quarta-feira, 17 de outubro de 2012

FASA: VIVA A AVENTURA

Revista "Seisdedos", Março-Abril de 1979 "Uma sociedade que aboliu toda aventura faz de sua abolição a única aventura possível" 1. SEQÜÊNCIAS HISTÓRICAS No transcurso de 25 anos, a FASA deixou de ser uma pequena empresa familiar de montagem para se tornar parte de uma multinacional com fábricas em Valadoli, Valencia, Madri e Sevilha. Seu efetivo passou de 500 trabalhadores, que produziam 30 carros por dia, para 18000 com uma produção anual de 300000 carros (dados de 1979). Na FASA, os trabalhadores desenvolveram uma rica e longa experiência de luta que não vem de agora, mas que é produto de sua história. Assim, em 1974, começa uma das mais longas, duras e ao mesmo tempo frutíferas experiências de confrontação. A existência de uma série de reivindicações dentro de um processo assembleário desembocou em ações que, mesmo parciais, significavam a recusa das horas extras e do aumento dos ritmos. Quando a empresa tenta impor seu calendário laboral com mais de 8 horas diárias de trabalho, os trabalhadores se opõem trabalhando só 8; frente a isso, a empresa pune e a greve se generaliza. A seguir, 1500 trabalhadores ocupam FASA-Valadoli. As manifestações, as assembléias de solidariedade se sucedem, até que a repressão policial e da guarda civil provocam a reincorporação ao trabalho. A luta se desenvolveu dentro da estrutura das assembléias, nas quais foram discutidos e aprovados todos os passos a seguir; de onde saíram novas iniciativas e métodos de luta como boicotes à poupança, retirando fundos dos bancos, boicotes à imprensa, ao consumo, a cinemas, teatros, futebol, etc. Em finais de 76, começa uma luta pela volta dos demitidos na greve anterior que consegue finalmente a gradual reintegração à fábrica. Nessa época, então a crise definitiva da CNS (sindicato vertical franquista) e com as centrais sindicais ainda não legalizadas, tornou necessário que essas formas organizativas, que serviram nos momentos de auge, funcionem de maneira permanente. Isto conduz a um debate nas assembléias para a criação de um organismo unitário e assembleário. Por último, se constitui o conselho operário da FASA-RENAULT, baseado nos seguintes princípios: - Buscar e fomentar a unidade prática de todos os trabalhadores, qualquer que seja o pensamento político ou sindical de cada um. - As assembléias se organizam buscando a proximidade física e evitando as diferenças de grupos categoriais, profissionais, etc... eleições gerais. - Todo o poder está na assembléia, com a qual se potencia a utilização da democracia direta. - É a alternativa que está sendo defendida de forma majoritária pelos trabalhadores, conscientes de que é algo que deve ser permanentemente discutido, corrigido e melhorado. 2. ENTREVISTA COM OS TRABALHADORES DA FASA-VALADOLI - Seisdedos. Como vocês vêem as perspectivas do movimento assembleário dos conselhos em FASA? - Companheiros de FASA. Já dissemos anteriormente qual é a representatividade dos comitês de empresa e o peso das centrais sindicais na fábrica, que, volto a repetir, são mínimos e, representando isto um forte problema para eles, em novembro foi feito um referendum para ver a aceitação dos comitês de empresa, cujo resultado foi eloqüente: receberam somente o apoio de 40% do efetivo. Diante destes resultados, os comitês se comprometeram a renunciar depois das negociações em curso. Hoje, depois do que os comitês fizeram, os operários massivamente rasgaram os carnets e alguns deles exigem a renúncia dos comitês. Nas assembléias, alguns reinvindicam renuncia já, outros que renunciem quando terminarem as atuais negociações. Estas são as duas opiniões que são expostas em todas as assembléias. Bem... nós cremos que o objetivo atual é ir para os conselhos de fábrica novamente, para isso é necessário previamente a supressão dos comitês e um tempo de debates dentro da fábrica, onde nós trabalhadores possamos opinar, discutir sobre como nos organizamos e quais eram as principais falhas dos conselhos na etapa anterior, etc..., durante este tempo, nós acreditamos que não pode existir um vazio na representação dos trabalhadores e apontamos a necessidade de eleger alguns representantes pelas assembléias de forma provisória até a implantação dos conselhos. Conforme o andar destes debates que mencionamos e a correlação de forças que se perceba, deveríamos atuar, se nossa força é potente, os conselhos devem ser impostos e não aceitar nenhuma convocatória de eleições sindicais; se em troca a correlação de forças é adversa ao movimento assembleário, cremos que nós trabalhadores pró-conselhos deveríamos nos apresentar nas eleições e ocupar os comitês, com objetivo de transformá-los em conselhos com a decidida participação de todas as assembléias. - Seisdedos. O que vocês pensam atualmente das lutas que estão surgindo por todos os lados? Estamos diante de um momento de reativação ou, pelo contrário, todos nós assembleários passaremos por uma larga etapa de resistência? - C. de Fasa. Nossos conhecimentos são muito limitados a respeito disso, mas temos discutido e chegamos a algumas conclusões. Na média e pequena empresa, sem tradição de luta e de formas organizativas assembleárias, a implantação das centrais é massacrante, aqui é necessário falar de uma etapa de resistência, como a que nas empresas grandes, onde tradicionalmente o reformismo fez e desfez, e isto se vê, por exemplo, na fábrica da Fasa em Sevilha, onde o predomínio do PCE-CCOO é total, se excetuarmos uma pequena minoria, mas existem alguns ativistas do movimento assembleário na grande empresa, onde as centrais sindicais depois de sua etapa inicial, de forte recrutamento, estancaram ou retrocederam. Nestas empresas, deve-se falar de ofensiva, de organizar o movimento assembleário, pois uma forte tradição de lutas não se perde assim à toa. - Seisdedos. Uma última questão: nas grandes empresas, as formas de organização baseadas na democracia direta acabam por ser bastante complexas e exigem uma forte consciência de classe para que a participação não decaia e para poder responder aos milhões de problemas cotidianos. Como responder? - C. de Fasa. Esta é uma das grandes discussões na Fasa, já que nos momentos mais calmos, não de luta, a delegação é muito maior nos representantes, nos grupos de trabalho, etc., e corre-se o risco de os conselhos se converterem em sindicatos de empresa, risco que nós acreditamos ser necessário assumir; porque muitos problemas, chamemo-los de inferiores ou cotidianos, são a base de atuação dos sindicatos, essa base de atuação não desaparece quando a implantação dos sindicatos é nula, porque os problemas continuam existindo, cremos que é tarefa dos grupos de trabalho resolvê-los, os delegados e os grupos de trabalho sendo revogáveis a qualquer momento, deve haver uma certa continuidade e assumir, volto a dizer, a solução dos problemas cotidianos e menores que acontecem todos os dias e em todas as fábricas. Biblioteca virtual revolucionária

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