quinta-feira, 18 de outubro de 2012

VIVA O COMUNISMO!

Este texto foi publicado na revista Comunismo nº 33, em castelhano, julho de 1993. No decorrer das fases de reconstrução capitalista, posteriores às destruições massivas realizadas pelas guerras, a burguesia completa a exploração que furiosamente leva adiante contra o proletariado com uma insolente arrogância ideológica dentro da qual o positivismo e o cientificismo reinam. O movimento do mundo é descrito como um desenvolvimento contínuo e controlado do Progresso e da Ciência, em que até mesmo Deus está a serviço desse materialismo vulgar. "Evolução infinita", "Ciência e Tecnocracia", "Progresso contínuo", "Avanços tecnológicos",... estes são os elementos dos mesquinhos poemas através dos quais o Capital afirma o poder de seu ser em plena valorização. Essas são as características do período 1945-1965, posterior à chamada "Segunda Guerra Mundial". A ilusão de um mundo sem contradições foi ainda mais poderosa porque a paz dos cemitérios, efeito da guerra, conseguiu silenciar o proletariado. O discurso dominante é, então, o de uma burguesia consciente da potência que encontra na exploração do proletariado. São anos de ouro para o capitalismo. Todas as suas frações cantam aos proletários as vantagens do "desenvolvimento" e da produção segundo as normas tayloristas ou fayolistas: o aspirador e a máquina de lavar são apresentados como uma revolução que liberaria a mulher dos trabalhos domésticos, e a redução do tempo de trabalho (acompanhada de um aumento da intensidade do mesmo!) era apresentada como os primeiros passos para uma "sociedade do ócio". Os burgueses, convencidos do desenvolvimento eterno de sua triste sociedade, não têm nenhuma dúvida quanto ao seu futuro; os economistas lotam as bibliotecas e as universidades com tratados apologéticos nos quais só se fala na "teoria do equilíbrio geral" e na "sociedade do bem-estar". Os patrões, gerentes e outros funcionários do Estado não cessam de fazer alardear os pretensos méritos "históricos" da porcaria que vendem. E a certeza com respeito ao êxito das vendas se reforça com a certeza da eternidade dessa generosa sociedade que lhes permite de forma tão dócil e segura acumular seus capitais. Mas tudo isso acabou. As utopias capitalistas chocam-se com a realidade dos tempos de crise, os mesmos limites históricos do Capital se manifestam novamente. Os pólos positivos de "desenvolvimento", de "riqueza" e de "paz" não conseguem ocultar mais seus indissociáveis contrários, os pólos negativos: "subdesenvolvimento", "pobreza", "guerra". Vivemos um momento muito difícil para a burguesia que vê desabar o mito do qual se alimentava: o do desenvolvimento eterno e sem contragolpes de suas riquezas. Então, o Capital entra em crise. Os capitalistas se enfrentam cada vez mais violentamente para controlar as partes de um mercado cada vez mais sacudido; o que se traduz por um fenômeno de corrida louca e sem rumo fixo, em todos os domínios, justificada pela necessidade de obter, seja como for, o alívio que representa um espaço de valorização. Os capitais buscam alimentar-se da mais-valia, mas, numa conjuntura de superprodução, isso se torna cada vez mais difícil. Somas fabulosas são destinadas à publicidade, a especulação financeira opera sobre uma escala cada vez maior, na qual se investe com grande risco e em todos os domínios nos quais se pode imaginar desenvolver o capital: do tráfico de órgãos humanos e armas biológicas até artigos de luxo para animais domésticos. Essa corrida desenfreada, esse cada um por si, só reforça ainda mais o caos reinante num mercado mundial em crise. Os capitalistas se associam e formam blocos para a guerra que os opõe a outros capitalistas. As guerras são mais freqüentes, mais duras, generalizadas. Esta é a situação, hoje em dia. Situação que se traduz nas diversas formas através das quais o Capital organiza seu Estado: reestruturação ao Norte, ao Sul, à Leste e à Oeste - e nos apresentam essas mudanças superficiais e formais como grandes momentos de questionamento do mundo. Os enésimos planos governamentais de austeridade, as quedas de "ditaduras" e outros grandes espetáculos de reconciliação nacional entre antigos guerrilheiros e torturadores são diferentes cenários com os quais se quer camuflar o agravamento da exploração do proletariado, operado por uma burguesia estrangulada pela crise. Coloca-se uma