quarta-feira, 17 de outubro de 2012

KOLINKO entrevista “Direkte Aktion”

(jornal anarco-sindicalista alemão) janeiro de 2001 1.Vocês poderiam apresentar sua iniciativa - em poucas palavras, por favor? Nós somos de Ruhrgebiet. Nossa perspectiva política pode ser resumida assim: estamos buscando o poder que suprime o capitalismo e cria uma nova sociedade sem exploração. Este poder consiste na auto-organização dos trabalhadores dentro da esfera de exploração. Nossa tarefa é participar nas lutas dos trabalhadores e apoiar o movimento comunista dentro delas. Como Kolinko - Coletivo (e coletivamente) no Movimento Comunista - iniciamos uma investigação sobre call centers, no outono de 1999. Temos coletado informação, que discutimos. Entramos em contato com companheiros na Alemanha e noutros países. Realizamos entrevistas com trabalhadores de call-centers e nós mesmos começamos a trabalhar neles. Desde outubro de 2000, começamos a distribuir uma série de panfletos e construímos um site sobre esses assuntos. 2. Nem todo mundo sabe que tipo de trabalho é feito nos call-centers. Vocês podem explicar isso em poucas palavras? Atrás da expressão “call center” encontra-se um método relativamente novo de trabalho: pessoas trabalham com telefones, com uma espécie de headphones, que são um par de fones de ouvido e um microfone. As ligações recebidas (“inbound”) são automaticamente transferidas, por um sistema computadorizado, para os trabalhadores que não têm chamadas naquele momento. Na maioria dos casos, eles trabalham com um computador pessoal que é parte de uma rede de computadores. Eles extraem informações de databases e a digitam como nova informação. Quando os trabalhadores ligam para os clientes, isso é chamado de “outbound”. Os call-centers estão sendo construídos na maioria dos setores: nos bancos, onde os trabalhadores qualificados estão sendo substituídos por inexperientes “agentes de call-centers”, que recebem um salário muito menor; nas companhias de seguros, onde o marketing é racionalizado; em muitas indústrias (serviço ao cliente, logística), no comércio (marketing, entregas a domicílio) etc. Também existe um setor específico de call-center. Ou seja, firmas que oferecem serviços de call-center para as outras. 3. Qual é a motivação de vocês para a investigação? A investigação significa, antes de tudo, descobrir como podemos lutar contra o trabalho e a exploração juntos com outros trabalhadores, num lugar determinado, e como podemos desenvolver uma forma de poder, ao mesmo tempo. Nós nos concentramos num certo método de trabalho ou num certo setor para compreender bem sua situação e descobrir pontos de partida definidos para uma intervenção. Contudo, não vemos isso como uma “luta num campo”, no sentido autonomista. Nos locais de exploração, todas relações sociais chegam juntas e têm um efeito. Apenas nessas lutas locais, nas quais os trabalhadores aprendem a lutar como classe, pode se desenvolver uma forma de poder que suprime a divisão hierárquica do trabalho, a divisão por sexo, nacionalidades etc. Nós propomos que outros coletivos investiguem outros setores, intervenham neles e contribuam com suas experiências para a discussão sobre as perspectivas da luta de classes. 4. Por que call centers ? Por que vocês estão trabalhando neles? Ou existem outros motivos? Há poucos anos, vimos uma massiva edificação de call centers em Ruhrgebiet/Alemanha - patrocinados por subsídios estatais. Políticos e patrões os apresentam como o futuro do capitalismo - e do próprio trabalho. Algo parecido ocorre em outras regiões européias, por exemplo, na Inglaterra, países baixos e Irlanda. Entretanto, existem call centers em aproximadamente todos os países europeus ocidentais, na América do Norte e outros lugares. Eles representam uma ampla racionalização e taylorização do trabalho de escritório. Em nossa região, houve uma greve no Citybank, em Bochum e Duisburg, como sinal de lutas nesse setor. Eis os motivos para a nossa investigação. Além disso, todos os disparates “esquerdistas” sobre o fim da luta de classes - não apenas na chamada Nova Economia - tiveram um papel. Outro motivo foi o ressurgimento dos conceitos sindicalistas