quarta-feira, 17 de outubro de 2012
CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA - Capítulo 14
Capítulo 14 de
« BILAN »: CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA
Jean Barrot
A REVOLUÇÃO PROLETÁRIA
A posição de La Révolution prolétarienne, mais complexa, decorre de seu postulado sindicalista, resumido por J. Barrué, em 1935: "Não sacrificamos a alegria do coração, um sindicalismo mesmo imperfeito cuja unidade, quase realizada [na França, em 1936], nos custou muitos esforços..." [1]. Documentados, os artigos de L. Nicolas sobre a Espanha fornecem o material para uma crítica do anarquismo, do sindicalismo e da guerra que o próprio Nicolas não pode efetuar. É verdade, porém, que buscam todas as desculpas possíveis para a C.N.T., sem se dar conta do absurdo de sua posição. Como Louzon que escreve, em agosto de l936: "O Estado, na hora atual, é a C.N.T." [2] A R.P. continuará se espantando sempre com os atos pouco revolucionários da C.N.T.: mas não há nada de surpreendente se ela não faz um uso revolucionário de um aparelho construído para a luta reformista (mesmo violenta, se for o caso).
Nicolas quer garantir as reformas na retaguarda para que o front seja vitorioso: "à primeira vista, poderia parecer ocioso examinar os problemas da nova organização social enquanto subsistir o perigo de ver esmagadas pela bota fascista todas as tentativas dirigidas para a sociedade nova. Todavia, mesmo que o fator moral tenha uma importancia primordial na guerra civil, é importante saber em que medida se mantêm, na retaguarda, as conquistas do proletariado..." [3]. A primeira frase responde ao argumento: "Ganhar a guerra, sobretudo". A segunda explica que se trata de dar aos operarios boas razões para apoiar o Estado legal. Nicolas sabe que "o proletariado espanhol combate em duas frentes" [4], mas não tira a conclusão que se impõe sobre a natureza do conflito e que é a única saída para o proletariado. Ele descreve o desenvolvimento da situação sem esclarecer a sua dinámica. Portanto, suas informações (aliás, exatas) servem ao objetivode desmascarar a infamia dos stalinistas e, mais genéricamente, dos "partidos políticos", ou mesmo para criticar a C.N.T., mas não denunciam a política antifascista.
Pacifista por princípio, a R.P. recusa toda guerra contra Hitler que será "a mais tipicamente imperialista dos últimos 150 anos" [5], mas pede ajuda (armas etc.) para a república española. Denuncia a duplicidade do Estado francês, não a natureza do Estado espanhol. Inclusive, abre sua imprensa para o embaixador da Espanha em Paris [6]. Para uma franja radicalizada do proletariado, da qual grupos como a R.P. são uma expressão, a Espanha serve de pretexto para a justificação da guerra (futura) contra o fascismo. Recusando a União Sagrada, mesmo contra a Alemanha nazista, os proletários que ainda resistem passam a aceitá-la, como "mal menor" se comparada com a vitória fascista. O antifascismo, dirigido para a Espanha, reforça o apoio à Frente Popular por numerosos grupos de extrema-esquerda na França. Afinal, Blum é menos ruim que Franco. Então, por exemplo, A. Ferrat quer "mudar de alto a baixo a política do governo Blum" para forçá-lo a ajudar a Espanha republicana. É assim que, sempre clamando pelo impossível, jamais cessarão de denunciar a "frouxidão" dos democratas antifascistas [7].
A grande função ideológica da guerra de Espanha é polarizar os vacilantes (em todos os países onde a resistência proletária ainda vive, mas também em outros: da Rússia à Alemanha e Itália, pasando pelas democracias) em torno da alternativa democracia / fascismo, apresentada em cada campo como a única resposta ao totalitarismo "plutocrático" ou "fascista". Aqueles que apoiaram - desde o início dos anos trinta, e mais ainda desde a reaproximação da U.R.S.S. com as democracias ocidentais - uma forte (ainda que confusa e mesmo nefasta) propaganda antiguerra oscilam no campo democrático. Os mais inconsistentes teoricamente desabam primeiro, apesar de seu radicalismo superficial. É o caso dos anarquistas: "Sabemos que a Espanha de Negrin não é a que desejamos, nem a que desejam os operários espanhóis. Temos combatido seus erros e desmandos. Mas já não é mais uma questão de governo, é o futuro do movimento operário..."
"Teu futuro, povo francês, decide-se em muitos lugares do mundo. É na Espanha, porém, que deves manter tua atenção, ela espera tua saudação, não hesites mais, lança-te no conflito, trata-se da sorte do proletariado espanhol, da liberdade e da manutenção da paz!" [8]
Enfim a extrema-esquerda se junta à mobilização para a guerra preparada pela Frente Popular. Como em 1914, faz-se necessário abdicar de toda pretensão revolucionária para salvar a civilização da barbárie. Contudo, para os comunistas, não há diferença essencial entre os conflitos de 1914-1918 e 1939-1945.
Notas:
[1] No. 206, 10 setembro 1935. Os mesmos que, em seguida, deploram a manipulação «comunista» (= do P.C.F.) da C.G.T. reunificada em 1936. cf. por exemplo o no. 263, 25 janeiro 1938.
[2] No. de 10 agosto 1936, citado por Alba, op. cit., p. 113.
[3] La Révolution Prolétarienne, no. 235, 25 novembro 1936. Os artigos de Nicolas foram reproduzidos em Les révolutions en Espagne, Belfond.
[4] No. 243, 25 março 1937.
[5] No. 288, 10 fevereiro 1939.
[6] No. 287 et 288.
[7] Le Drapeau Rouge, 25 dezembro 1936.
[8] Le Libertaire, in L’Internationale, no. 36, 20 abril 1938.
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