quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O MASSACRE DE BARCELONA

O MASSACRE DE BARCELONA * Grupo de Trabajadores Marxistas México, D.F., Mayo de 1937. Uma lição para os trabalhadores do México! No México não deve repetir-se a derrota sofrida pelos trabalhadores da Espanha! Todos os dias nos dizem que vivemos numa república democrática, que temos um governo obreirista, que este governo é a melhor defesa contra o fascismo. Os trabalhadores da Espanha pensavam que viviam numa república democrática, que tinham um governo obreirista, que este governo era a melhor defesa contra o fascismo. Enquanto os trabalhadores não estavam atentos, tendo mais confiança no governo capitalista que em sua própria força, os fascistas, sob as vistas do governo, prepararam o golpe do mês de julho do ano passado - precisamente como o governo de Cárdenas permite aos Cedillo, Morones, Calles, etc, prepararem seu golpe, enquanto adormece os trabalhadores com sua demagogia "obreirista". Como foi possível que os trabalhadores espanhóis em julho do ano passado não entendessem que o governo antifascista os havia traído, permitindo a preparação do golpe fascista? E por que os trabalhadores do México não tiraram nenhum proveito dessa experiência dolorosa? Porque o governo da Espanha habilmente continuou sua demagogia e se pôs à frente dos trabalhadores, enganando-os outra vez com a consigna: O único inimigo é o fascismo! Tomando a direção da guerra que os trabalhadores haviam começado, a burguesia a converteu de guerra classista em guerra capitalista, na qual os trabalhadores deram seu sangue em defesa da república de seus exploradores. Seus líderes, comprados pela burguesia, inventaram a consigna: Nenhuma exigência de classe, enquanto não tivermos vencido os fascistas! E durante nove meses de guerra os trabalhadores não organizaram uma só greve, permitindo ao governo dissolver seus comitês de base, que haviam surgido nos dias de julho, e subordinar as milícias operárias aos generais da burguesia. Sacrificaram sua própria luta para não prejudicar a luta contra os fascistas. Trabalhadores de Barcelona: Haveis lutado magnificamente! Porém haveis perdido. A burguesia conseguiu isolar-vos. Vossa força ainda não foi suficiente. Trabalhadores da retaguarda: Deveis lutar juntos com os companheiros na frente, juntos contra o mesmo inimigo: não como “vossa” burguesia quer, contra o exército de Franco, mas contra a própria burguesia, seja fascista ou antifascista! Deveis enviar agitadores para a frente com as consignas: rebelião contra “nossos” generais! Fraternização com os soldados de Franco, em sua maioria camponeses que caíram nas redes da demagogia fascista, porque o governo da Frente Popular não cumpriu sua promessa de dar-lhes terra! Luta comum de todos os oprimidos, sejam operários ou camponeses, espanhóis ou mouros, italianos ou alemães, contra nosso inimigo comum: a burguesia espanhola e seus aliados internacionais, o imperialismo! Para esta luta, necessitais de um partido que seja verdadeiramente vosso. Todas as organizações de hoje, dos socialistas aos anarquistas, estão a serviço da burguesia. Nos últimos dias, em Barcelona, colaboraram mais uma vez com o governo para restabelecer “a ordem” e “a paz”. Criar este partido classista e independente é a condição de vosso triunfo! ADIANTE CAMARADAS DE BARCELONA, POR UMA ESPANHA DOS CONSELHOS OPERÁRIOS! FRATERNIZAÇÃO COM OS CAMPONESES ENGANADOS NO EXÉRCITO DE FRANCO! A LUTA É CONTRA VOSSOS OPRESSORES COMUNS, SEJAM FASCISTAS OU ANTIFASCISTAS! ABAIXO O MASSACRE DE OPERÁRIOS E CAMPONESES, POR FRANCO AZAÑA E COMPANYS! TRANSFORMEMOS A GUERRA IMPERIALISTA NA ESPANHA EM GUERRA CLASSISTA! Por que Cárdenas apoia Azaña? Para reforçar a confiança dos trabalhadores em seu proletarismo, o governo de Cárdenas tem interesse em que os trabalhadores do México não entendam que o governo antifascista da Espanha havia permitido aos fascistas preparar seu golpe. Porque, se entenderem o que se passou na Espanha, entenderão também o que está se passando no México. Por esta razão, Cárdenas deu seu apoio ao governo legalmente constituído de Azaña e mandou-lhe armas. Demagogicamente, disse que estas eram destinadas a defesa dos trabalhadores contra os fascistas. As últimas notícias da Espanha destruíram para sempre essa mentira: o governo legalmente constituído de Azaña utilizou as armas para matar os heróicos trabalhadores de Barcelona quando eles se defenderam contra o governo que quis desarmá-los, no dia 4 de maio deste ano! Hoje como ontem, o governo de Cárdenas ajuda o governo legalmente