com o objetivo de estimular “critérios mínimos”. Estamos fartos dessa ignorância consciente no que se refere às relações de classe e à capitulação sindicalista. A decisão de começar a trabalhar em call centers foi baseada em duas coisas. Certamente, nós precisamos de dinheiro para sobreviver, também, e empregos em call centers são relativamente fáceis de conseguir em Ruhrgebiet. Mas esse foi mais uma fase política: pensamos que é importante tomar uma decisão definida sobre as áreas que queremos investigar e onde queremos intervir. Não queremos andar por qualquer setor, isolados, e “fazer alguma coisa, onde quer que você esteja”. Não, é decisivo investigar aqueles setores que possuem alguma importância econômica e política, onde vemos que novos conflitos e lutas se desenvolvem. Quando percebemos que milhares começaram a trabalhar naquele setor em Ruhrgebiet - às vezes, centenas sob condições similares e num mesmo lugar - nós decidimos pesquisar e agir. 5. Com quem vocês cooperam? Vocês possuem contatos com pessoas em outros países que atuam no mesmo setor? Na Alemanha, estamos em contato com alguns grupos de esquerda que priorizam a luta de classes e a revolução. Alguns nos apóiam com informação ou ajuda na distribuição de panfletos. Através da proposta de investigação, nós fizemos novos contatos com grupos estrangeiros, que nos enviam informação e também divulgam a proposta de investigação e os panfletos. O Colletivo Rete Operaia, que investiga as fábricas entre Bologna/Itália e intervem lá, assumiu a proposta e fez contatos com trabalhadores de call centers na região. Um grupo na Inglaterra faz coisa semelhante. 6. Como vocês começaram isso? Como vocês entregam os panfletos para os trabalhadores? Como já dissemos, primeiro nós coletamos informação sobre call centers: investigamos o método de trabalho, maquinaria e organização de trabalho em call centers e concentramo-nos na maneira de agir dos trabalhadores e nos conflitos. Então, nós decidimos fazer uma série de panfletos sob o nome de hotlines, nos quais publicamos as discussões dos trabalhadores e divulgamos nossas posições. Nós os dividimos em quatro panfletos: 1. extensão das horas de trabalho; 2. intensificação do trabalho; 3. sentido e não-sentido do trabalho; 4. auto-organização. Os dois primeiros já esgotaram. Nós os distribuímos entre companheiros de call centers da região, enviamos para trabalhadores que conhecemos etc. No auge, fizemos dois panfletos sobre conflitos em companhias específicas: sobre as eleições burocráticas de um conselho de trabalhadores em Medion/Muelheim (Medion constrói e vende computadores para a cadeia Aldi-supermarket) e sobre as “frases padrão” em Quelle, uma firma de entregas a domicílio, onde os trabalhadores são adestrados, palavra por palavra, para atender os telefonemas. Para melhor distribuir os panfletos e outras contribuições, com o objetivo de apoiar a discussão dos trabalhadores, criamos um site e um endereço de email (veja abaixo), que também são usados pelos companheiros da Itália. 7. Que tipo de reações vocês encontraram até agora? Reações diferentes. Em alguns call centers, os panfletos foram discutidos e depois distribuídos. Os trabalhadores disseram que pelo menos alguma coisa estava acontecendo e que estavam contentes porque os patrões começaram a sentir medo. Alguns trabalhadores nos escreveram – pessoal dos conselhos operários. Aparentemente, os gerentes ficaram muito irritados quando os panfletos foram distribuídos, ameaçaram e advertiram por escrito os trabalhadores. Usualmente, ninguém distribui panfletos na frente ou dentro de call centers. Em alguns casos, membros de conselhos operários e líderes sindicais têm ficado nervosos porque incentivamos a auto-organização e “greves selvagens”. Eles só querem regular os conflitos e recrutar alguns membros. Nós não esperávamos que os panfletos iniciariam uma onda. Os conflitos nos call centers são numerosos, mas os trabalhadores não lidam com eles de maneira aberta. O que fazemos é colocar um espelho na frente dos olhos deles e dos nossos, e mostrar os métodos de intensificação do trabalho e divisão dos trabalhadores que estão sendo usados contra nós. E mostramos que as formas individualistas de recusa ao trabalho (dizer que está doente, trabalhar devagar etc.) estão baseadas numa contradição fundamental que só pode ser solucionada coletivamente e de uma modo revolucionário. 