camada de pintura no Velho Mundo agonizante, retoca-se a fachada dos governos desacreditados e, se não for suficiente, trocam-se o carpete e o papel de parede: criam-se novos sindicatos, finge-se lutar contra a corrupção (denunciando um responsável pelo sumiço do dinheiro para voltar a dar uma imagem mais limpa aos permanentes tráficos capitalistas) para melhorar a imagem do Estado. Essas reestruturações capitalistas se apóiam em campanhas ideológicas que sintetizam os esforços da burguesia para "se questionar". O espetáculo pode recomeçar: "Glasnost" na Rússia, "Transparência" no Oeste, "Mãos Limpas" na Itália, "Luta contra a droga" na América do Sul, "Luta contra o Dinheiro Sujo" na Suíça etc. - caem ministros, generais, presidentes... O capital internacional quer usar uma pele nova e estimula o proletariado a fazer o mesmo: "Abandonemos essa velha noção de luta de classes. O comunismo está morto, não falemos mais de exploração, de proletários,..." Todas essas reestruturações políticas, todos esses pequenos acontecimentos na forma de gerenciar a exploração são apresentados como grandes mudanças, como verdadeiras "revoluções" para o futuro de todos. E, através desses programas, a burguesia reforça efetivamente a austeridade, torna-a mais aceitável para o proletariado e adia momentaneamente uma crise cuja extensão e profundidade se fazem sentir cada vez mais fortes. Mas por trás dessas renovações de fachadas, de todas essas modificações formais e diante da multiplicação de conflitos intercapitalistas, da impossibilidade de definir o futuro que não seja em termos de crises cada vez mais agudas, a burguesia se sente incapaz de ocultar sua dúvida quanto à perenidade de seu sistema: o Capital duvida de seu futuro. Os patrões, os sindicalistas, os governantes, os funcionários, os ideólogos, os cientistas, os comerciantes - ou seja, todos os gestores capitalistas - sentem uma imensa e terrível dúvida quanto ao futuro. Incapazes de ver o futuro como superação do capitalismo, seu limitado enfoque de classe entra em choque sistematicamente com seus próprios indicadores que anunciam a catástrofe econômica generalizada, a total impossibilidade de superar a crise, um ponto a partir do qual é inocultável que não se pode voltar aos dourados anos de expansão. O esquema da dúvida passa a ser então, o esquema dominante da sociedade. O capitalista fica perplexo e duvida de tudo. Do futuro com segurança, mas também de seus aliados e dos que lhe obedecem, das possibilidades de investir, de seus próprios programas de gestão, dos lucros, da livre empresa e do protecionismo,... A dúvida se instala em todos os setores da sociedade: os funcionários da dominação burguesa vêem seus colegas caírem, um após outro, nas campanhas de reestruturação e, paralelamente, saem de uma depressão psicológica para cair noutra, frente à impossibilidade em que se encontram de fazer um balanço positivo do gerenciamento capitalista que lhes foi confiado. Recentemente, na Suíça, foi construída uma clínica especializada em "levantar o ânimo" dos funcionários! À certeza dos anos de reconstrução e expansão do pós-guerra, sucedem hoje os anos sombrios nos quais o ceticismo se faz rei. A religião capitalista se transforma num grande ponto de interrogação! Desgraçadamente o proletariado, longe de ser impermeável às religiões do Capital, encontra-se submetido à sua ideologia e esse esquema de dúvida se impõe como ideologia dominante na própria classe operária. A burguesia e, com ela, toda a sociedade, projeta suas dúvidas quanto à possibilidade de uma valorização infinita e eterna do Capital nas tarefas revolucionárias historicamente definidas pelo proletariado. Isso se traduz, na classe operária, em perguntas como: "Somos uma classe?", "Serve para alguma coisa nos organizarmos?", "Por que lutar?", "Nossas palavras de ordem deformadas pelo inimigo, transformaram-se em algo totalmente irreconhecível, por que continuar a usá-las?" etc. O ceticismo governa também o proletariado. Como poderia ser diferente, hoje em dia? Todos os dias, os operários vêem diminuir seu poder de compra, isto quando não são pura e simplesmente lançados no desemprego, jogados na rua, negados em sua humanidade, desmoralizados pelo individualismo do cada um por si, atomizados pela concorrência, confusos e manipulados pela ideologia que a burguesia pôs entre a realidade duma vida imediata precária e a perspectiva