constituído de Azaña, agora não contra os fascistas, mas sim contra os trabalhadores. A opressão sangrenta que seguiu a insurreição dos trabalhadores de Barcelona mostrou a verdadeira situação na Espanha, como um relâmpago ilumina a noite. Assim, ficam destruídas todas as ilusões de nove meses. Em sua luta feroz contra os trabalhadores de Barcelona, Gerona, Figuera e outros lugares, o governo antifascista se desmascarou! Não apenas mandou sua polícia especial, seus guardas de assalto, suas metralhadoras e tanques contra os trabalhadores, como também libertou presos fascistas e retirou da frente regimentos “leais”, debilitando-se e se expondo ao ataque de Franco! Estes fatos mostraram que o verdadeiro inimigo do governo da Frente Popular não são os fascistas, mas os trabalhadores. Trabalhadores do México: Quando despertareis? Deixareis a burguesia mexicana fazer o mesmo que a da Espanha? NÃO! Necessitaremos também de nove meses de matança para entender que fomos enganados? NÃO! Vamos aprender a lição de Barcelona! O que a burguesia espanhola fez somente foi possível porque todos os líderes dos trabalhadores os traíram, como no México, relegando a defesa de seus interesses à magnanimidade do governo “obreirista”, e porque haviam convencido os trabalhadores de que a luta contra o fascismo demandava uma trégua com a burguesia republicana. Os líderes sociaslistas do México abandonaram a luta pelas conquistas econômicas e entregaram os trabalhadores de mãos atadas ao governo. Todos os organismos sindicais e políticos do México apóiam o envio de armas pelo governo de Cárdenas aos assassinos de nossos companheiros de Barcelona. Todos dão seu apoio à demagogia do governo. Nenhuma organização expõe o verdadeiro papel do governo de Cárdenas. Se os trabalhadores do México não criam um partido verdadeiramente classista e independente, teremos que sofrer o mesmo fracasso que os trabalhadores da Espanha! Só um partido do proletariado independente pode se contrapor ao governo, que separa os camponeses dos operários, com sua distribuição farsante de alguns pedacinhos de terra em La Laguna, para fazê-los enfrentar-se contra os trabalhadores industriais. A luta contra a demagogia do governo, a aliança com os camponeses e a luta pela revolução proletária no México sob a bandeira de um novo partido comunista será a garantia de nosso triunfo e a melhor ajuda a nossos irmãos proletários da Espanha! ALERTA TRABALHADORES DO MÉXICO! NÃO VOS DEIXEIS SURPREENDER PELO FALSO OBREIRISMO DO GOVERNO! NEM MAIS UMA ARMA AOS ASSASSINOS DE NOSSOS IRMÃOS PROLETÁRIOS DA ESPANHA! LUTEMOS POR UM PARTIDO CLASSISTA INDEPENDENTE! ABAIXO OS GOVERNOS DE FRENTE POPULAR! VIVA A DITADURA DO PROLETARIADO! Grupo de Trabajadores Marxistas, México, D.F., Mayo de 1937. * NOTA O GRUPO DE TRABALHADORES MARXISTA: PAUL KIRCHHOFF E O GRUPO DE TRABALHADORES MARXISTAS DO MÉXICO. Politicamente isolada, a Esquerda Comunista Internacional (bordiguista) não tinha existência real a não ser em dois países (França e Bélgica). Foi então que com grande surpresa recebeu, em 1937, do longíngüo México – com o qual nunca havia feito nenhum contato -, um panfleto denunciando “o massacre de Barcelona” de maio, assinado pelo “Grupo de Trabalhadores Marxistas” (GTM) do México, e completamente coincidente com as posições de Bilan e Prometeo. O panfleto atacava o governo de Cárdenas – que era o mais entusiasmado defensor da Frente Popular espanhola e enviava armas aos republicanos. A ajuda do governo, camuflada sob um “falso obreirismo“, havia contribuído ao massacre “de nossos irmãos espanhóis”. “No México” não devia “se repetir o fracasso sofrido pelos trabalhadores da Espanha!”. Os operários mexicanos deviam lutar portanto “por um partido classista independente”, contra a Frente popular, pela “ditadura do proletariado”. Só “a luta contra a demagogia do governo, a aliança com os camponeses e a luta pela revolução proletária no México, sob a bandeira de um novo partido comunista” seriam “a garantia de nosso triunfo e a melhor ajuda a nossos irmãos proletários espanhóis”. Como a Esquerda Italiana e belga, pediam aos trabalhadores da Espanha que rompessem com os socialistas, stalinistas, anarquistas, todos eles “a serviço da burguesia”, e que transformassem “a guerra imperialista em guerra de classes”, mediante a fraternização dos exércitos e a constituição de uma “Espanha dos conselhos operários”. Essa convergência de posições demonstrava indubitavelmente que o “grupo de trabalhadores marxistas” conhecia bem a orientação da Esquerda Italiana. Algumas semanas mais tarde, a Esquerda