8. Pelo menos em um caso, em Medion em Muelheim, o sindicato hbv, (sindicato do comércio, banco e segurança) tem tentado reagir a seus panfletos formando conselhos operários. O que vocês têm feito quanto a isso? O que vocês pensam dos conselhos operários? Poucos dias depois de termos distribuído nosso primeiro panfleto, o sindicato hbv convocou uma assembléia para organizar a eleição de um conselho operário. Supostamente, isso teria sido planejado muito antes. Nós distribuímos outro panfleto, contra as ilusões que estão ligadas ao conselho operário. Não importa se um conselho operário é controlado pela gerência - como parece ser o caso em Medion - ou se ele se apresenta como militante. A função dos conselhos operários é representar os interesses dos trabalhadores, ou seja: controlá-los e acalmá-los. As pessoas devem procurá-los quando tiverem problemas, reclamar... tudo corre ordenadamente e de forma legal - e a gerência percebe imediatamente quando algo ocorre e pode reagir. Ou, então, para obter uns poucos minutos de intervalo, instalações mais confortáveis etc. Mas nós queremos algo mais. 9. Quais formas de organização vocês pensam? A auto-organização dos trabalhadores nos locais de trabalho, de estudo e de moradia etc. A força dos trabalhadores reside na habilidade de se unir imediatamente - com base em sua cooperação no trabalho - e de lutar contra as condições de trabalho e medidas de gestão. Isto pode ocorrer de maneira aberta, como greve selvagem; ou camuflada, como “operação padrão”. Para os patrões, o tempo e a forma de reação não é previsível, porque geralmente eles não têm com quem negociar. Baseada nessas ações auto-organizadas, uma crítica fundamental do trabalho e da exploração pode se desenvolver, rejeitando a mediação dos conselhos operários e sindicatos, e discutir a possibilidade de uma forma diferente de produção e de vida. Isso não ocorre automaticamente, mas aqui há uma chance... 10. O que vocês fazem com os colegas que respondem aos panfletos? Isso depende: nós discutimos com os trabalhadores nas empresas onde trabalhamos, e vemos como começar algo com eles. Aos companheiros de outras empresas, nós propomos que se unam com os trabalhadores de lá e achem uma maneira de mudar a situação. Mas não existe um modo geral de responder isso. Quando as pessoas estão interessadas numa certa cooperação, nós nos encontramos com elas para discutir. 11. Como vocês definem seu próprio papel? Como já foi dito, nós não queremos - e não podemos - produzir lutas a partir do nada. Nós podemos organizar a difusão de informes de experiências e sobre as lutas; podemos apoiar certas atitudes ou formas de lutas dos trabalhadores, criticar e fazer propostas. Isso é o que estamos tentando fazer com os panfletos e com o site. 12. Talvez existam leitores que trabalham em call centers e queiram apoiar sua iniciativa. Vocês precisam de apoio e, caso sim, onde e como? Nós propomos três coisas: primeiramente, que as pessoas escrevam reportagens sobre a situação em seus locais de trabalho etc., e contribuam com elas para a discussão. Nosso foco são os call centers, mas acabamos de publicar um panfleto sobre a situação numa fábrica de canetas na Inglaterra, porque queremos juntar experiências de diferentes setores. Em segundo lugar, precisamos de informações sobre call centers e outras empresas: recortes de jornal, panfletos, fotos etc. E, finalmente, as pessoas podem distribuir nossos panfletos em call centers, passá-los para trabalhadores de call centers, discutir os panfletos com eles etc. 13. Como as pessoas podem contatar vocês? A maneira mais fácil é através do e-mail: hotlines@free.de . Ou enviando cartas para: hotlines, c/o Fabrik Grabenstrasse 20, 47057 Duisburg. Os panfletos, reportagens sobre call centers e outras contribuições para a discussão estão no site: www.free.de/prol-position . Biblioteca virtual revolucionária

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