histórica da abolição das classes. Perderam totalmente a consciência de formar uma classe social, uma comunidade de interesses. Mas existe uma coisa da qual a burguesia tem verdadeiro pânico, nesta situação em que o Capital nada oferece a não ser a miséria e a guerra para os operários: é o fato de os proletários reconhecerem a comunidade de interesses que os une além das fronteiras e se constituírem em classe, organizarem-se em partido. É por isso que o Capital, paralelamente à incapacidade de oferecer uma perspectiva otimista ao proletariado, tem interesse em denunciar e esmagar toda tentativa de nossa classe de se reconhecer e organizar em torno de sua perspectiva: o comunismo. Neste nível, além de suas incertezas quanto ao futuro, a burguesia procura fazer com que o proletariado duvide de seu projeto, de seu programa, de seus objetivos. Procura transferir sua dúvida, sua falta de perspectivas, ao proletariado, fazendo-o duvidar da alternativa revolucionária. Eis por que a burguesia grita, no mundo inteiro, a "morte do comunismo", identificando a escravidão assalariada, organizada durante mais de 70 anos na Rússia e noutros lugares ditos socialistas, com a abolição do trabalho assalariado que o comunismo reivindica durante toda sua história. Não há melhor negócio do que apresentar esse sistema particular de gestão capitalista, chamado "socialista" e inutilizável hoje em dia pelos gestores locais, como um fracasso... do proletariado! Assim, o capitalismo pintado de vermelho (dos países autoproclamados "comunistas") é identificado, em seu fracasso, com o comunismo! Para afastar mais ainda o proletariado de seu projeto, é absolutamente necessário fazê-lo duvidar de que possa existir, em qualquer nível, uma alternativa para o capitalismo. Os meios de comunicação, no mundo inteiro, no marco da derrubada dos métodos obsoletos de gestão capitalista próprios dos países chamados "socialistas", cantam em coro a "morte do comunismo". A burguesia se encontra, uma vez mais, unida, atrás dessa canção. Todas as frações participam dessa farsa. Em cartazes e desenhos, mostram fotos de Marx e Engels rabiscadas com o lema "O liberalismo triunfou" e a autocrítica da social-democracia internacional (dos mitterandistas aos stalinistas), em relação ao falso rumo tomado sob o estandarte do "comunismo" (como se toda essa escória reformista tivesse alguma vez tido algo a ver com o projeto histórico de destruição do Estado capitalista!). No mesmo refrão, dos "reaganianos" aos militantes arrependidos de 68, passando pelas múmias "soviéticas", todos se unem numa grande fraternidade burguesa para afirmar que: "Sim, o comunismo está definitivamente enterrado". Nunca se viu consenso democrático tão grande. Os militantes mais radicais da extrema esquerda burguesa pedem perdão: o alemão Cohn-Bendit agora dá cursos de educação cívica aos policiais de Frankfurt; em El Salvador, os guerrilheiros guevaristas da FMLN ingressam em massa na polícia nacional; o grande chefe do maoísmo francês, Alain Geismar, e o "terrorista terceiro mundista" Regis Debray dão conselhos ao Partido Socialista de Mitterand; o velho agitador "yippie" americano Jerry Rubin, dá cursos de criminologia aos "yuppies" de Los Angeles; os Tupamaros uruguaios querem participar no governo da Frente Ampla; o sociólogo terceiro mundista Jean Ziegler, que denunciou a Suíça imperialista, publica um livro intitulado "A felicidade de ser suíço" no qual faz autocrítica de seu "cego dogmatismo e sua crítica radical"... etc. É evidente que nós, comunistas, nos alegramos ao ver esses "amigos" se distanciarem abertamente do comunismo. Pois isso delimita os campos: da democracia e do comunismo. Mas admitimos que essas confissões de fracasso, da maneira como são feitas pelos antigos partidários da extrema esquerda burguesa, assimilando seu passado de reforma radical à militância classista, propagam o desânimo em relação à militância comunista. Inclusive, algumas organizações classistas que tentavam manter o fio vermelho que liga a velha geração de revolucionários às seguintes cederam diante do assalto repetido de toda essa ideologia putrefata, estruturada pelo autoquestionamento. Basta ver a quantidade de panfletos "militantes" que recomendam a dúvida e a modernidade como idéia central, em contraposição ao comunismo que já não está na moda, para se ter uma idéia dos estragos que essa ideologia da dúvida