italiana e belga – e também "L'Union communiste" da frança – receberam uma circular do GTM denunciando da campanha de calunias que contra este havia feito a Liga Comunista (trotskista) do México. Os militantes do GTM eram mencionados por seus nomes na IVª Internacional como “agentes do GPU” e “agentes do fascismo”. Num país em que nem o partido “comunista” nem a polícia vacilavam em recorrer ao assassinato, isso os fazia correr um grande perigo, pois indiscutivelmente defendiam com a maior firmeza e energia a causa do proletariado, seja qual fosse o juizo que provocavam suas posições políticas. O número de agosto de 1937 de IVª Internacional não vacilava em escrever as acusações mais graves: ”... os indivíduos citados, e sobretudo o provocador Kirchoff, fazem um chamamento para não defender os trabalhadores espanhóis sob o pretexto de que exigir mais armas e munições para as milícias antifascistas significa defender a burguesia e o imperialismo. Para essas pessoas que se cobrem com uma máscara de ultra-esquerdistas, a essência do marxismo consiste... no abandono das trincheiras pelos operários que combatem na frente. Deste modo, o alemão e seus colaboradores Garza e Daniel Ayala se desmascaram como agentes do fascismo. Que o sejam consciente ou inconscientemente, pouco importa, dadas as conseqüências”. Bilan e Communisme enviaram uma carta aberta ao Centro pela IV ª Internacional e ao PSR trotskista da Bélgica, para pedir explicações. Este texto mostrava a trajetória dos militantes do grupo e denunciava a campanha de calúnias da Liga Comunista e do PCM. Explicava as posições do grupo de trabalhadores marxistas sobre a Espanha e sobre a guerra sino-japonesa. A carta – que não teve resposta – demostrava que o fundo da denúncia era política e que os métodos de Trotsky e de seus seguidores eram estranhamente calcados nos métodos dos stalinistas. A carta concluía que “fica perfeitamente claro que os camaradas mencionados foram denunciados como provocadores e agentes do fascismo sobretudo por que haviam adotado uma atitude internacionalista análoga a que proclamaram os marxistas durante a guerra de 1914-18” (Bilan nº 44, outubro-novembro de 1937). De fato, todos os militantes que a organização trotskista citava não eram absolutamente desconhecidos para eles. Garza e Daniel Ayala provinham precisamente da Liga Comunista do México. Haviam rompido com ela devido a sua defesa (pela Liga) do caráter “progressista” das nacionalizações do governo Cárdenas, por seu apoio ao governo republicano espanhol, e por sua atitude na guerra sino-japonesa, na qual apoiava o governo chinês. Quanto ao “provocador Kirchoff” – conhecido pelo pseudônimo Eiffel -, na realidade se chamava Paul Kirchhoff e tampouco era desconhecido no movimento revolucionário. Este, que a Liga Comunista chamava “o alemão”, “agente de Hitler”, era desde 1920 membro da Esquerda Comunista Alemã. Membro do KAPD desde sua fundação e da AAU de Berlim, organização “irmã”, havia participado até 1931 na atividade do Partido Comunista Operário. Etnólogo de profissão, nesse ano havia abandonado a Alemanha, chegando aos EUA via Paris onde trabalhou no "Musée de l'Homme". De 1931 a 1934, havia sido membro dos IKD no exílio, assim como do departamento latino-americano da Oposição de Esquerda internacional. Em setembro de 1934, foi um dos quatro membros (sobre sete) da direção dos IKD no exílio que se negaram a fazer entrismo na social-democracia e que qualificaram esta política como de “uma capitulação ideológica completa frente à IIª Internacional”. Depois de romper com Trotsky, foi membro do escritório da RWL de Oehler até 1937. Expulso dos EUA, teve que se refugiar no México. Em contato com a RWL – que ele representava ante a Liga Comunista trotskista – ficou em minoria e defendeu as posições da Esquerda italiana dentro desta organização. A propósito da Espanha, apresentou uma moção que proclamava a quebra da RWL: “Os acontecimentos na Espanha puseram a prova cada organização. Nós devemos reconhecer que não superamos esta prova; o que quer dizer que nosso primeiro dever é o de estudar as origens de nossa quebra.” A moção Eiffel (assim como a da minoria da LCI belga) afirmava claramente uma ruptura: “... a guerra da Espanha começou como uma guerra civil, mas foi rapidamente transformada em guerra imperialista. Toda estratégia da burguesia mundial e espanhola consistiu em realizar essa transformação sem mudar as aparências e fazendo os trabalhadores crer que combatiam por seus interesses de classe. Nossa organização manteve esta ilusão e defendeu a burguesia espanhola