quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA - Capítulo 15

Capítulo 15 de « BILAN »: CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA O ANARQUISMO DE ESQUERDA Apesar das inúmeras reações entre os anarquistas contra a orientação da C.N.T.-F.A.I., nenhuma delas se liberou da confusão fundamental sobre a questão do poder. Em Guerre de Classes, cujo primeiro número foi publicado em novembro de l936, Camilo Berneri tentava resistir no interior da corrente anarquista de esquerda. Berneri partia da idéia de uma revolução que se desenvolvia e que deveria ser apoiada. Mas sustentar a Espanha revolucionária significava manter o Estado atual, ou seja: agir à margem dele sem combatê-lo. Berneri concluía apelando às massas para que pressionassem o Estado existente. Ao mesmo tempo (eis a contradição), mostra que o governo age contra a revolução: mas ele denuncia “o governo” não o Estado. O resultado é a busca de uma conciliação impossível entre a participação no Estado e a exigência revolucionária: “O ingresso dos elementos da C.N.T. nos órgãos da polícia não foi suficientemente compensado por uma autonomia que teria permitido rapidez e discrição...” [1]. Sua polêmica com F. Montseny ficou célebre [2]. Ele dialoga porque ela é anarquista, apesar de ser ministra. Ele age - imitando os trotskistas, que tentam “encostar na parede” os dirigentes “operários” - como se ela pudesse escolher. Berneri é vítima da ideologia revolucionária (um de seus artigos se intitula Madri, cidade sublime). Guerra e Revolução ilustra bem seu deslizamento teórico [3]. Antes, diz: É necessário fazer a revolução. Depois, contemporiza: Há uma revolução que é necessário preservar. Donde, é primordial lutar contra Franco etc. É certo que ele adverte quanto à “contra-revolução”. Mas, se o proletariado é atacado em duas frentes (por Franco e pela República), deve-se concluir que não haverá revolução enquanto os proletários apoiarem uma das duas formas de contra-revolução contra a outra. Berneri fala de contra-revolução como uma ameaça quando ela é uma realidade: daí seus repetidos alarmas. Ele protesta contra os atos não-revolucionários do Estado, mas poderia o Estado agir de outra maneira? O grupo “Os Amigos de Durruti”, extensão radical da C.N.T., é também significativo, começando pelo nome. Ele quer tomar o símbolo de Durruti das organizações anarquistas oficiais que dele fizeram uma bandeira (como os stalinistas com Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, até o começo dos anos trinta), e não criticar o símbolo (cf. “Espanha: guerra ou revolução?”). Ou seja: pretendem continuar o “verdadeiro” anarquismo contra os anarquistas oficiais. Em julho de 1937, Os Amigos de Durruti diziam que o impulso revolucionário se mantivera em maio de 1937, apesar da “ausência de programa concreto e de realizações imediatas”. Em 1936 como em 1937, o “erro fundamental” da C.N.T. foi o medo de avançar e a aceitação da preponderância da pequena burguesia. Os Amigos de Durruti, ao contrário, defendem “a necessidade de uma junta revolucionária, sob o controle econômico dos sindicatos, e uma estrutura livre para as municipalidades”. São necessários “um programa e fuzis” [4]. Em agosto de 1937, a C.N.T. e a F.A. I. fracassaram por que lhes faltava “a precisão teórica que nosso grupo propõe” [5]. O grupo diagnostica, pois, uma insuficiência da “direção”. À maneira dos trotskistas, diante do P.S. e do P.C., ele se concebe como parte da organização “operária” deficiente que quer recuperar insuflando-lhe teoria e vontade de combater. O animador do grupo escrevia para o jornal da C.N.T. em Barcelona. Pode-se ter uma idéia da fraqueza proletária quando se considera que Os Amigos de Durruti são, com uns poucos trotskistas (em torno de Munis) e uma ínfima minoria do P.O.U.M. e da C.N.T., os únicos elementos organizados e resolutos em maio de 1937. O programa do Manifesto da União Comunista (início de junho, 1937) era letra morta: “Para derrotar franco, é necessário derrotar Companys e Caballero. Para vencer o fascismo, é necessário esmagar a burguesia e seus aliados stalinistas e socialistas. É necessário destruir, de cima a baixo, o Estado capitalista e instaurar um poder operário surgido dos comitês de base dos trabalhadores. O apoliticismo anarquista fracassou... Para vencer o bloco da burguesia e seus aliados: stalinistas, socialistas e dirigentes da C.N.T., os operários têm de romper já com os traidores de todo tipo.” O Manifesto reconhece que “A unidade antifascista nada mais tem sido do que submissão à burguesia”. Porém, é muito favorável ao P.O.U.M. [6]. Notas: [1] Guerre de classes en Espagne, Spartacus, Reimpressão La Vieille Taupe, 1972, p. 17. [2] Guerre de classes en Espagne, Spartacus, Reimpressão La Vieille Taupe, 1972, pp. 35-42. [3] Guerre de classes en Espagne, Spartacus, Reimpressão La Vieille Taupe, 1972, pp. 42-5. [4] « Une théorie révolutionnaire! », L’Ami du Peuple, no. 5, in L’Internationale, no. 33, 18 dezembro 1937. [5] « Nécessité d’une junte révolutionnaire », L’Internationale, no. 6, id. [6] Lorenzo, op. cit., p. 270. Próximo capítulo: ANTI-STALINISMO Biblioteca virtual revolucionária

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