acerca de tudo tem feito nos poucos grupos existentes de militantes proletários organizados. Nós também enfrentamos essa característica do período atual. Assim, quando relatamos em nossas publicações as lutas atuais de nossa classe, alguns de nossos contatos próximos chegam a expressar essa dúvida: "Houve uma insurreição proletária no Iraque? O que nos garante que suas fontes e afirmações são exatas? De onde retiram essas informações?" ... Esses companheiros, submetidos aos efeitos da paz social aceitam mais a (des)informação burguesa do que os materiais e testemunhos diretos enviados pelos companheiros da região. O problema se agrava quando, naqueles que miséria do cotidiano embruteceu, o ceticismo destrói a solidariedade e a ação comum nas lutas. Enfrentando o poder dessa ideologia, é importante erguer, mais alto do que nunca, a bandeira do Comunismo. Os burgueses podem, sem dúvida (para desnaturalizá-las), roubar nossas palavras de ordem, nossas bandeiras, nossa linguagem, mas não podem se apossar do programa que as recobre, nem se apoderar da prática militante que afirma a única perspectiva que contém o movimento comunista real: a destruição total do Estado mundial capitalista; a abolição revolucionária do trabalho, das classes e do capital! Hoje, mais do que nunca, reivindiquemos o comunismo, enfrentando o conjunto da burguesia e suas múltiplas variantes democráticas: social-democratas, nacionalistas, stalinistas, maoístas, fascistas ou outras, reivindicando o conteúdo original do comunismo: a negação de toda a essência capitalista! Contra a Economia, a Política e a Religião, contra a Arte, a Ciência e o Progresso, contra a Família, o Trabalho e todas as Pátrias, contra a Mercadoria, gritemos mais forte do que nunca: Viva o Comunismo! Viva a Revolução Social Mundial! Viva a Organização Comunista Internacional do Proletariado! Para concluir, e para todos aqueles que, sob a pressão do derrotismo capitalista, perdem a paixão da revolução, reproduzimos um trecho das observações militantes que Blanqui - ao sair da prisão, 11 anos depois das barricadas de 1848 - fazia, numa avaliação combativa da situação de paz social que predominava, mantendo a certeza do inevitável renascimento das lutas, renascimento que ocorreria alguns anos mais tarde: "Que apatia, que afundamento, que metamorfose! Com minhas idéias de revolução tão ardentes como antes, tinha um ar de vinda de outro mundo, de um fantasma de tempos passados. Passei (em Paris - NDR) alguns dias, cheio de dor e cólera, mas não perdi a esperança. Terão que galvanizar esses cadáveres se não quiserem caminhar vivos." (Blanqui,1859 - Citado por M. Dommanget) Doze anos mais tarde, aconteceu a Comuna de Paris! Hoje, numa situação parecida com a da citação de Blanqui, situação em que nos vêem como "os fantasmas de um tempo passado", afirmamos claramente e contra a corrente do ceticismo dominante do "questionamento" de tudo: não duvidar da derrubada inevitável do Capital! Frente a todos os que garantem a sobrevivência desta sociedade, não duvidemos que, como qualquer organismo vivo, social-histórico, como qualquer sociedade precedente, o Capital é um ser que contém suas próprias contradições mortais. Sua superação histórica nada tem em comum com uma nova religião, é apenas o desenvolvimento da negação viva do capital, contida em seu interior, pela classe de homens que ele condena a trabalhar para sobreviver. Não "acreditamos" no comunismo. Nós o vivenciamos praticamente, no desenvolvimento que acontece diante de nossos olhos, no movimento real e existente da abolição da ordem estabelecida, movimento que se expressa nas lutas de nossos irmãos de classe no Iraque ou em Los Angeles, e também em algumas iniciativas, embora muito modestas, de transformar a comunidade objetiva de interesses do proletariado em uma comunidade ativa da luta internacional, organizada e centralizada. Não duvidamos de que esta sociedade - baseada no egoísmo, no individualismo, na limitação em si mesma - verá brevemente emergir a solidariedade, no marco da luta que levará avante nossa classe a se libertar de suas cadeias. NÃO DUVIDEMOS DO COMUNISMO! LUTEMOS POR AFIRMÁ-LO! GRUPO COMUNISTA INTERNACIONALISTA - B.P.54 - St. Gilles (BRU) 3 - 1060 Bruxelas - Bélgica http://www.geocities.com/paris/6368/ - e-mail : icgcikg@yahoo.com Biblioteca virtual revolucionária

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