e mundial dizendo “a classe operária espanhola deve marchar com a frente popular contra Franco, mas deve se preparar para voltar amanhã seus fuzis contra Caballero.” (En L´internationale, nº 33, 18/12/1937, "La RWL et ses positions politiques"). Ao romper com a RWL, Eiffel e um pequeno grupo de operários e de ex-militantes trotskistas mexicanos, se constituíram em grupo político independente. A partir de 1938, publicaram seu órgão de imprensa: Comunismo, que manteve até a guerra mundial dois ou talvez três números até sua provável desaparição na voragem da guerra mundial. Se o GTM tivesse se constituído na Europa, provavelmente teria se unido organizativamente à Esquerda Comunista Internacional. A distância geográfica condenava o pequeno grupo mexicano a sobreviver em um país onde triunfava “o anti-imperialismo” e o nacionalismo “obreirista” de Cárdenas. Comunismo, para sobreviver, esteve em contato epistolar com as frações italiana e belga. Reconhecia que era “o trabalho destes dois grupos o que (havia-lhe) inspirado em (seu) esforço para criar no México um núcleo comunista”. “Estimulados por este apoio internacional, e pelas cartas que os camaradas italianos e belgas nos enviaram”, os militantes do GTM se propunham a fazer, como eles, um “balanço” crítico da Internacional Comunista, com o fim de criar “bases sólidas para o futuro Partido Comunista do México”. A esquerda comunista mexicana mostrou uma grande valentia nos terrenos teórico e político, indo decididamente contra a corrente num país em que prodigalizavam severas ameaças a todo grupo que se situasse num terreno internacionalista. Comunismo atacava como reacionárias – diferentemente dos trotskistas e estalinistas – as nacionalizações do petróleo no México “na fase imperialista do capitalismo”, em que “não há uma só medida progressista por parte da sociedade capitalista em decomposição e de seu representante oficial: o Estado capitalista”. O reforço deste Estado não podia ter mais que um único objetivo: salvar a propriedade global do capitalismo nacional na decadência imperialista e protegê-lo “contra “seus” operários e camponeses”. A nacionalização do petróleo, além do mais, não havia dado fim à dominação do imperialismo estrangeiro. Suplantando os interesses ingleses, Cárdenas havia reforçado a influência americana sobre o Estado mexicano. Retomando a análise de Rosa Luxemburgo, o GTM rechaçava qualquer defesa das “lutas de libertação nacional”; “inclusive nos países oprimidos os trabalhadores não podiam ter pátria nem interesses nacionais para defender”. “Um dos princípios fundamentais que deve guiar toda nossa tática sobre a questão nacional”, continuava Comunismo, ”é o antipatriotismo”; “todo aquele que proponha uma nova tática que vá contra este princípio abandona as fileiras do marxismo e passa a servir o inimigo”. As posições do GTM apareceram para a esquerda italiana como “um raio de luz” que provinha de um país longínquo, nas piores condições de existência e demostravam que suas posições não eram o simples fruto de suas mentes, mas de todo um movimento de esquerda comunista que ultrapassava os estreitos limites da Europa. * * * Sobre a trajetória de Paul Kirchhoff (1900-1972), além do texto citado na nota precedente, algumas indicações são dadas nas Obras completas de Trotsky, tomos 4 e 6, 1979. Suas posições na RWL estão expostas em L’Internationale, no 33, 18-12-1937(10). Depois de 1939, é impossível conhecer a trajetória política dos militantes do Grupo de Trabalhadores Marxistas. Não se conhece nada mais que a data da morte de Kirchhoff (os principais textos de Comunismo tem sido traduzidos em L’Internationale, no 34 e 39, Comunismo nº 4, Bilan nº 43 e reproduzidos na Revista intemacional de la CCI). Mas, depois de 1940, tornou-se um famoso etnólogo da América Central, professor da Escuela nacional de Antropología de México. Na Espanha, podem ser lidas duas antologias de artigos sobre a guerra na Espanha, aparecidos na revista Billan : Bilan, textos sobre a revolución española, 1936-1938, Barcelona, Etcétera, 1978; España 1936: Franco y la República masacran al proletariado; textos de Bilan sobre la guerra en España, Valencia, CCI, 1986; Para uma boa visão do comunismo de conselhos americano (Mattick), ver Expectivas fallidas (España 1934-1939) - El movimiento consejista ante la guerra y revolución españolas : artículos y reseñas de Korsch, Mattick…, Alrede ediciones, Barcelona, 1999 (com uma introdução de Cajo Brendel). Ph. Bourrinet Biblioteca virtual revolucionária

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