio com a polícia em setembro de 1973, foi detido e condenado à morte pela morte de um policial nessa detenção, e executado no “garrote vil”, em março de 1974. Oriol Solé Sugranyes foi preso dez dias antes de Puig Antich e condenado a 48 anos de prisão. Fugiu do cárcere, em abril de 1976, na famosa “fuga de Segóvia” preparada pelo ETA (p-m), mas foi morto no dia seguinte pela Guarda Civil, nos montes navarros, próximo da fronteira. 1000 ou 10000 - «Grupo Autônomo de Combate / setembro 1973» 1000 ou 10.000 * Na segunda metade dos anos sessenta, o movimento revolucionário renasceu em escala mundial: greves selvagens dos mineiros de Limbourg, Belgica, 1967; maio de 1968, na França ; outono quente de 1969, na Itália; revoltas nas prisões francesas, italianas, estadunidenses etc. Milhares de lutas em todas as partes do globo demonstravam o ressurgimento da violência revolucionária, que se expressava na indiferença total frente aos sindicatos, na luta pela abolição da autoridade e da hierarquia, na sabotagem do processo de produção e das mercadorias... Este ressurgir do movimento revolucionário também ocorreu na Espanha, com lutas semelhantes: generalização dos comitês e comissões de empresa, na luta permanente e pela base contra o sistema de exploração e opressão do capital; boicote total dos sindicatos (primavera de 1971); greves selvagens e ações violentas de massas, nas fábricas e bairros (AEG de Tarrassa, Harry Walker, SEAT, Granada, Ferrol, San Adrian, Pamplona etc). Essas lutas se apresentam como uma necessidade de auto-organização da classe para a destruição do sistema capitalista, para a realização do comunismo. Nessa reemergência do movimento revolucionário, a única intervenção dos comunistas é a resolução das tarefas e problemas do movimento revolucionário, em sua luta. A proliferação mundial de grupos específicos responde às necessidades que têm os comunistas para a resolução dessas tarefas, cuja prática se adapta à sua posição histórica e geográfica. O MIL é uma das formas concretas assumidas pelos grupos específicos, na Catalunha, para desenvolver sua agitação por meio de atos e palavras. O MIL nasce, com as primeiras greves selvagens e ações violentas do proletariado, para apoiá-las. Este apoio se traduz pela divulgação dos textos, deliberadamente esquecidos pela contra-revolução, que repõem o problema do comunismo. Para os comunistas, hoje, o problema da abolição do capital exige o desmascaramento do reformismo dos grupos e grupelhos que são a extrema-esquerda do capital. É a presença dessas velhas ideologias, dos que se dizem vanguarda da classe operária, que denunciamos: eles vão da estratégia da miséria à miséria da estratégia. A realização das tarefas que nós nos impusemos exige um longo processo de estruturação. Nos três últimos anos, o MIL desenvolveu um trabalho de agitação e de estruturação. A violência revolucionária dos grupos específicos é uma resposta global do proletariado à violência do capital. As manifestações de raiva, de cóleta etc são expressões da guerra civil revolucionária latente. A tarefa dos grupos específicos é a radicalização comunista da situação global. A simultaneidade da agitação e da dinâmica do processo de estruturação necessária exigiu uma estrututra organizacional político-militar em nítida contradição com o papel de radicalização comunista das contradições sociais. Face a essa realidade, o MIL se auto-dissolve. Os comunistas do MIL continuam suas tarefas de agitação nos grupos específicos chamados GAC (grupos autônomos de combate). Em setembro de 1973, alguns comunistas organizados em diveros grupos autônomos de combate, foram aprisionados pelas forças armadas do capital. Hoje, a esquerda e a direita do capital tentam justificar, recorrendo a uma solução «humanitária», a necessidade de destruir o seu contrário: o comunismo. Os comunistas dos GAC/setembro 73 consideram que a intensificação da luta pela destruição do sistema que engendra a repressão é a melhor maneira de manifestar a solidariedade dos revolucionários com os aprisionados. Nós apelamos a todos os revolucionários: que todas as lutas contra a repressão a desmascarem, como necessidade lógica do capital; que divulguem os textos históricos das lutas do proletariado, censurados pela contra-revolução, e os textos atuais que põem a questão do comunismo nas diversas partes do mundo; que situem o problema da violência revolucionária em seu contexto real; enfim, que intervenham para a radicalização comunista dos antagonismos sociais do sistema capitalista. Nem mártires, nem processos, nem prisões, nem escravidão salarial ! Viva o comunismo ! Grupo Autônomo de Combate/setembro1973 *texto escrito na prisão Modelo de Barcelona, por Oriol Solé, militante do ‘ex-MIL, assasinado pela Guarda Civil. Biblioteca virtual revolucionária

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