quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA - Capítulo 21

Capítulo 21 de « BILAN »: CONTRA-REVOLUÇÃO NA ESPANHA QUESTÃO NACIONAL Para Bordiga, a fase de constituição dos Estados nacionais estava concluída, desde 1871, na Europa ocidental. Mas o nascimento de estados nacionais em outras “áreas” seria progressista – ou seja, favorável à luta do proletariado –, porque abalaria o imperialismo e desenvolveria as forças produtivas, portanto, a luta de classes. Ora, a propósito de Espanha, Bilan partia da noção de um período novo, aberto em 1914-1918: a decadência do capitalismo. Não desempenhando mais um papel progressista, o capitalismo tampouco desenvolverá as forças produtivas sem provocar crises e guerras. A formação de novos estados apenas fragmentaria o proletariado mundial em blocos nacionais, atrelados à sua própria burguesia. O número 7 de Bilan publica um texto de Bordiga sobre a questão nacional e não ataca Lênin no estilo de Rosa Luxemburgo, mas considera superada a tese leninista adotada pela Terceira Internacional e mantém suas reservas, até mesmo diante de Marx. Citemos, apenas, um extrato do Problème des Minorités Nationales, publicado no número 14 (dezembro-janeiro de 1934): “O período de desenvolvimento do capitalismo, no fim do século XIX, evidenciou a impossibilidade de resolver os conflitos nacionais, e mais particularmente o direito de autodeterminação dos povos, senão pela revolução proletária ou pela guerra imperialista. Até a guerra de 1914, assistimos (mesmo nos países coloniais) a uma expansão da luta de classes entre exploradores e explorados, e o problema nacional aparecia unicamente como arma da burguesia colonial para frear a luta do proletariado dirigida contra ela, bem como para melhorar sua situação particular frente ao capitalismo opressor. No período imperialista (considerado segundo o desenvolvimento mundial e englobando também os países atrasados que não podem ser excluídos dessa época histórica), o dilema geral de todas as situações é, como se sabe, guerra ou revolução proletária. Portanto, não existe nenhum outro desdobramento para as situações históricas que podem se apresentar: a acuidade atingida pela luta de classes, por um lado, e o desenvolvimento das forças produtivas, por outro lado, suprimem toda perspectiva de ‘solução intermediária’. O problema nacional, posto nestas condições, limitado por esse período, não pode mais utilizar argumentos que tiveram uma certa importância em 1848.” Bilan não faz qualquer diferença entre as áreas euro-norte-americana e as outras, em particular aquelas que Bordiga denominava dos ‘povos não-brancos’ [1]. Um dos pontos salientados por Bilan é a integração necessária dos movimentos nacionais na órbita dos grandes conflitos imperialistas (Etiópia, China etc.). Bordiga retomará esse argumento. Pode-se, dizia ele, apoiar os movimentos de libertação nacional, mesmo se eles caem num campo ou noutro. Aliás, o derrotismo revolucionário de 1914 implicava um risco desse tipo: atuando pela derrota de seu país, cada revolucionário reforça o Estado inimigo. Ora, o derrotismo revolucionário é mais do que uma posição – obrigando também a repensar o uso de tal palavra-de-ordem, em 1936, na Espanha (cf. o § “A Liga dos Comunistas Internacionalistas”) [2]. A esquerda de Zimmerwald concebia o derrotismo revolucionário como um meio de acelerar a transformação da guerra imperialista em guerra civil. Efetivamente, o comando e as condições da guerra, em 1916-17, exigiam uma retomada das lutas de classes. Para Lênin, se uma minoria mesmo ínfima afirmasse essa posição, não seria ‘ por princípio’ ou para ‘salvar a honra’, mas como tarefa e preparando o futuro, a fim de que, na reemergência radical, essa atitude servisse para clarificar e polarizar as posições. Isso não poderia ocorrer na ausência de um movimento no resto do mundo, como na Etiópia de 1936 ou no Vietnam de 1975. O contexto internacional era diferente. As metrópoles que fizeram a guerra de 1914-1918 dominavam o mundo. No Vietnam, norte e sul não faziam ´sua´ guerra, mas a de dois blocos imperialistas, ainda que a estrutura social interna do país em questão servisse como detonador. O proletariado vietnamita era muito frágil. Em 1914, o proletariado europeu havia sido derrotado sem ser anulado. Os proletários etíopes de 1936 e vietnamitas de 1975 não lutavam somente contra a sua burguesia, mas contra o capital mundial. A comparação com 1914 é impossível. Bilan insiste longamente no papel contra-revolucionário dos conflitos nacionais, onde o P.C. Internacionalista atual, mais ou menos bordiguista, vê ´barris de pólvora´prontos para explodir sobre as metrópoles imperialistas. Bilan publicou artigos econômicos tentando intermediar as teorias de Lênin e as de Rosa Luxemburgo. Aproximava-se, nessas questões, da posição da ‘esquerda alemã’ que, como Luxemburgo, via nos movimentos de autodeterminação nacional obstáculos à luta do proletariado. Seria absurdo rotular de ‘esquerda alemã’ a atividade dessa corrente da esquerda italiana naquela época, mas ela tentou ultrapassar os limites leninistas nos quais o P.C. da Itália e mais tarde a ‘esquerda italiana’ se viram encerrados. Reconhecendo as divergências com a esquerda alemã, não a lançava no ‘pântano’ anarco-sindicalista e acolhia alguns de seus textos, entre os quais o já citado resumo dos Princípios de Base... e um sobre Gorter. É compreensível, pois, porque o atual P.C. Internacionalista tenta minimizar Bilan como uma ‘pequena publicação de emigrados italianos’ [2 bis]. Acrescentemos, porém, que sua análise da guerra de Espanha falsificava indiretamente as perspectivas do grupo que publicava Bilan. Constatando que o capital utiliza as lutas operárias, canalizando-as para os conflitos entre capitalistas, deduz que as futuras guerras imperialistas surgirão, como a de Espanha, da recuperação das ofensivas proletárias parciais, subestimando as contradições propriamente econômicas que estão na origem dos conflitos imperialistas. Esta tese, subjacente e às vezes exposta em Bilan e Octobre, é desenvolvida a ponto de se tornar o essencial. Depois de 1938, exagerando na sua interpretação da guerra de Espanha, esse grupo (que desempenhava então um papel teórico e organizador chave, no pequeno movimento da esquerda italiana) concebeu uma teoria da ´economia de guerra´, segundo a qual as rivalidades entre países capitalistas tendiam a ser reduzidas, e não esperava uma guerra que não fosse de acontecimentos comparáveis aos de Espanha. Como geralmente acontece, uma grande lucidez frente às possibilidades de ação do capital conduz, se perdermos de vista a totalidade, a esquecer ou negar certas contradições essenciais (cf. REFORMA E REVOLUÇÃO). Esta posição não facilitou aos seus protagonistas a preparação da esquerda italiana para enfrentar o choque da guerra. Na qual, aliás, tiveram e só poderiam ter um ínfimo papel de clarificação teórica, quase que para uso interno. Notas [1] Cf. o texto da reunião de Florença, janeiro de 1958, publicado em italiano, La Vecchia Talpa, Nápoles, 1973. [2] Cf. as observações de Korsch sobre a guerra de 1939-1945, op. cit. [2 bis] Apresentação do Princípio Democrático, de Bordiga, reimpresso em Ed., P.C., 1971, p. 4. Próximo Capítulo: Revolução Política e Social Biblioteca virtual revolucionária

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