quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Prefácio à Edição Japonesa do nº1 e nº2 de Le mouvement communiste

O boletim Le mouvement communiste é uma das expressões da atual tendência revolucionária na França, onde, como por toda parte, o que usualmente é conhecido como marxismo não tem nada a ver com revolução. Num mundo que está de pernas para o ar por razões históricas analisáveis, há países "socialistas" onde trabalhadores assalariados são explorados em nome do "comunismo", e "partidos comunistas" que são nacionalistas, totalmente reformistas e que apóiam o capitalismo de todas as maneiras possíveis. O comunismo se tornou sinônimo de trabalho duro e de obediência aos chefes "socialistas". Existem Partidos Comunistas imperialistas e colonialistas. Assim, a primeira condição para e mínima ação revolucionária é romper decisivamente com todas as formas de marxismo oficial, quer venha dos PCs ou de intelectuais ultra-esquerdistas. O marxismo oficial é parte da sociedade capitalista, tanto em sua teoria como em sua prática. Comprometer-se nesse terreno significa aliar-se com o capital. Isto pode parecer claro para muitas pessoas (quem não criticou o PC?), mas requer mais do que apenas um acordo geral e vago. A longa contra-revolução que sucedeu ao movimento revolucionário posterior à primeira guerra mundial está finalmente chegando ao fim, um novo movimento está surgindo. Mas o capital tenta integrá-lo e se prepara para destruí-lo violentamente, caso não o consiga. A reemergência da revolução é acompanhada por muitas formas de crítica aparente que não vão ao coração da questão e conseqüentemente ajudam o capital a se adaptar. Ora, as pessoas se tornam revolucionárias através de diversas experiências, e não de um dia para o outro. Mas já podemos ver o crescimento de organizações e grupos que tentam juntar as pessoas com reivindicações parciais para não ir além. Elas dizem querer retornar aos princípios revolucionários, mas os ignoram. Suas idéias não têm nada a ver com comunismo: são uma mistura de gestão democrática ou controle operário com automação e uma reorganização parcial da sociedade. Em outras palavras, nada mais são do que o auto-retrato retocado do capital. Na prática, apóiam "criticamente" o PC oficial, ou mesmo os partidos socialistas, a União Soviética, China etc. Esses grupos são contra-revolucionários. O argumento de que eles organizam os trabalhadores é irrelevante: os PCs fazem a mesma coisa, o que não os impede de fuzilar os trabalhadores quando acham necessário. O trotskismo, o maoísmo, mesmo o anarquismo em suas formas mais burocráticas e degradadas, são contra-revolucionários. Este não é um ponto de vista sectário. Grupos organizados e permanentes dentro do movimento operário, que têm um programa e prática não-comunista ou anticomunista, são os nossos piores inimigos. O inimigo interno é sempre mais perigoso do que o externo. Esta é a verdade sobre os PCs. Mas isto também se aplica à maioria dos grupos ultra-esquerdistas. O passado ensina que uma clara linha de demarcação é necessária. A situação antes da segunda guerra mundial pode ser resumida assim: o capital só se recuperaria através de uma longa guerra generalizada. A Rússia foi forçada a desenvolver o capitalismo, depois da derrota da revolução na Europa: estava pronta para se aliar com um lado ou outro de acordo com seus interesses estatais. Alemanha, Itália e Japão eram fascistas. Nas democracias ocidentais, partidos socialistas e "comunistas" cuidavam de reunir as massas e persuadi-las de que aquela guerra não seria imperialista como a anterior, mas uma guerra para libertar o mundo dos horrores do fascismo. O trotskismo também apoiou este ponto de vista. A maioria dos trotskistas alinhou-se com o bando imperialista democrático contra o bando imperialista fascista, a Alemanha e o Japão. Contudo, o triunfo da democracia em 1945 foi tão destrutivo e horrível quanto o fascismo. As pessoas já não morrem mais em campos de concentração - exceto onde ainda existem campos de concentração, como na Rússia, Vietnã do Sul etc. Mas milhões morrem de fome. A extrema esquerda (Trotsky e muitos outros) ajudou o capital a resolver seu problemas. A luta contra os grupos e indivíduos contra-revolucionários é, mais do que útil, necessária. Marx teve de lutar contra Proudhon. Lênin, Pannekoek, Bordiga tiveram de lutar contra Kautsky. Pannekoek e Bordiga tiveram de lutar contra Lênin e depois contra Trotsky. O movimento comunista atual precisa apreender com seu passado. Ou seja, saber o que realmente aconteceu em 1917-21 e depois. A transição para o comunismo não consistirá no maior desenvolvimento da produção: o capital já realizou isso. A fase transitória consistirá na imediata comunização da sociedade e na luta armada contra o Estado e o velho movimento operário. O poder militar do capital se tornou tão eficiente que não pode ser subestimado. E a classe operária é tão importante que se torna vital para o capitalismo controlá-la: este é o papel dos sindicatos e partidos operários. Devemos nos preparar para lutar contra esses inimigos, não necessariamente estocando armas, mas atacando-os radicalmente agora, na teoria assim como na prática. Isto só é possível através da análise e do desenvolvimento positivo do programa comunista: abolição do mercado; criação de novas relações sociais, nas quais a produção não mais domina a totalidade da vida mas se integra nela; destruição da economia enquanto tal, da política como tal, da arte enquanto tal etc. Ao falar de teoria, podemos e devemos usar as obras de Marx (o que inclui a tradução e a publicação delas quando ainda não estão disponíveis). Nosso lema é: não leia os marxistas, leia Marx! Também é útil estudar os textos daqueles que resistiram à contra-revolução: Pannekoek, Bordiga etc., que eram limitados de muitas maneiras por concepções erradas, mas foram relevantes para nossos problemas. Outros grupos, como a Internacional Situacionista, também são importantes, embora tenham uma compreensão insuficiente do capital. É importante para os revolucionários em cada país estudar o passado revolucionário desse país, assim como suas formas atuais. Contatos e troca de experiências são também vitais. Essa atividade implica uma radical ruptura com a política. Os revolucionários não apenas têm idéias (ou mesmo ações) diferentes dos pseudo-revolucionários. A própria maneira que eles desenvolvem é diferente. O pseudo-revolucionário sempre tenta arrebanhar e tornar-se representante de um grande número de pessoas, para assim ter algum poder nesta sociedade. A revolução exige justamente o oposto. Não objetivamos representar as pessoas, seja para dirigi-las ou servi-las. Os comunistas não têm tropas fora do "exército" vermelho na guerra comunista revolucionária. O comunistas não são isolados do proletariado. Sua ação nunca é uma tentativa de organizar os outros; é sempre uma tentativa de expressar sua afirmação subversiva ao mundo. Finalmente, todas as iniciativas revolucionárias terão de ser coordenadas. Mas a tarefa revolucionária não é primariamente a de organização; é expressar (num texto ou numa ação) uma relação subversiva com o mundo. Efetivamente, por grande ou pequena que seja, esta ação é um ataque contra o velho mundo. Notas [1] Os dois primeiros números de Le mouvement communiste apareceram em Paris, em maio de 1972. O nº1 continha "A luta de Classes e seus Aspectos mais Característicos nos Anos Atuais". O nº2 continha "Capitalismo e Comunismo". Biblioteca virtual revolucionária

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